Com atrair e reter talento em restauração e hotelaria? Os estudantes do setor explicam
Na conferência Mercado de Trabalho: Que profissionais teremos amanhã?”, a AHRESP deu palco a dois estudantes de Gestão Hoteleira, que com base num estudo que desenvolveram indicaram as estratégias e soluções para reter talento no setor.
Carla Nunes
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Esta quarta-feira, a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) realizou a conferência Mercado de Trabalho: Que profissionais teremos amanhã?”, no Salão Nobre da Alfândega do Porto.
O evento, dividido em três painéis, debateu como atrair e reter profissionais no setor da restauração e hotelaria, quais as práticas no mercado de trabalho europeu e quais os condicionalismos na contratação de profissionais.
A palavra foi dada num primeiro momento a dois estudantes da licenciatura de Gestão Hoteleira da Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Politécnico do Porto, Catarina Guedes e André Cabete, que apresentaram um estudo onde se propuseram a rever o atual Contrato Coletivo de Trabalho, focado nas categorias profissionais e hierarquias do setor.
Para isso colocaram duas questões aos profissionais da área: “Considera que as funções que desempenha estão de acordo com a sua categoria profissional?” e “Entende que um novo figurino para as nomenclaturas das categorias e funções deve ser considerado no Contrato Coletivo de Trabalho?”
Para dar uma ideia do estudo, os estudantes escolheram uma resposta para cada questão.
Na primeira pergunta, a profissional entrevistada respondeu que sentia que “as categorias profissionais estão desatualizadas e algumas são desprestigiantes para certos cargos na hotelaria”, já que “realizo tarefas de gerência diariamente e estou como empregada de balcão”.
Na segunda questão, o profissional entrevistado considera que “deveria [ser considerado um novo figurino para as nomenclaturas das categorias e funções], principalmente porque a maioria das pessoas que trabalham na área fazem-no por gosto, e não por circunstância, e o facto de serem reconhecidas pelo seu cargo e saberem o que o mesmo significa para os outros e para eles, é o que mais os motiva a fazer um bom trabalho, às vezes mais do que um bom salário”.
Os resultados levaram os estudantes a considerar que “no que diz respeito às categorias profissionais e à sua designação, consideramos que têm, a montante, uma importância na atratividade do setor e, a jusante, vão ter impacto na retenção dos colaboradores”.
Concluíram também que o atual Contrato Coletivo de Trabalho está “desatualizado e desenquadrado para aquilo que são as exigências do mercado de trabalho hoje em dia”, pelo que “urge uma revisão”.
Os estudantes referem ainda que “existe um excesso de hierarquias – em alguns casos existe chefia, subchefia, colaborador de primeira e segunda categoria. A hierarquia é essencial nas organizações, mas em alguns casos, pode ser um entrave ao desenvolvimento”.
Checklist para atrair e reter profissionais no setor
Com base no seu estudo, os estudantes defenderam que para haver uma mudança na retenção de profissionais esta terá que começar, primeiro que tudo, dentro das empresas, com estratégias que envolvem questões salariais, planos de carreira e a perspetiva de uma visão de futuro para os colaboradores.
Para esta retenção contribui ainda a “teoria do contrato psicológico”, segundo a qual existe um princípio da reciprocidade, com a retribuição de parte a parte entre empresa e colaborador. Por fim, a gestão de carreiras é apontada como essencial para manter colaboradores, através de políticas de Employee Value Preposition como a melhoria do salário emocional e uma visão de verdadeira aposta na carreira.
No âmbito das soluções, os estudantes apontam seis pontos essenciais.
O primeiro prendeu-se com a disponibilização de benefícios gerais aos colaboradores hoteleiros, nomeadamente subsídios escolares para os trabalhadores com filhos e descontos nos produtos e serviços das próprias empresas.
Dentro desses descontos e serviços, os estudantes enfatizam a necessidade de atribuir recompensas financeiras – tais como prémios de produtividade, comissões e prémios por fidelização à organização – bem como de saúde e bem-estar, sejam através de parcerias com clubes de fitness e wellness, gabinete médico, seguro de saúde ou aconselhamento nutricional e psicológico.
Uma outra solução prende-se com o desempenho e reconhecimento dos colaboradores, através de sessões de estabelecimento de objetivos, destaque de colaboradores empenhados e reconhecimento de formador.
Existe ainda a necessidade de garantir oportunidades de carreira, de acordo com os dois estudantes, seja através de estágios e ofertas de emprego internas, promoções e rotatividade de funções e ainda formações e qualificação dos profissionais – nomeadamente nas áreas de gestão emocional, stress e equipas.
Quanto à promoção do ambiente de trabalho, as soluções apontadas incluem a criação de um plano de benefícios de grupo – onde são recompensados e premiados objetivos de grupo –, iniciativas de team building e a modernização de metodologias de trabalho.
Por fim, os estudantes indicam ser essencial garantir aos colaboradores a conciliação da vida pessoal e profissional, com a promoção de rotatividade de fins-de-semana por colaborador e horários de trabalho seguidos, mas também promover a imagem externa da organização, através de comunicação empresarial, de estratégias de inclusão e diversidade na organização e da promoção da cultura empresarial.