Este ano, a segunda edição da Gala Michelin Portugal decorreu a 25 de fevereiro no Centro de Congressos da Alfândega do Porto. A “riqueza turística, cultural e gastronómica da região Porto e Norte”, com capacidade para “atrair tanto gourmets como viajantes em busca de cultura e autenticidade”, motivaram a escolha para esta segunda gala, de acordo com Nuno Ferreira.
De 2000 para 2025, o número de Estrelas atribuídas em Portugal evoluiu de forma “excecional”, segundo o representante, fruto de “uma cozinha defendida mais do que nunca por jovens chefs interessados em reinventar os seus pratos mais clássicos, fundindo a tradição com a inovação”. Contudo, o país ainda não conseguiu captar a terceira Estrela, pondo-se a pergunta se este será o ano para a sua atribuição.
A Gala Michelin passou a ser diferenciada entre Portugal e Espanha em 2024. O que motivou esta decisão? E em que se traduz esta separação de galas na atuação do Guia Michelin em Portugal?
Os nossos inspetores têm vindo a acompanhar a evolução da realidade gastronómica há anos e a decisão que tomamos de apresentar a seleção do Guia Michelin exclusiva de Portugal é porque acreditamos no potencial e desenvolvimento do atual cenário gastronómico português. Queremos contribuir para posicionar Portugal no mapa da culinária mundial, com um espaço de tempo e um evento dedicados, com o foco na identidade culinária portuguesa. O interesse pela cozinha portuguesa e pelo próprio país é visível na grande afluência de turistas a cidades de grande atração e interesse como Lisboa e Porto, que servem de base a estes restaurantes gastronómicos, mas que se alastra a todo o país, abrindo fronteiras e procurando a excelência para estarem ao nível. Com a organização de um evento próprio de Portugal, com a revelação da seleção de restaurantes e a subsequente criação de conteúdos editoriais e comunicação, o Guia contribui para a promoção de Portugal como um destino gastronómico europeu imperdível.
Este ano, a Gala do Guia Michelin Portugal 2025 tem lugar no Porto. O que vos levou a escolher esta região, e particularmente esta cidade, para a realização do evento?
A escolha do Porto como cenário no qual se dará a conhecer a nova seleção de restaurantes do Guia Michelin Portugal confirma a riqueza turística, cultural e gastronómica da região Porto e Norte, um destino capaz de atrair tanto gourmets como viajantes em busca de cultura e autenticidade. Esta região tem uma tradição gastronómica que se destaca pela diversidade e qualidade dos seus produtos, bem como pela criatividade dos chefs. O Porto e Norte de Portugal é conhecido pelo caráter genuíno das suas gentes e pela tradição de bem receber. Entre os seus atributos está uma gastronomia rica e dinâmica, acompanhada pelos excelentes vinhos da região. A gastronomia e os seus intérpretes aproveitam de forma excecional os recursos naturais da região, desde os produtos oriundos dos férteis campos da região, à frescura e qualidade do peixe. É uma região de raças autóctones, de produtos com Denominação de Origem Protegida (DOP), uma região comprometida com projetos de desenvolvimento da área gastronómica e que viveu também na última Michelin Guide Ceremony um grande momento com 12 novas entradas no Guia MICHELIN, uma delas de um restaurante com duas estrelas.
Muitos chefs em Portugal acreditam que a atribuição de uma terceira estrela em Portugal “é apenas uma questão de tempo”. Confirma esta perspectiva?
Houve uma clara evolução positiva na última década, com uma geração de chefs com excelente formação e ambição de melhorar. Chefs que estão a fazer coisas interessantes, oferecendo uma cozinha portuguesa moderna, baseada nos sabores tradicionais e procurando surpreender com novas apresentações e texturas.
Uma evolução “excecional”
Como descreveria a evolução do panorama gastronómico em Portugal? O que mudou nos últimos 20 anos?
A evolução a que temos assistido em Portugal nos últimos anos tem sido excecional. Uma cozinha defendida mais do que nunca por jovens chefs interessados em reinventar os seus pratos mais clássicos, fundindo a tradição com a inovação. Preparações e apresentações mais delicadas sem renunciar aos produtos e ingredientes locais. Adaptação aos gostos atuais. Atualmente, a preocupação com os ingredientes locais é uma prioridade, revalorizando a cozinha tradicional com técnicas modernas. Portugal tem uma projeção internacional, em termos gastronómicos, que nunca teve antes. Há uns anos o interesse gastronómico centrava-se quase exclusivamente em zonas turísticas como o Algarve, mas hoje a oferta gastronómica está espalhada por todo o país, principalmente em cidades como Lisboa e Porto, que recebem um grande volume de turistas interessados na sua gastronomia e também na sua cultura. Estas cidades estão atualmente em plena expansão de diferentes ofertas, aberturas, formatos, cozinhas de fusão e diferentes influências internacionais. Portugal abriu-se definitivamente ao mundo em termos de gastronomia.
A Estrela Verde foi apresentada em 2020 e introduzida no guia em 2021, centrada na sustentabilidade da operação nos restaurantes. Como diria que tem evoluído este segmento no mundo gastronómico?
Esta distinção permite-nos distinguir os restaurantes que se destacam pelo seu compromisso com a sustentabilidade, a inovação e o compromisso com o meio ambiente e é atribuída aos restaurantes que têm um compromisso e práticas sustentáveis em termos de utilização de produtos locais e sazonais, utilização de energias renováveis, gestão de resíduos, cuidado com a biodiversidade.
A Estrela Verde MICHELIN é, portanto, um instrumento prático para guiar os nossos leitores, bem como qualquer gourmet entusiasta, para os restaurantes que colocam a sustentabilidade no centro da sua oferta e do seu funcionamento. Estas práticas estão a tornar-se cada vez mais importantes para o comensal.
Chaves Michelin
Em abril de 2024 apresentaram uma nova distinção, as Chave Michelin. Que diferença representa esta distinção em relação ao que faziam anteriormente, com a inclusão de hotéis da Europa e Ásia nos guias?
A seleção de hotéis, já existente, no Guia MICHELIN oferece aos utilizadores recomendações para uma experiência de viagem completa.
Atribuídas pela equipa de inspetores do Guia MICHELIN, com base em estadias ou visitas anónimas, e independentemente de qualquer rótulo, estrela turística ou quota existente, as Chaves MICHELIN afirmaram-se como uma nova referência internacional para os viajantes, orientando-os para alojamentos que se destacam pelo seu conceito hoteleiro único, personalidade forte, bem como um elevado nível de hospitalidade e serviço.
Uma chave MICHELIN indica uma estadia muito especial. É uma verdadeira joia com carácter e personalidade próprios. Pode ser inovador, oferecer algo diferente ou simplesmente ser um dos melhores na sua categoria. O serviço vai sempre mais além e oferece muito mais do que os estabelecimentos com preços semelhantes.
Duas chaves MICHELIN indicam uma estadia excecional, que vale a pena fazer um desvio. Um lugar verdadeiramente excecional em todos os sentidos, onde uma experiência memorável é sempre garantida. Um hotel com carácter, personalidade e charme, gerido com um orgulho e cuidado evidentes. Um design ou uma arquitetura marcantes e um verdadeiro sentido do lugar, fazem deste um lugar excecional para ficar.
Três chaves MICHELIN indicam uma estadia única. Tudo aqui é admiração e indulgência – este é o máximo em conforto e serviço, estilo e elegância. É um dos hotéis mais notáveis e extraordinários do mundo e um destino em si mesmo para a viagem de uma vida. Todos os elementos da verdadeira hospitalidade estão aqui presentes para garantir que qualquer estadia perdure na memória.
Que critérios devem os hotéis cumprir para figurar na vossa seleção da Chave Michelin?
Para selecionar e distinguir um hotel, a nossa equipa de inspetores avalia cinco critérios universais. O primeiro, é que o hotel seja uma porta aberta para o destino: contribui para a experiência local. No segundo, a excelência no design de interiores e na arquitetura. Terceiro, qualidade e regularidade do serviço, conforto e manutenção. Num quarto ponto, coerência entre o nível de experiência e o preço pago. E por último, singularidade que reflita personalidade e autenticidade.
Por enquanto, a Chave Michelin distinguiu hotéis na Áustria, Canadá, França, Alemanha, Itália, Japão, México, Espanha, Suíça, Tailândia, Reino Unido e Irlanda e ainda nos Estados Unidos. Esta distinção será alargada a mais países? E Portugal, está nos países “na mira” para esta distinção?
Em 2024, começámos a implementar as Chaves Michelin em mais de 10 destinos turísticos importantes. Naturalmente, pretendemos implementar as Chaves MICHELIN a nível mundial, a fim de destacar, na nossa seleção hoteleira já global, os estabelecimentos que oferecem as estadias mais extraordinárias. Embora não possamos partilhar até à data mais detalhes sobre o calendário exato, Portugal e os seus muitos hotéis notáveis farão, naturalmente, parte do nosso próximo roteiro.
Os inspetores que analisam os hotéis são distintos dos que avaliam os restaurantes? Quantos inspetores têm no momento em ambas as vertentes?
Tal como no caso dos restaurantes, a seleção dos hotéis para o Guia MICHELIN e a decisão de atribuição das Chaves MICHELIN são feitas de forma independente pela equipa de inspetores. Todos eles formam uma única equipa de seleção, internacional e especializada. Os inspetores desta equipa trabalham em conjunto e tomam a decisão de maneira colegiada. Alguns inspetores concentram-se apenas nos hotéis, outros apenas nos restaurantes e outros em ambos.
A criação de uma Estrela Verde para hotéis, à semelhança do que já acontece com os restaurantes, é uma possibilidade?
De momento, ainda não formalizámos uma distinção adequada para destacar os pioneiros do setor. Estamos a trabalhar nesse sentido, uma vez que os viajantes tendem a procurar hotéis cada vez mais sustentáveis. Começámos por disponibilizar aos viajantes, no nosso sítio web e na nossa aplicação, as certificações do setor e outras medidas sustentáveis tomadas pelo hotel.