“Não somos nós que estamos a selecionar: os trabalhadores é que selecionam as empresas”
O CEO do Pestana Hotel Group, José Theotónio, participou no painel “Gerir em tempos de incerteza” do 33.º Congresso da Nacional da Hotelaria e Turismo, onde abordou a sua perspetiva relativamente à semana de quatro dias de trabalho, o impacto da guerra no turismo em Portugal, a contratação de mão-de-obra estrangeira para o setor hoteleiro e a retenção de talento.
Carla Nunes
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Não há que temer que a contratação de mão-de-obra estrangeira para o setor hoteleiro afete a oferta de emprego na área para os portugueses. A garantia parte de José Theotónio, CEO do Pestana Hotel Group, que participou no 33.º Congresso da Nacional da Hotelaria e Turismo, organizado pela AHP.
Inquirido sobre a legislação que facilita a contratação de mão-de-obra estrangeira proveniente dos países PALOP e da Europa de Leste, José Theotónio aponta que esta é uma “boa lei” e que, apesar de poder pecar por tardia, “ainda bem que saiu”, por permitir às “empresas programarem melhor” a integração destes profissionais.
“Na hotelaria também é muito importante trazer as pessoas e dar-lhes um tempo de formação. Mesmo aqueles que já são profissionais, que já estão no setor, ao entrarem numa nova unidade precisam de conhecer os cantos à casa”, defende.
Afirma que no grupo Pestana “há abertura e disponibilidade” para acolher estes profissionais, já que têm em alguns países, “como por exemplo em Marrocos e Cabo Verde”, ligação às escolas hoteleiras.
“Lá há boas escolas hoteleiras, que formam boas pessoas, bons profissionais, que veem em Portugal uma boa oportunidade. Começando a fazer o trabalho agora, e havendo a possibilidade de fazê-lo com calma, de forma programada, é algo que é possível”.
Defende que não existe a possibilidade destes trabalhadores “tirarem trabalho a portugueses”, garantindo que, atualmente, em hotelaria, são os portugueses que escolhem a empresa onde vão trabalhar.
“Não somos nós que estamos a selecionar. Quem está a selecionar as empresas são os trabalhadores. O que temos de ter é uma boa oferta para a nossa força de trabalho, mostrando os valores da organização, as possibilidades de desenvolvimento e crescimento pessoal e profissional, e os benefícios que podem ter”, afirma José Theotónio, frisando novamente que estes profissionais “não estão a retirar o trabalho a ninguém: estão a completar aquilo que é um setor muito importante”.
O “desastre” da semana laboral de quatro dias
Também nesta sessão foi abordada a semana laboral de quatro dias, um ponto que José Theotónio defendeu não ser possível para o setor – além de obrigar “a uma flexibilização de toda a legislação laboral, nomeadamente em termos de trabalho”, considera o conceito “um desastre” para a área.
“Para algumas unidades até poderia ser produtivo. Agora: para uma indústria que trabalha 365 dias por ano, 24 horas por dia; em que falta um milhão e meio de trabalhadores para a indústria hoteleira [a nível mundial]; com a falta de 45 mil trabalhadores para o setor em Portugal e com a redução da qualidade do serviço pela falta de mão de obra, nesta fase do campeonato, passar de cinco para quatro dias de trabalho é um desastre, um tiro pelos pés”, defende o profissional, rematando que “a seguir a não se fazer o aeroporto é a maior vergonha nacional”.
Dando o exemplo de outro setor, Isabel Furtado, CEO da têxteis Manuel Gonçalves, e oradora no mesmo painel, dá conta que “na indústria é impensável trabalhar mais do que 40 horas”, já que “os acidentes de trabalho aumentam exponencialmente [na indústria] depois das sete a oito horas e meia de trabalho”. Com isto, deixa apenas uma questão: “Vamos pôr as pessoas a trabalhar dez horas?”.
Num último ponto, e quando questionado se Portugal pode beneficiar em termos turísticos com o conflito no Leste, José Theotónio afirma que “é preciso ter muito cuidado quando dizemos que a guerra poderá beneficiar o turismo em Portugal”. Se “é verdade que Portugal e Espanha, por serem dos países que estão mais a oeste”, atraem mais visitas, o CEO do Pestana Hotel Group lembra que “hoje a única certeza que temos é o mundo da incerteza”.
“[O conflito] pode prejudicar. Para já o aumento dos custos que tem tido. Estamos a falar de receitas, mas [também] dos aumentos de custos pessoais. Com este cenário macroeconómico é obvio que vamos ter de aumentar novamente os custos no próximo ano, para compensar o aumento das inflações. Depois, o custo da energia, o segundo maior custo a seguir à força de trabalho em hotelaria, e também na cadeia alimentar, que é o terceiro maior custo no setor”, aponta.
Lembra ainda que, além destas questões, é preciso ter em conta “o próprio setor da aviação”.
“As restrições que hoje existem por causa, também, da guerra, fazem com que alguns mercados tenham muitas dificuldades em fazer turismo. Se houver um agudizar do conflito, com certeza que vai criar ainda mais incerteza e ansiedade”.
Neste contexto, o CEO do Pestana Hotel Group refere igualmente a importância do turismo nacional para o turismo português.
“O turismo português também beneficiou muito do turismo nacional, que cresceu em Portugal nos anos de 2020 e 2021 em termos percentuais – até porque, quem não perdeu rendimento durante esses anos, também não tinha onde gastar. Com o atual cenário macroeconómico isso vai continuar? Mais um nível de incerteza”, refere.
O 33.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo, organizado pela AHP, decorre entre esta quinta e sexta-feira, 17 e 18 de novembro, em Fátima.