Leonardo Simões, presidente da ADHP Júnior | Créditos: ADHP
Opinião: Seremos nós o nosso próprio inimigo?
A opinião de Leonardo Simões, presidente da ADHP Júnior e Butler no Vila Vita Parc.
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Nos últimos anos temo-nos deparado com um crescimento da hotelaria e do turismo, tanto a nível de procura como a nível da oferta. Até em situações de crise do setor novos hotéis inauguraram, novos projetos foram postos em ação e a maior parte das metas conservadoras que delineámos para a recuperação foram superadas. Existem cada vez mais nichos de mercado e indústrias que dependem da hotelaria e do turismo. Estes dados demonstram a importância da indústria e a necessidade de que esta exista.
Contudo, existem sempre os prós e os contras, e este crescimento não é exceção. Deparamo-nos com uma recessão de recursos humanos não só a nível nacional como internacional, vemos cada vez mais jovens a abandonar a indústria e cada vez menos a estudar esta arte de “bem servir”.
Existem vários motivos para estes problemas, mas é objetivo que são duas realidades que não podem coexistir, principalmente se queremos manter valores como “de pessoas para pessoas”.
Neste sentido, é fundamental entender o porquê desta recessão de recursos humanos. Para tal, nada melhor do que começar por tentar compreender as pessoas e, em especial, os mais jovens que são as raízes do futuro da hotelaria.
Do tempo que tenho passado no mercado de trabalho e em representação da ADHP Júnior, o que mais sinto é um desconhecimento de ambas as partes.
Por um lado, temos os jovens recém-formados a entrar numa indústria que aprenderam a compreender da perspetiva do cliente e do gestor, mas nunca da perspetiva do colaborador. Esta mesma indústria que, devido a este crescimento, se encontra repleta de diferentes grupos, marcas, tipologias, categorias, subcategorias e nichos. Esta complexidade cria desconhecimento nos jovens perante que hotel escolher para potenciar o seu talento.
Por outro lado, temos as empresas que, apesar de sentirem esta recessão nas suas unidades, continuam a ter dificuldade em compreender os colaboradores e em conseguir filtrar quais os melhores para a empresa, pois, atualmente, ter colaboradores já é um “luxo”. Toda a hierarquia de um hotel sofre. As chefias e direções não são exceção e, estando sobrecarregadas, têm cada vez mais dificuldade em despender tempo para falar com as equipas e tentar perceber quais são as suas necessidades e aspirações.
Estaremos nós, hotelaria, a ser o nosso próprio inimigo quando queremos lealdade, mas não somos transparentes? Quando queremos equipas estáveis e coesas, mas continuamos a fazer contratos de temporada? Quando queremos pessoas apaixonadas, mas só exigimos mais delas? Quando dizemos que existe escassez de pessoas, mas continuamos a inaugurar novas unidades?
É fundamental que a indústria se una e que todos remem para o mesmo lado. Sejam as universidades, através de melhores políticas de estágio ou de mais apoios à inserção no mercado. Sejam as empresas, que podem investir nos colaboradores e em compreendê-los melhor. Sejam os jovens e os profissionais da hotelaria, que podem exigir os seus direitos, mas sem esquecer os seus deveres.
Leonardo Simões
Presidente da ADHP Júnior e Butler no Vila Vita Parc
*Publicado no formato imprenso da edição 205 da Publituris Hotelaria (maio de 2023)