AHRESP: “A transição digital é importante para ajudar as empresas, não para substituir colaboradores”
No âmbito da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) fala sobre os principais desafios do setor e como a associação pretende dar resposta aos mesmos.
Carla Nunes
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No âmbito da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL), que decorre na Feira Internacional de Lisboa (FIL) de 16 a 20 de março, Ana Jacinto, secretária-geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP) fala sobre os principais desafios do setor e como a associação pretende dar resposta aos mesmos.
O principal desafio apontado é, desde logo, o mais falado desde o início da pandemia: a falta de mão de obra no setor. Para Ana Jacinto, esta questão “tem que ser tratada em vários níveis”, sendo que um dos fatores se prende com a remuneração. Como a associação já referiu por outras ocasiões, e que a secretária-geral insiste em demarcar, “é preciso criar liquidez nas empresas”, para que se possa “remunerar cada vez melhor os trabalhadores”.
E porque “[a associação] não faz apenas o diagnóstico e apresenta os problemas, também dá soluções”, a secretária-geral salienta que para que as empresas possam ter mais liquidez é “necessário baixar o IVA dos serviços de alimentação”. Neste sentido, Ana Jacinto recorda duas medidas propostas ao Governo: colocar todas as bebidas na taxa intermédia, ou seja, as que continuam a ser taxadas a 23% passariam a ser taxadas a 13% de forma definitiva; e baixar todos os serviços de alimentação e bebidas para a taxa reduzida, num período temporário de um ano.
“Quando o Governo desceu o IVA para a taxa intermédia o que dissemos sempre foi que com isso conseguiríamos liquidez suficiente para criar postos de trabalho e foi isso que aconteceu” afirma.
Relembra também que, enquanto outros países europeus aderiram à medida da taxa reduzida nos serviços de alimentação e bebidas durante um período limitado – fruto de um manifesto conjunto da Confederação Europeia das Associações de Hotelaria, Restaurantes e Cafés (HOTREC) e da Federação Europeia dos Sindicatos da Alimentação, Agricultura e Turismo (EFFAT) – “Portugal não o fez”.
“Não podemos olhar para este tema e dizer que as pessoas vão pagar melhor por decreto e no dia a seguir estão a pagar mais aos seus colaboradores. [As empresas] precisam dessa capacidade financeira”, insiste.
A importância de criar perspetivas de carreira
No entanto, para além da necessidade de remunerar melhor os trabalhadores, existem outros fatores a ter em conta, de acordo com a secretária-geral da AHRESP, que aponta para o facto de existir “um problema demográfico [em Portugal]”, razão pela qual afirma ser “urgente agilizar a entrada de trabalhadores estrangeiros no país”. No fundo, “juntar a oferta com a procura”, “dando as condições essenciais para que as pessoas possam ser incluídas devidamente”.
Num segundo ponto, Ana Jacinto refere que “as empresas e os respetivos líderes têm que perceber que é fundamental criar perspetivas de carreira e premiar os colaboradores, para que percebam que naquela empresa têm um futuro e podem chegar mais longe”. Sobre a transição digital e a digitalização, apesar de frisar que são importantes e que “a AHRESP tem acompanhado essa tendência”, afirmando que é necessário “dar um salto nesse sentido”, a secretária-geral relembra que o setor “vive de pessoas para pessoas”.
“A transição digital e a digitalização são importantes para criar propostas de valor para os clientes e ajudar na operação dos empreendimentos, não para substituir os trabalhadores”, frisa.
Com a tónica assente na necessidade de valorização dos recursos humanos, a secretária-geral adianta que a AHRESP vai ter um debate a 20 de abril na Alfândega do Porto, onde serão abordadas “estas temáticas do mercado de trabalho”. O objetivo passará por enfatizar “o que as empresas têm que fazer para se prepararem para o trabalhador do futuro”, pois caso não o façam, podem vir a “perder talentos e ficar sem trabalhadores”.
Também é nessa lógica que a AHRESP criou uma Bolsa de Empregabilidade, já noticiada anteriormente, onde faz o levantamento das necessidades de recrutamento dos associados, ao mesmo tempo que recolhe e partilha o Curriculum Vitae e informações dos interessados em trabalhar no setor. Na mesma linha de reconhecimento dos trabalhadores do setor, os prémios AHRESP regressam este ano para a sua 6ª edição, dado que a associação considera importante “reconstruir a confiança e potenciar o orgulho que temos nestas atividades”.