Rita Marques: “Para continuarmos a crescer em valor temos de pagar melhor”
Na sessão plenária do último dia do Congresso da AHRESP deste sábado, 15 de outubro, a Secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços referiu-se à questão da captação e mão-de-obra no setor, desde a retenção de jovens nacionais à captação de trabalhadores internacionais.

Carla Nunes
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Na sessão plenária do último dia do Congresso da AHRESP deste sábado, 15 de outubro, a Secretária de Estado do Turismo, Comércio e Serviços referiu-se à questão da captação e mão-de-obra no setor, desde a retenção de jovens nacionais à captação de trabalhadores internacionais.
A, sessão em formato entrevista, ficou a cargo das jornalistas Rosália Amorim, do Diário de Notícias, e de Rosário Lira, da RTP, da qual damos conta em duas peças distintas.
Uma das queixas dos trabalhadores são os salários no setor e as muitas horas extra. Acredita mesmo que o setor vai ter capacidade de comportar o aumento dos 5,1% dos salários?
Isso já está a acontecer. Os próprios dados do INE já dão conta que o setor do turismo neste momento já está a pagar mais do que pagava. Neste momento temos em falta cerca de 35 a 50 mil trabalhadores do setor. Temos naturalmente de ter mais mecanismos de atração para que todos aqueles que não trabalham [na área] possam sentir-se incentivados a entrar para o setor.
Quando olha para o setor do turismo, vai realmente ter impacto esta subida no setor a nível das primeiras linhas de entrada? Como vê esse impacto a nível da sustentabilidade do negócio?
Vai ter um impacto relevante. Naturalmente o setor do turismo vai ser diretamente impactado, porque temos uma franja muito grande dos nossos trabalhadores a ganhar o ordenado mínimo. Penso que é um impacto que teremos mais tarde ou mais cedo que enfrentar, porque para continuarmos a crescer em valor temos de pagar melhor. Em média cada turista despende em Portugal cerca de 1035 euros. Somos neste momento o destino europeu em que o turista mais gasta. Para quem vem a Portugal e tem este dinheiro para dispensar, esperam ver um serviço de qualidade, e para termos trabalhadores capacitados têm que auferir mais do que atualmente.
A verdade é que mais do que a questão dos salários o que mais temos ouvido é a falta de mão-de-obra. Porque é que não se está a conseguir reter essas pessoas e o que se pode fazer antes de começar a buscar pessoas fora?
Desde logo temos um problema demográfico na Europa. O talento é um ativo que está a rarear, não só no setor do turismo, mas em outros setores. Temos naturalmente esta proximidade com países de língua portuguesa e estamos a fazer esforços nos acordos da mobilidade no quadro da CPLP. Somos menos a trabalhar no setor e para aumentar a produtividade provavelmente vamos ter de fazer mais com menos e capacitar os que estão cá.
Mas e em relação aos jovens que estão a terminar a suas formações?
Esses jovens têm uma taxa de empregabilidade altíssima.
Mas estão a ser absorvidos pelo mercado ou estão a ir embora?
Muitos deles estão a ser absorvidos pelo mercado, mas também depende do seguinte: os jovens querem de facto ter uma vida lá fora e é natural que possam e queiram ir lá para fora. Grande parte deles ao fim de alguns anos querem regressar, e esses também têm de suscitar especial preocupação. Se querem regressar e as carreiras em Portugal não conseguem absorver esses recursos, também se torna problemático.
Não há também por parte desses jovens uma desilusão quando chegam ao setor?
Não encontro de todo esse sentimento. O que encontro muitas vezes são jovens que têm muita garra e querem ingressar no mercado de trabalho. Por outro lado, também, jovens empreendedores que querem ser empreendedores e montar o seu negócio.
Há agora também o desafio da alteração da lei dos vistos. Acredita que em 2023 o problema da mão-de-obra resolve-se por aí? Será esta realmente uma solução, ou seria preferível cuidar dos que estão cá?
Não se trata de um ou outro. Não será assim nas nossas vidas, nas nossas empresas, na política. É um e outro. Não se trata de condições disjuntas, mas condições conjuntas, cumulativas, que devem ser tratadas em paralelo. Não se trata de duas agendas, trata-se de uma agenda que terá uma e outra frente.