“Este ano se fecharmos com um EBITDA de zero temos um ano fantástico”
Depois de dois meses com hotéis fechados e faturação zero, o Pestana Hotel Group prepara-se para abrir as primeiras 10 unidades de alojamento.
Carina Monteiro
Mercure abre novo hotel na Polónia
Évora recebe mais um hotel com a abertura do Holiday Inn Express
Meridia adquire Reserva Alecrim em Santiago do Cacém
Hotéis da Highgate Portugal no Algarve vão operar sob a marca Marriott International
Investimento, emprego e habitação entre as propostas da AHP para o OE 2025
Tivoli Hotels & Resorts escolhe Vila Nova de Gaia para nova abertura em Portugal
Grupo Jupiter investe cerca de 21M€ para abrir novo hotel no Porto
Grupo Altis vai abrir boutique hotel de luxo no antigo Petit Palais By Olivier
Nova edição: Entrevista a George Vinter e Lior Zach, fundadores da BOA Hotels
José Theotónio confessa que a reabertura dos hotéis está a ser um processo mais fácil do que o encerramento, e, só não abrem mais, porque é preciso aguardar a resposta do mercado nacional. Insiste que não há turismo internacional sem aviação e que é preciso olhar com atenção para as companhias aéreas, como já estão a fazer outros destinos. O Grupo Pestana, que fechou 2019 com uma receita de 420 milhões de euros e um EBITDA de cerca de 160 milhões de euros, luta, este ano, para atingir um ‘breakeven’. Dadas as circunstâncias, isso significaria “um ano positivo”.
No próximo dia 5 de junho vão abrir 10 hotéis em Portugal, de um universo de 74 hotéis. Quais os motivos na origem da escolha destes hotéis para abrir?
Uma vez que não há voos, o que podemos testar é o mercado nacional ou, quanto muito, o mercado de fronteira para algumas unidades que têm essa procura. Portanto, as unidades selecionadas são as que têm uma preponderância grande do mercado nacional. Nas Pousadas vamos abrir em Viana do Castelo, Alcácer do Sal, Sagres e na Ria de Aveiro. Estas são geridas por nós. A estas juntaram-se duas Pousadas em ‘franchise’, em Valença e em Bragança, que também quiseram abrir. Nos hotéis, a lógica foi abrir três aparthotéis que vão funcionar em ‘self-catering’, ou seja, com serviços mínimos ao nível do F&B (Pestana Cascais, Pestana Viking e as villas do Pestana D.João II). Para testar um hotel com o serviço tradicional, vamos abrir o hotel mais pequeno que temos no Algarve, o Pestana Alvor South Beach, com 70 quartos. Neste hotel vai fazer-se o serviço tradicional de hotelaria (pequeno-almoço, almoço, jantar e todos os serviços inerentes à hotelaria).
De que fatores dependem a abertura dos restantes hotéis?
Para nós é muito fácil reabrir outras unidades, precisamos de cerca de uma semana a 10 dias. Se houver procura e se houver mercado estamos desejosos de abrir. Não vamos é abrir unidades para ficarem desertas.
Os nossos planos preveem a abertura de outros hotéis no início de julho. Um em Lisboa, em princípio o Pestana Palace, mais um no Algarve (o Pestana Alvor Praia), outro na Madeira, provavelmente o Pestana Carlton Madeira, ter um no Porto, o Pestana Palácio do Freixo, e abrir uma segunda vaga de Pousadas, que incluem Serra da Estrela, mais uma no Alentejo, Estói. Mas este plano vamos confirmá-lo em junho.
No estrangeiro qual a previsão de abertura das vossas unidades?
Há países que estão mais ou menos na fase de Portugal e há outros mais atrasados. Nos países que estão mais avançados, como a Alemanha e Países Baixos, vamos reabrir, em julho, os hotéis em Amesterdão e Berlim. Quer Londres, quer as unidades em Espanha, estão mais atrasadas. Nesses destinos existem mais restrições e com essas restrições é praticamente impossível.
Miami, provavelmente, também deverá abrir em julho. Os outros hotéis na Europa só abrirão depois de agosto e alguns em setembro. No Brasil, também nessa altura.
É possível que algumas unidades em Portugal não voltem a abrir este ano?
De certeza. Temos mercados que são muito sazonais. Por exemplo, Porto Santo e o Algarve, que funcionam geralmente entre abril e outubro. Abril e maio já estão perdidos, junho vamos ver, mas com muita pouca atividade. A partir de setembro e outubro reduz o fluxo turístico. Há muitas unidades que não vão chegar a abrir este ano em destinos como o Algarve, Porto Santo e mesmo no Porto, onde temos quatro unidades, e estamos com duas outras para abrir que só não abriram por causa desta crise. No Porto temos seis unidades. De certeza que até ao final do ano não vamos ter as seis unidades a funcionar. Se abrirmos três, será bom.
E na ilha da Madeira?
A Madeira tem uma grande vantagem. Tem uma época forte também no inverno, a partir de setembro e outubro. Se houver um ganho de confiança na aviação entre meses de julho e setembro, é possível que, enquanto algumas unidades do Algarve estejam a fechar por causa da sazonalidade, estejamos a abrir unidades na Madeira. Tem esta vantagem: funciona o ano inteiro de forma mais ou menos gradual e tem meses muito fortes no próprio inverno. É uma região onde é possível abrir unidades durante o outono/inverno, o que não acontece no Algarve ou em Porto Santo.
Já estão a receber reservas do mercado nacional?
Sim. Estamos a dar prioridade primeiro às pessoas que já tinham reservas connosco e que foram anulando. Outras que não anularam, mas que podem fazê-lo até pouco tempo antes da reserva e que têm reservas em hotéis que não vão abrir. A essas pessoas estamos a dar alternativas para os hotéis que vamos abrir. Até agora a taxa de aceitação tem sido positiva.
Temos também novas reservas, principalmente através do programa que criámos de agradecimento aos profissionais de saúde, que tem tido uma boa receção. Já temos quase uma centena de reservas de pessoal médico, grande parte delas para o mês de junho e para as Pousadas. O mercado começa a mexer. Porque é que não mexe mais? Porque ainda há alguma indefinição quanto à utilização das praias e das piscinas. Isso é fundamental para o Algarve. Sem isso, é muito difícil que as pessoas tenham confiança para começar a marcar.
Se as fronteiras entre Espanha e Portugal abrirem no dia 15 de junho, tem expectativa de que o mercado espanhol venha para Portugal no verão?
Sim. Temos várias unidades, quer no Algarve, quer na Costa de Lisboa, em que o mercado espanhol que viaja de carro é tradicionalmente forte. Por exemplo, na zona de Cascais o mercado espanhol no verão é o principal mercado internacional.
Tão difícil como fechar os hotéis é reabri-los. O que é mais difícil neste processo?
O mais difícil foi encerrá-los. É um trabalho grande das equipas operacionais, por uma má razão. São pessoas que estavam habituadas a trabalhar uma vida inteira ali, no caso das Pousadas, por exemplo, que de repente têm de fechar a sua segunda casa. Reabrir também dá muito trabalho, mas é por uma boa razão. Estamos novamente a voltar ao mercado e, por isso, é bem mais fácil. Não estivemos parados, estivemos a definir os ‘standards’, os circuitos, em cada uma das unidades para a reabertura. Os ‘standards’ gerais estão definidos e agora é levá-los a cada unidade em concreto. Formar os colaboradores que estão a voltar sobre os novos procedimentos, os equipamentos de proteção individual, mudar as práticas de limpeza de quartos, regras para a ventilação das unidades, etc.
Medidas de apoio
Das medidas apresentadas pelo Governo para minimizar os efeitos da Covid-19, a quais é que o Grupo Pestana recorreu?
Ao ‘lay-off’ simplificado a partir de 15 de abril. E, em algumas empresas, o grupo recorreu também às linhas de financiamento. Com os bancos acertámos as moratórias decretadas pelo Estado.
Quantos colaboradores passaram para o regime de ‘lay -off’ simplificado?
Cerca de 2300 colaboradores de um universo de 2500. 72% dos operacionais ficaram em ‘lay-off’ com suspensão de contrato e houve um conjunto de pessoas (22%) que ficaram em regime de horário reduzido. Por exemplo, era preciso continuar a trabalhar o site, as redes sociais. Na área financeira havia ainda algumas coisas para processar. Por isso, algumas pessoas ficaram em regime parcial. Só não foram para ‘lay-off’ as pessoas da segurança e algumas pessoas que ficaram em cada hotel a fazer turnos. Temos sempre pessoas 24 horas por dia, sete dias por semana nos hotéis. Num hotel que antes tinha 100 pessoas a trabalhar agora tem cinco.
Como vão fazer a gestão dos recursos humanos agora com a retoma da atividade dos hotéis?
As pessoas que estão nas unidades que reabrem vão sair do ‘lay-off’, as que estão noutras áreas mantêm-se.
O ‘lay-off’ deveria ser prolongado além de junho?
A nossa leitura é que esta medida é muitíssimo boa para as empresas e foi o que permitiu manter os contratos de trabalho. Não sei se será este modelo de ‘lay-off’ ou outro, mas acredito que haja outras medidas de apoio. Por exemplo, teremos 50% das nossas unidades a trabalhar em setembro, na melhor das hipóteses, o quer dizer que há outros 50% que não estão a trabalhar ainda. Portanto, para manter estes 50% ligados à organização é preciso que haja aqui algum tipo de apoio. Se for este tipo de ‘lay-off’, perfeito. Se não for este, outras medidas que mitiguem os custos.
Por que período?
Não sei. Tem de haver uma gestão por períodos. Não acredito que o turismo volte àquilo que era antes de 18 a 24 meses. Agora, obviamente que vínhamos de três anos muito bons. Também não precisamos de ter os níveis que tínhamos em 2018 e 2019 para poder assegurar todos os postos de trabalho. Mas precisamos de ter o mínimo de retoma da atividade. Diria voltarmos aos números de 2014, que foi o primeiro ano em que se começou a ver alguma luz ao fundo do túnel, mas ainda assim foi cerca de 60% do que se atingiu em 2018.
Mas agora têm mais oferta?
Sim, mas se fizermos as contas por quarto, já é uma operação que se consegue rentabilizar e manter.
Previsões
Quais são as previsões de resultados para este ano?
O Grupo Pestana fechou 2019 com uma receita de 420 milhões de euros, e o EBITDA de cerca de 180 milhões. Este ano, se fecharmos com um EBITDA de zero, teremos um ano fantástico. Não acredito. Lutamos para isso e queremos atingir um ‘breakeven’ através do EBITDA. Se conseguíssemos isso teríamos um ano que tinha corrido de forma positiva, dadas as circunstâncias. Estes dois meses tiveram faturação zero. Nem uma fatura se emitiu. Mais, com muitos dos clientes de janeiro e fevereiro sem pagar, e atrasando os pagamentos, alguns deles porque faliram. Esta é a realidade das empresas do setor do turismo. Se conseguirmos chegar ao final do ano não perdendo em EBITDA, porque em resultados vamos perder, mas pelo menos com o ‘cash flow’ a zero era algo muito aceitável.
Se tiverem de baixar preços esse cenário agrava-se.
Os preços dependem de muita coisa. Há muitos preços, há o preço dos pacotes turísticos e o preço dos clientes diretos. É provável que nesta conjuntura, o canal direto suba muito mais em função daquilo que são os canais indiretos, nomeadamente, os pacotes turísticos. Estes dependem completamente da aviação, que vai estar mais reduzida. O que pode acontecer com isto é que não haja uma degradação dos preços médios, mas uma alteração em termos de canais. Agora, não tenhamos dúvidas, vamos ter uma oferta muito superior à procura. Portanto, vai haver sempre uma grande pressão em termos de preços. Se perguntar a qualquer empresário se quer baixar preço, todos vão dizer que não. Mas as leis de mercado nas reaberturas voltam a funcionar.
Ao nível dos canais de distribuição, como é que prevê o papel dos operadores turísticos? Qual vai ser a vossa aposta?
No mercado português estamos a trabalhar o mercado direto, até pelas campanhas que estamos a fazer – campanhas diretas, dirigidas aos clientes fidelizados e a quem tinha reservas connosco. O segundo mercado a reagir serão as OTA’s. Depois, com os operadores que habitualmente trabalhavam connosco, também estamos a fazer programas conjuntos de retoma. Mas é preciso não esquecer os operadores turísticos e as companhias de aviação foram tão afetadas como os hotéis. Portanto, também não estão com uma grande disponibilidade para fazer grandes veleidades. Estão a pedir aos seus parceiros, que são os hoteleiros, para fazer um esforço conjunto. Vamos ver.
Mas para destinos como o Algarve e a Madeira a operação turística tem um peso grande.
Sim. Principalmente na Madeira, a operação turística tem um peso superior a 50%. O operador turístico aí precisa de ter confiança no destino e está a pedir-nos apoios para fazer campanhas de relançamento nos seus destinos de origem.
Voltando ao mercado nacional, tem confiança que o mercado nacional vai ter dinheiro para fazer férias?
Vai reduzir-se também. O mercado nacional, mesmo no verão, que é a altura mais forte, já só representava 30% do total de mercado. E, ainda por cima, este ano vai estar reduzido, porque muitas famílias viram o seu rendimento ser afetado, mas há outros que não tiveram. Os funcionários públicos não tiveram. Há um conjunto de entidades que não viram o seu rendimento reduzido.
A forma como Portugal lidou com a crise sanitária pode ajudar na retoma de mercados internacionais?
Sim, claramente. Portugal passou uma imagem muitíssimo boa. Globalmente, Portugal pode beneficiar disso. Mas quem sofreu tanto como os hotéis foram as companhias de aviação, que, dada a sua dimensão, ainda sofreram mais. Por isso, as companhias vão retomar os voos para os destinos que as apoiarem.
O Governo terá de fazer um esforço para apoiar e estimular as companhias aéreas a voar para Portugal? Ainda para mais num cenário que se prevê competitivo entre destinos?
Exato. É o que tenho dito. As companhias de aviação sofreram bastante, vão retomar a atividade também de forma gradual. Vão voar primeiro para os destinos que ofereçam condições de segurança. E as condições de segurança são a dois níveis: zonas pouco afetadas pela pandemia e zonas que garantam conforto ao cliente. Aliás, a TUI tem falado muito nisso, só vai vender pacotes turísticos aos seus clientes, se estes puderem ter uma experiência boa. Não vão vender férias para locais onde há restrições, seja porque têm de fazer quarentenas, seja porque têm de andar a fazer testes de dois em dois dias, ou porque não podem ir à praia. O que tem de se oferecer ao turista é que, no caso dele ter um problema, vai ser bem tratado. Há muitos destinos que estão a trabalhar muito bem nisso. Maiorca está a passar uma imagem de grande proteção ao turista e, por isso, é um destino para o qual as companhias e os operadores turísticos estão a olhar para começar a viajar.
Temos que fazer mais do que criar o selo ‘Clean & Safe?’
Sim, o ‘Clean & Safé’ é muito importante, principalmente para o mercado nacional, e também para o internacional. Mas temos de fazer mais. Temos de trabalhar com os operadores turísticos, com as companhias ‘low-cost’, porque são elas que transportam hoje muito daquilo que é o turismo internacional e arranjar-lhes condições para que, pelo menos, não percam dinheiro. Porque se estão a perder dinheiro, então preferem ficar em terra.
Que destinos portugueses prevê que possam recuperar primeiro?
O Algarve tem uma boa oportunidade no verão [porque teve um bom desempenho no controle da pandemia] e tem, para já, um tipo de cliente que quer voltar ao destino, que é o turista com segunda habitação. Nesse sentido a segunda habitação é positiva porque vai garantir uma percentagem da ocupação do avião. Portanto, dá alguma segurança às companhias áreas para abrir voos. Atrás disso podem vir os turistas para as unidades hoteleiras. Se quiser ser otimista, penso que há aqui uma oportunidade para o Algarve não perder a temporada toda. Depois, se a Madeira levantar algumas das restrições que tem, a partir de setembro e outubro, tem a oportunidade de ser um dos destinos a recuperar primeiro.
O grupo previa abrir 10 unidades em 2020. Em que situação se encontram as unidades em planeamento?
Quando a pandemia surgiu, estávamos com oito hotéis para abrir, sendo quatro obras nossas e quatro de parceiros, em que só faríamos a gestão do hotel. Terminámo-los todos. Praticamente podiam abrir. Falo do Pestana Vintage Lisboa, na Rua Braamcamp, em Lisboa, está praticamente terminado. No Porto, a Pousada na Rua das Flores e o Pestana Douro. O Pestana CR7 em Nova Iorque e o Pestana CR7 Madrid. O de Marraquexe e de Tânger são de investidores marroquinos. Depois, a Pousada de Vila Real de Santo António, que também é obra nossa. Estes oito vão terminar e vamos ver se os abrimos ou não, em função do mercado, mas a nossa expectativa é conseguir abrir até ao final do ano, não será em junho, julho ou agosto. Todos os outros projetos que tínhamos em carteira estão adiados. Portanto, tirando o de Paris, que é um hotel que está em aprovações e só vamos começar a construir em finais de 2021, todos os outros estão mais ou menos suspensos.
Analisando o panorama da hotelaria nacional e do tecido empresarial, é possível que nem todos os hotéis tenham capacidade para sobreviver a esta crise?
Sim, porque é um período muito difícil. Por isso, é provável que empresas que tenham vindo para o mercado há menos tempo, que não tenham passado por estes três últimos anos ótimos, ou empresas que tenham níveis de endividamento muito elevado, é natural que essas empresas, dado um período como este sem receita, não consigam aguentar, é mais que natural.
*Entrevista publicada na edição de maio da revista Publituris Hotelaria