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“Não planeamos abrandar, queremos manter o ritmo de um a dois hotéis por ano”
Não há ano em que não se assista à inauguração de um Vila Galé. Com quatro unidades prestes a iniciar a construção, Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador, é peremptório ao afirmar que o ritmo é para manter. A unidade agora anunciada em Braga deu o mote a esta entrevista.
Patricia Afonso
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Não há ano em que não se assista à inauguração de um Vila Galé. Com quatro unidades prestes a iniciar a construção, Gonçalo Rebelo de Almeida, administrador, é peremptório ao afirmar que o ritmo é para manter. A unidade agora anunciada em Braga deu o mote a esta entrevista.
Como surgiu esta unidade em Braga?
Continuamos a acreditar que Portugal ainda tem alguma margem para o nosso crescimento e, além dos pontos turísticos principais, onde hoje em dia temos uma presença alargada, a zona Norte era efectivamente aquela que ainda tinha mais espaço. Dentro das cidades com potencial turístico de crescimento estava precisamente Braga. Já andávamos há dois anos a ver algumas hipóteses e surgiu esta de fazer uma parceria com a Santa Casa de Misericórdia de Braga, que tinha este conjunto de edifícios, na qual se incluía o Palácio do Raio, os claustros à volta da Igreja e o conjunto de hospitais descactivados há três anos. Este é um direito de superfície, fazemos o investimento na recuperação e pagamos uma renda, na prática, pelo existente. É um modelo de negócio semelhante ao do Palácio dos Arcos.
Qual a categoria desta unidade? Vai integrar os Vila Galé Collection?
É um quatro estrelas e, eventualmente, vai integrar o Vila Galé Collection. Ainda não temos esse tema totalmente fechado.
É vosso objectivo fazer este tipo de recuperações de forma a aumentar o portfólio Collection?
Sim, sempre que surgir alguma oportunidade. Os Collection, além de terem a componente de recuperação, integram unidades com alguma história ou que consigam funcionar um pouco como hotéis de charme, com uma dimensão mais pequena.
No que consiste a unidade de Braga e a que mercados se dirige?
Vai ter 127 quartos, dois restaurantes, tem espaço para ter um spa com piscina interior, piscina exterior para adultos e crianças, estacionamento e ainda conseguimos fazer uma sala de eventos com capacidade para 300 ou 400 pessoas. É um edifício com alguma dimensão no centro da cidade, com todas as valências e bastante completo. Não havia nada assim no centro histórico.
Vamos trabalhar os mercados da Alemanha, Espanha, França e Itália, tipicamente com mais peso na Região Norte. O brasileiro é outro que acabamos por trabalhar relativamente bem nestas zonas, pois tem a tendência a ficar alojado fora das grandes cidades. Depois acreditamos que o mercado americano, com o crescimento que pode ter fruto da aposta da TAP, também pode ser interessante.
E em Sintra?
O projecto sofreu algumas alterações, mas fica na Várzea de Sintra, entre a vila e as praias do Magoito, numa zona mais ao menos de campo, com uma vista muito boa para a Serra. Vai ter uma componente muito grande de wellness e bem-estar. Ou seja, tudo o que é massagens, nutrição, tratamentos, essa componente vai ser reforçada e estamos a tentar fazer parcerias com alguma instituição mais ligada a saúde. É um hotel com piscinas interior e exterior, o target são os clientes que procuram uma escapadinha ou férias com uma componente de bem-estar, spas, tratamentos e uma alimentação mais racional, que é uma das apostas. Também temos a componente de eventos, quer nacionais, quer internacionais.
Estamos a falar de cerca de 180 quartos. Devemos começar a obra até ao final do ano e também será para 2018. O investimento deverá rondar os 15 milhões de euros.
Além destes, ainda têm o Vila Galé Porto Ribeira…
Como os processos de licenciamento acabaram por se atrasar, só devemos começar a obra no início do mês e, portanto, só deve abrir mais para o final do próximo ano, princípio de 2018, se não houver mais problemas. Aqui, estamos a falar de um investimento de 7/8 milhões de euros.
Expansão
Abrem, em média, cerca de duas unidades por ano. Continuam interessados em investir em Portugal? E na segunda unidade em Lisboa?
Continuamos interessados em Portugal e temos visto uma ou outra hipótese. Não desistimos de Lisboa, mas, efectivamente, o imobiliário na cidade, principalmente nas zonas históricas, voltou a ficar proibitivo. Neste momento, não vejo nada que consiga fechar, já apresentámos propostas com valores que nunca achamos que íamos fazer.
Onde é que ainda é rentável abrir um hotel em Portugal?
Algumas apostas são mais arriscadas. O caso de Braga, por exemplo, até tem muitos visitantes, mas não tem muita gente a dormir. Assim como Coimbra. Há quatro pontos mais ao menos seguros: Algarve, Lisboa e Costa de Lisboa, Madeira e Porto. Claro que as contas são sempre diferentes com o aumento da oferta.
E que outras localizações é que estão a ver?
Além dos que já referi, temos mais um projecto a arrancar no Brasil, o Vila Galé Touros. Vamos analisando alguma coisa que nos chega, mas não temos assim mais nada de concreto.
Mas estão a equacionar a expansão fora Brasil?
Temos equacionado estar na Europa. Mas não temos pressa e não é estratégico para nós. Vamos analisando algumas oportunidades e essas falham por diversas razões.
Isso significa que vão abrandar as inaugurações?
Não planeamos abrandar, queremos manter o ritmo de um a dois hotéis por ano. Não vamos acelerar, não nos vão ver a fazer grandes aquisições, gostamos deste ritmo ‘step by step’, reinvestindo o que vamos ganhando noutros lados, sem aumentar os níveis de endividamento.
O Estado anunciou a que vai disponibilizar património para exploração turística. Estão interessados?
Sim, temos interesse. Recentemente apresentámos uma proposta para reabilitar o Convento de São Paulo, em Elvas, transformando-o em hotel.
Contas
Qual o peso actual de Portugal e do Brasil nas vossas contas?
Portugal cresceu mais este ano. O Brasil deverá representar entre 35 a 40% da nossa facturação, o real também não desvalorizou mais, tem estado mais ao menos estável.
De qualquer maneira, as contas no Brasil continuam equilibradas. Embora os hotéis de cidade estejam relativamente estagnados, os resorts estão bem. Não sentimos a quebra.
Em Portugal estamos com um crescimento simpático, dentro do que prevíamos, com todos os hotéis acima do ano passado, o que mostra um crescimento generalizado nas várias zonas do País.
Quais são as perspectivas para este ano?
Deveremos rondar um crescimento de 10%. Vai depender agora do comportamento dos últimos meses.
E em termos de taxa de ocupação?
Crescemos em ocupação e um pouco mais em receita. Este ano, em Portugal, devemos facturar mais de 80M€. No Brasil, deverá andar nos 50M€.
Portugal ganhou notoriedade e turistas. Mas também beneficiámos alguma coisa de acontecimentos extremistas noutros países. Estamos a fazer o suficiente para sustentar este crescimento?
Não acho que seja uma moda passageira. É fruto de um trabalho que se tem vindo a desenvolver, quer pelos privados, público e associações de promoção, no qual se começou a fazer um trabalho articulado em algumas vertentes.
Por um lado, na questão das ligações aéreas, foi fundamental pôr várias companhias a voar para diversos destinos, porque as próprias transportadoras ajudam a colocá-los no mapa; e aproveitámos os aeroportos que tinham disponibilidade e capacidade para receber. Também temos que olhar para o fenómeno das low cost, que analisam destinos com um período máximo de viagem e não tinham muitos mais na Europa.
Continuámos, e bem, a fazer o trabalho junto dos agentes e operadores, dando apoio a este canal.
E começou-se a fazer um trabalho junto do consumidor final, quer com comunicação directa, quer trabalhando opinion makers e a imprensa internacional. Acho que a aposta feita nos últimos três/quatro anos em trazer jornalistas e blogguers a Portugal funcionou, todos gostaram muito do que encontraram. Conseguiu-se combater algum desconhecimento e Portugal ganhou notoriedade.
A juntar a tudo isto, houve fenómenos que não vou dizer que não ajudaram, que foi a instabilidade em alguns destinos. Se numa revista tenho uma página a dizer que há problemas num país, e noutra página que Portugal é um excelente destino para ir, a coincidência dos dois factores acaba por ser muito positiva.
Obviamente que, nalgumas regiões, ganhámos clientes que não eram naturalmente nossos. Mas acredito que temos condições para os captar e reter.
Os turistas que procuram resorts de ‘all inclusive’, com grandes áreas de animação e jardim e que acabaram por ir para o Algarve ou Madeira, não é propriamente o nosso core, temos produto que responde mais ao menos a isto, mas não é o certo para este tipo de clientes, indiferenciado. E admito que uma percentagem destes clientes pode não voltar. Mas os estudos e inquéritos de satisfação, nossos, da hotelaria, da ATA e as avaliações nos sites públicos ao nosso produto é francamente positiva e acredito que vai traduzir-se na fidelização dos clientes.
Tendências
Falando de tendências, assiste-se actualmente a uma grande aposta na tecnologia e em ambientes mais partilhados. Este é um caminho a seguir?
A tendência para a utilização das tecnologias veio para ficar. Hotéis demasiado tecnológicos, na minha análise, são demasiados confusos para os clientes. Hoje em dia, o cliente tem um smartphone a que está habituado a usar e o que faz sentido, e me parece positivo, é arranjar maneira de interagir através desse telefone com os serviços do hotel.
Investir em algo que os clientes tenham que manipular através de um ecrã ou algo do género, não me parece que vá funcionar, o cliente não tem tempo para perceber a complexidade desse sistema.
Temos acompanhado tudo isto, fomos os primeiros a instalar a aplicação de conciérge da Bguest; lançámos com outra startup um programa, a nível interno, de gestão e manutenção de equipamento; e estamos a estudar mais duas aplicações para instalar nos nossos hotéis.
Mas a nossa experiência diz-nos que os clientes não procuram apps próprias dos hotéis, têm os telefones cheios de aplicações e não têm espaço, foi por isso que optámos pela da Bguest, que é transversal.
Onde acho que ainda vai havendo algumas falhas, e foi aí que fizemos um reforço muito grande, é no Wi-Fi.
Quais as principais tendências a que assistimos na hotelaria?
Há muitos hotéis a apostarem outra vez no F&B, em restaurantes e conceitos diferenciados, uns recorrendo a parcerias, outros a marcas próprias. Isto é positivo porque pode ser um factor distintivo de um alojamento local. Não sei até que ponto é que os hotéis que optam pela via de não terem serviços se conseguem diferenciar do alojamento local. Estas são duas realidades, ambas com clientes e, por vezes, o mesmo cliente, que pode ter diferentes perfis e optar por sítios diferentes consoante o que está a fazer.
Também existe a tendência de transformar os espaços públicos, destes serem menos formais e mais acolhedores, mais parecidos com salas de estar. Esta é uma tendência mais ao menos global: uma decoração mais simples, nórdica e caseira em espaços mais informais, comunitários. Um pouco ao género do que fizemos no Vila Galé Évora, onde temos tudo o restaurante, o bar e a recepção no mesmo espaço, em open space. Obviamente que há pessoas que gostam, outras que não, tem que se ver o tipo de hotel, o target e a sua localização.
Ponderam entrar no segmento de Alojamento Local?
Ponderámos, mas o problema é o mesmo da compra de edifícios para hotéis. Achamos que a rentabilidade destes negócios para quem os faz agora vai ser muito difícil.
As pessoas estão a esquecer-se de que é tudo muito bonito no início, acabaram de comprar e recuperar o investimento, mas com a utilização turística, os apartamentos vão ter um desgaste grande e dentro de três ou quatro anos, têm de ser renovados.
As coisas funcionam relativamente bem numa lógica de quem tinha uma casa, não sabia o que fazer e, agora, tem algum rendimento. Outra coisa é ter, como já se vê, empresas a comprarem caro, têm que remodelar e, depois, rentabilizar.