As eleições para a Entidade Regional de Turismo do Centro de Portugal
“O turismo não pode ser mero refúgio para políticos desgarrados, escolhidos por conveniências partidárias ou interesses sub-regionais. Sendo a mais importante função económica do país, exige a seleção dos mais qualificados, mais bem preparados e com as ideias mais inovadoras”.

A forma tragicamente infeliz da vacatura da Presidência da Entidade Regional de Turismo do Centro criou um problema que está a ser resolvido de forma pouco comum.
As soluções mais “normais” passariam pela tomada de posse do primeiro vice-presidente ou, caso a direção se sentisse menos legitimada pelo doloroso desaparecimento do seu líder, pela demissão de todo o órgão e convocação de eleições. Não foi esse o caminho escolhido, desenhando-se e aceite antes uma terceira via: a eleição não de todo o órgão social, mas apenas do líder pela convocação de uma assembleia geral eleitoral para esse fim.
A solução é estranha, mas poderá ter o condão de emprestar estabilidade a uma casa já inevitavelmente marcada por uma presidência anterior forçosamente intermitente.
Acontece que, na data em que escrevo este texto, surgiram já três putativos candidatos à presidência da instituição. Uma corrida ao cargo parece pois inevitável, e a discussão sobre a pertinência da mesma uma discussão fútil.
Pelo contrário, seria útil que os candidatos apresentassem, de forma estruturada e elaborada, as suas ideias e propostas para a estratégia da região de turismo. Após um longo período em que Pedro Machado marcou a entidade e contribuiu para a consolidação do Centro como uma região turística, este momento inesperado deveria ser aproveitado para uma reflexão pública sobre novas ideias para o setor – ou, eventualmente, para a mera confirmação de estratégias já existentes.
Embora a assembleia que elegerá o novo líder seja altamente politizada e partidarizada, por força da maioria dos eleitores serem municípios, seria no mínimo curial que os candidatos apresentassem publicamente os seus programas. Uma discussão saudável sobre essas propostas e sobre a capacidade de cada candidato para as concretizar seria fundamental.
A estratégia da ERT tem um impacto relevantíssimo em milhares de pessoas que trabalham no turismo da região, e ajuda a definir o sucesso de uma miríade de empresas que dependem desta atividade económica. Por outro lado, a Agência Regional de Promoção Turística – constituída por privados – trabalhará em estreita parceria com a ERT, e o seu presidente será apontado pela última. Seria no mínimo conveniente conhecer as ideias de cada candidato sobre a promoção internacional do destino.
O turismo não pode ser mero refúgio para políticos desgarrados, escolhidos por conveniências partidárias ou interesses sub-regionais. Sendo a mais importante função económica do país, exige a seleção dos mais qualificados, mais bem preparados e com as ideias mais inovadoras. Certamente, ninguém deseja que a eleição deixe de ser um processo de escolha do melhor programa e do candidato mais competente para se tornar apenas um simples arranjo partidário, desprovido de debate, inibindo novas ideias e comprometendo o futuro.
*A Publituris Hotelaria manteve a grafia original do artigo