José Pedro Almeida: “A gestão requer dados sólidos para poder tomar decisões certas no momento certo”
A chegada do Global Revenue Forum a Portugal lançou o mote para uma entrevista a José Pedro Almeida, CEO da XLR8, sobre o presente de Revenue Management aplicado à hotelaria em Portugal e os passos que ainda faltam dar neste setor.
Carla Nunes
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A 30 de janeiro, Portugal recebe pela primeira vez o Global Revenue Forum, um evento europeu dedicado ao Revenue Management em hotelaria. A primeira edição do certame, que decorre simultaneamente em Londres, Milão e Estocolmo, terá lugar no EPIC SANA Marquês, em Lisboa, numa organização que integra a XLR8.
A chegada do Global Revenue Forum a Portugal lançou o mote para uma entrevista a José Pedro Almeida, CEO da XLR8, sobre o presente de Revenue Management aplicado à hotelaria em Portugal e os passos que ainda faltam dar neste setor.
Na sua opinião, como é que Portugal se posiciona no que diz respeito ao Revenue Management em hotelaria? Ainda há caminho a percorrer?
Iniciámos o nosso processo de internacionalização este ano e temos sentido que estamos no mesmo patamar do que se vê lá fora em praticamente todos os aspetos. Mas há uma particularidade em que sentimos uma enorme diferença: se por um lado temos muito talento e revenue managers com enorme capacidade, por outro lado sentimos alguma falta de reconhecimento a partir do seu top management, ainda com muita resistência em atribuir a autonomia necessária para que estes profissionais possam tomar decisões ao nível da estratégia das empresas. Lá fora – e mesmo em muitas empresas em Portugal – notamos que os revenue managers tomam a maioria das suas decisões sem necessidade de reuniões ou aprovações constantes, porque a falta de autonomia impede regularmente as empresas de tomarem as decisões certas nos momentos certos, com impacto nos resultados e motivação dos profissionais. Outro exemplo disso mesmo são as grandes marcas e fundos internacionais que se estão a instalar em Portugal e que continuam, curiosamente, a procurar talento no nosso país. Basta olharmos para os quadros de gestão locais, mas dando-lhes ferramentas e orientações assentes nos resultados, em que os indicadores de gestão por via de dados e áreas como Revenue Management têm “outro peso”.
O setor tem sabido aproveitar os avanços tecnológicos em seu favor?
Sim, tem. São vários os indícios que levam a esta afirmação, suportada pelo crescente aumento de empresas que estão a adotar novas tecnologias, incluindo a aplicação de inteligência artificial. E se antes da pandemia se notava que muitas destas ferramentas estavam a ser sobretudo exploradas por empresas de maior dimensão, hoje notamos que mesmo as pequenas e micro unidades procuram profissionalizar as suas áreas estratégicas, adquirindo ferramentas como revenue management systems, rate shoppers e outras que geram retorno notável nos investimentos feitos. Para isso muito contribuiu o aparecimento de novas empresas tecnológicas, que tendo como referência ferramentas que até agora só estavam disponíveis para grandes marcas, conseguiram adaptá-las a grupos hoteleiros e hotéis independentes de menor dimensão, com preços consideravelmente mais baixos.
Como descreveria a formação das equipas hoteleiras para trabalhar com ferramentas de Revenue Management? A formação das escolas é suficiente, ou há a necessidade, por parte de cada organização, de formar os trabalhadores nesta área?
Também na área da formação se tem sentido uma evolução exponencial no que concerne a Revenue Management. Notamos que nos últimos anos há um número crescente de escolas a incorporar a disciplina de Revenue Management e, bom exemplo disso mesmo, tem sido o trabalho realizado pelo Turismo de Portugal, com o lançamento de várias iniciativas de formação gratuita que inclui também a área de Revenue Management, providenciado bases sólidas para os profissionais hoteleiros.
No entanto, costumamos usar muitas vezes a frase de “Não se forma um diretor-geral de um hotel em seis meses, e o mesmo se aplica a Revenue Management”. Por isso, é normal que a maioria dos grupos hoteleiros e hotéis recorram a empresas especializadas, para assegurar a implementação de melhores práticas adaptadas à sua respetiva realidade. Até porque, para se obterem retornos significativos nesta área, nem sempre bastam melhorias técnicas na área de Revenue Management – o trabalho das empresas de consultoria e formação é feito muitas vezes ao nível de top management e de ligação com todos os stakholders, para permitir implementar uma cultura de Revenue Management que se foque na ligação das equipas, que permita alcançar aumento substancial da faturação.
Com o atual cenário de guerra, inflação, subida de preços e taxas de juro, como é que o setor hoteleiro se pode adaptar para manter ou superar os atuais resultados? Acredita que possam vir tempos conturbados para a indústria?
Sim, são tempos desafiantes com muita incerteza, que obrigam os hotéis a ter uma capacidade de antevisão e adaptação constantes. Deixou de haver espaço para confiarmos exclusivamente no conhecimento empírico ou ouvirmos frases como “eu acho que” ou “fazemos assim, porque sempre fizemos”. É uma altura em que a gestão requer dados sólidos para se poderem tomar as decisões certas no momento certo.
Por isso, irá revelar-se cada vez mais uma divisão entre aquelas empresas que têm estruturas sólidas e ferramentas de Revenue Management e outras que se estejam a atrasar nesta transição. Notamos isso mesmo quando falamos com profissionais hoteleiros: é curioso notar que, de um lado, temos profissionais com muitos receios e dúvidas sobre 2024, mas, por outro lado, ouvimos que os principais grupos e hotéis independentes, com estruturas avançadas de Revenue Management, estão a prever aumentos de 5%, 10% ou superiores, após um ano de 2023 que alcançou todos os recordes históricos.