Opinião: “Que rumo está a seguir o turismo?”
Leia a opinião de Graham Miller, professor de Sustainable Business e diretor académico do Nova SBE Westmont Institute of Tourism and Hospitality.

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A indústria do turismo em Portugal acaba de registar os volumes mais elevados de sempre em 2023, prevendo-se um maior crescimento em 2024 e a ambição de se tornar um dos destinos mais visitados do mundo. A recente feira da Bolsa de Turismo de Lisboa (BTL) estava repleta de empresas e de otimismo em relação aos próximos anos.
Estes resultados refletem-se em todo o mundo, uma vez que a indústria retomou o seu crescimento quase ininterrupto ao longo dos últimos 50 anos e está novamente em expansão. A Organização Mundial Turismo refere que a indústria do turismo mundial duplicou entre 2000 e 2019, atingindo 1,4 mil milhões de chegadas internacionais . As oportunidades de reflexão que a Covid-19 proporcionou parecem agora ter sido esquecidas e o objetivo é recuperar as perdas sofridas durante a pandemia e apostar no crescimento.
Entre todos os comunicados de imprensa sobre sucesso, o Tourism Panel on Climate Change , que inclui mais de 60 peritos de todo o mundo que estudam a sustentabilidade da indústria do turismo, também produziu um comunicado de imprensa. O balanço mundial que efetuaram dá-nos uma imagem de uma indústria cada vez mais incompatível com muitos dos desafios globais que enfrentam a população mundial e o planeta.
Centrando-se nas emissões de carbono, o relatório mostra que as emissões da indústria do turismo aumentaram 2,9% por ano entre 2000 e 2019, quando deveriam ter sido reduzidas em 7,5% por ano para atingir o valor líquido zero até 2050, tal como exigido pelo Acordo de Paris sobre as alterações climáticas. Talvez muitas pessoas ficarão surpreendidas por saber que o turismo produz mais carbono por cada euro ganho do que a indústria transformadora, a indústria da construção e a média global de todas as indústrias.
Uma resposta típica é acreditar (ou ter esperança?) que a tecnologia permitirá que o turismo continue a crescer, mas sem criar emissões negativas. Historicamente, a tecnologia tem produzido cerca de 1% de ganhos de eficiência por ano, um valor inferior ao do crescimento da indústria. Para alcançar os seus compromissos de neutralidade carbónica até 2050, a aviação global terá de negociar com sucesso uma quota parte dos biocombustíveis disponíveis superior ao que a sua contribuição económica para a riqueza global justifica.
Uma indústria do turismo que continua a crescer e a aumentar as emissões globais de carbono torna-se cada vez mais incompatível com um futuro com restrições às emissões de carbono. Assim, mesmo com a tecnologia, o efeito de mais pessoas a viajar, a viajar para destinos mais longínquos e a viajar de avião como modo de deslocação padrão, é o aumento das emissões, quando deveriam estar a diminuir.
Para além das emissões de carbono, sabemos que o turismo pode exercer pressão sobre as infraestruturas públicas, os preços dos alojamentos, os escassos recursos hídricos e a biodiversidade, bem como acelerar o tráfico de seres humanos, a criminalidade e a apropriação cultural.
No entanto, o turismo é também uma forte fonte de emprego, de rendimentos e de internacionalização. Trata-se de uma indústria que promove o estatuto de um país e que faz as pessoas sorrir. Os turistas estabelecem relações entre si e com pessoas de países diferentes, o que é particularmente importante numa altura em que todos nós precisamos de encontrar razões e formas de compreender melhor “os outros”.
A resposta a este paradoxo não é simples, mas sugere a necessidade de uma nova forma de turismo que seja mais conciliável com o futuro do que uma mera extensão do passado. É relevante começar a abordar a questão de quando é que o turismo é considerado suficiente? E o ponto crucial desta questão é: quem é que decide?
É claro que a indústria terá uma resposta para decidir a dimensão que a indústria deve ter, mas as pessoas afetadas pelo turismo também devem poder ser ouvidas. A natureza não tem voz, mas não perde a sua importância nesta decisão como parte interessada. O papel do governo é promover o bem-estar dos seus residentes. Para tal, é necessário entender o bem-estar como um conceito muito mais amplo do que apenas o rendimento, para o qual tomamos como medida de sucesso o número de turistas e os gastos.
Há exemplos em todo o mundo de locais que estão a perguntar aos seus residentes que tipo de turismo querem ver nas suas comunidades. Parte desta conversa levanta a perspetiva de que poderão querer menos turistas no futuro e, certamente, o pressuposto de um crescimento sem fim é posto em causa.
Estes destinos mais progressistas estão a pensar primeiro no futuro que pretendem, o que permite perceber o tipo de indústria que poderão ter, em vez de terem o futuro determinado pela indústria que sempre tiveram.
Graham Miller
Professor de Sustainable Business e diretor académico do Nova SBE Westmont Institute of Tourism and Hospitality
Artigo de opinião publicado na edição n.º 215 da Publituris Hotelaria