“A missão da marca é tornarmo-nos sustentáveis em pouco tempo”
O grupo Valverde apostou recentemente na vila de Santar com um hotel de cinco estrelas, que espera vir a “ajudar” a atingir objetivos de sustentabilidade “a médio prazo”.
Carla Nunes
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O grupo Valverde apostou recentemente na vila de Santar com um hotel de cinco estrelas, que espera vir a “ajudar” a atingir objetivos de sustentabilidade “a médio prazo”.
Texto: Carla Nunes | Fotografia: Frame It
O Valverde Santar Hotel & Spa abriu portas a 11 de agosto deste ano num antigo palacete do século XVII. Volvidos três meses desde esta abertura, a Publituris Hotelaria conversou com Adélia Carvalho, diretora-geral do Valverde Hotel, sobre este recente projeto do grupo que, recentemente, também ganhou a concessão do Palácio de Seteais, em Sintra.
O que motivou a aposta do grupo numa outra unidade hoteleira, particularmente fora de Lisboa, em Santar?
Há aqui algumas origens de património históricas e a sensibilidade de um grupo de amigos. Surgiu a hipótese pela família de Bragança, que eram donos da Casa da Fidalga, de disponibilizarem e criarem uma sociedade em que a casa pudesse servir para um hotel de luxo à imagem do Valverde Lisboa. Com o projeto de Santar veio o jardim, que é reconhecido internacionalmente, com fortes capacidades de atração para quem adora jardins. É uma atração por si só na vila, e com esse projeto, que estava já a andar muito bem, sentiu-se que era a altura certa para uma forte aposta numa hotelaria de luxo. Quando a casa surgiu – porque isto foi um grupo de sinergias que se juntou, o projeto Santar Vila Jardim, nós como grupo Valverde e a existência da Casa das Fidalgas, que hoje é o Valverde Santar – conseguimos fazer um projeto de luxo cinco estrelas que abriu recentemente este ano.
No início de 2022 previam a abertura do Valverde Santar Hotel & Spa no segundo semestre de 2022, no entanto, a abertura oficial acontece a 11 de agosto de 2023. O que levou à demora da conclusão do projeto?
Toda esta conjuntura internacional, de tudo o que passámos nestes últimos anos. No fundo é um projeto em que foi tudo recuperado, todos os livros, todo o património, todo o mobiliário. Tentámos não tirar a traça original da casa, e foi tudo utilizado nesta recuperação. Com estes projetos, tudo o que são telas, pinturas, objetos de arte, são uma obra de recuperação muito mais exigente em termos de decoração. Obviamente que os sete hectares da propriedade, que são quatro hectares de vinha e três hectares de jardim, requerem também um processo paisagístico muito exigente, e no fundo foi tudo feito como costumamos fazer, com muito carinho, cuidado, com muita história, dedicação, pesquisa também. Estamos muito contentes e fizemos bem em ter esperado, porque o resultado final ficou realmente como queríamos.
Esta é a primeira unidade que têm fora das grandes cidades de Lisboa e do Porto. Nesse sentido, que conceito podemos esperar do Valverde Santar Hotel & Spa?
Faz todo o sentido também nesta conjetura internacional. Este projeto da Santar Vila Jardim inclui a existência de hortas comunitárias, portanto o nosso propósito é ter uma cozinha muito virada da terra para a mesa. O próprio chef do nosso restaurante Memórias, o Luís Almeida, tem uma carta baseada em produtos da região, muito frescos, e inclusivamente das nossas hortas. Portanto, o conceito não é só de uma hotelaria, envolve muito a região, a vila, as pessoas, e esse foi sempre o sentido: colocar a Vila de Santar num destino, em que os jardins já fazem a sua quota-parte. Na hotelaria, o conceito foi de, no fundo, tentar fixar as pessoas que vinham para essas visitas [ao Santar Vila Jardim], tentar fixar as pessoas na região que tem um património fantástico.
Mas os hotéis que tinham são de cidade…. Conseguem adaptar-se ao campo?
É só vestir a personalidade do hotel de outra maneira. Há pontos comuns, como o conforto, o serviço, a atenção ao cliente, aqueles mimos todos que tanto fazemos na cidade como fazemos no campo. Para nós também é uma novidade, mas temos sido surpreendidos porque o campo dá-nos tudo: a paisagem que temos, o facto de termos o vinho, ter tantas coisas da horta, conseguimos surpreender o cliente tal como na cidade, com outros artigos. Ali é uma aprendizagem tanto para o cliente como para nós, para o grupo, mas que desde que abrimos tem tido muito sucesso. Também temos a boa notícia de que o Valverde Santar, à semelhança do Valverde Lisboa, vai ter a chancela da Relais & Chateaux, portanto, conseguimos a proeza de ter dois hotéis na cadeia desta chancela. A missão da marca é tornarmo-nos sustentáveis em pouco tempo, portanto, toda a fisionomia em que o hotel se desenvolve vem-nos ajudar a atingir esse objetivo a médio prazo, porque há muita coisa que vem da terra. Não conseguimos ser 100% sustentáveis na abertura, mas é um caminho que queremos fazer.
Abriram a 26 de julho deste ano. Como tem corrido a operação desde então?
Tem corrido com alguma sazonalidade, que saberíamos que ia acontecer. Os fins-de-semana são muito mais requisitados do que os dias de semana. Como produto em si, é muito bem conseguido. Temos uma piscina exterior com água aquecida, num sítio em que as pessoas permanecem em caso de bom tempo. Quando não está bom tempo temos um spa, que tem uma piscina interior também, duche sensorial e quatro gabinetes de massagem. Tivemos o cuidado de escolher a Vinoble, que é uma marca de spa constituída de grainha de uva, que faz a ligação com as vinhas da propriedade. O conceito tem sido muito bem aceite por quem nos visita e vai pernoitar lá porque é todo muito autêntico.
Esta sazonalidade ao longo da semana pode vir a ser um problema na operação?
Já estávamos a contar. Pelo estudo e pesquisa que fizemos sabíamos que podia ser uma tendência e conseguimos combatê-la. Temos alguns programas de yoga, de detox e estamos a desenvolver outras atividades, como passeios de bicicleta e a pé, [além de] atividades [relacionadas] com o fabrico do queijo na zona. Estamos perto da Serra da Estrela e da Serra do Caramulo, que na altura de inverno pode ser uma atração. Estamos a desenvolver alguns pacotes que já estão a ser muito bem aceites pelo mercado, para no fundo fazer uma proposta nesses momentos em que a atração não é tão evidente.
Unidade empregou 32 pessoas até à data
Quais diria terem sido os principais desafios deste projeto?
A dimensão do projeto em si, porque não é só um edifício, conjuga aqui várias sinergias. O querer fazer bem é sempre um desafio, porque rouba-nos sempre mais tempo. Hoje passamos [também] por um problema em relação à contratação de pessoas para a área da hotelaria. Houve aqui um cuidado de ir buscar ao mercado pessoas com talento, mas ao mesmo tempo também queríamos dinamizar a vila e fizemos questão de contratar as pessoas da região, porque no fundo contam a história da casa. Há pessoas que conseguem contar quem é que lá vivia, a história da casa, essas memórias todas, portanto, centralizámos o nosso recrutamento em pessoas da vila, que têm muito orgulho que o projeto tenha sido reabilitado, imenso orgulho que visitem a terra deles. O recrutamento foi mais demorado, mas queríamos que fosse mais efetivo, que as pessoas ficassem no hotel, que vissem no hotel uma carreira e no fundo, como grupo, têm também possibilidade de crescimento nesse sentido.
Quantos postos de trabalho criaram até agora nesta unidade hoteleira?
Estamos com 32 pessoas de momento. Claro que depois temos equipas de outsourcing para cuidar de jardinagem, de alguns espaços exteriores, e de outros serviços que são complementares.
Ainda estão a contratar?
Para o verão teremos outras atividades. Estamos a desenvolver circuitos culturais ao museu de Anadia, que é muito perto, com guias turísticos a acompanhar estas atividades, e queremos que o projeto seja todo ele autossuficiente e que dinamize não só a vila de Santar, mas toda a região à volta. Quem viaja para aquele destino quer descansar e ter experiências diferentes, de contacto com a natureza. Vamos [também] desenvolver aulas de jardinagem, [por exemplo], e queremos adaptar a toda essa riqueza que aquele sítio nos confere, que nos dá.
As áreas que temos ao dispor são áreas de receção, área de gastronomia – empregados de mesa, cozinha – área de spa, com terapeutas, relações-públicas, temos uma área de atividades, pessoas com história, museus, portanto há ali uma componente muito variada destes nossos relações-públicas internos. Temos 21 quartos e suites, não é um hotel de dimensões muito grandes, [por isso] há muito acompanhamento personalizado ao cliente. O nosso propósito no grupo Valverde é sempre dar o melhor serviço, a melhor atenção, um programa tailor-made muito customizado e, portanto, haverá sempre assistentes pessoais.
Houve alguma área para a qual tenha sido mais difícil contratar?
A área de comidas e bebidas, de Food and Beverage (F&B), exige sempre um talento mais específico. Essa é talvez uma área mais difícil de recrutamento, pela especificidade que tem.
EUA serão um mercado prioritário
Que públicos-alvo e mercados pretendem captar para o Valverde Santar Hotel & Spa?
À semelhança do histórico que temos nas nossas unidades, os Estados Unidos da América (EUA) são um mercado quase prioritário, Brasil, Canadá, México, Austrália. Temos descoberto algumas novas nacionalidades que são realmente mercados que respondem muito bem aos jardins de Santar. Diria, pela proximidade, Espanha. Portugal é sempre um país que aderiu muito bem, gosta muito de visitar estas regiões mais interiores do país. Depois são os mercados habituais: França, Inglaterra são sempre uma base muito boa para estas unidades de hotelaria.
A nível de públicos estamos a falar de que idades?
O que temos assistido é um público com médias de idades entre os 30 e os 60 a 65 anos. Temos tido algumas famílias, mas como também é um espaço um bocadinho romântico, para relaxar, tem havido muito uma permanência em casais. É ainda um bocadinho cedo para definirmos um perfil, mas diria que para quem quer descansar, ir com amigos, no fundo, viver momentos de relaxamento, é um sítio ótimo para isso.
Também no início de 2022 foi referido que a unidade tinha sido fruto de um investimento de 10 milhões de euros. Qual foi o valor final deste projeto?
Ele não se afastou muito desse valor. O valor que saiu foi exatamente o oficial que temos comunicado, manteve-se.
Que perspetivas têm para o Valverde Santar Hotel & Spa daqui a três anos?
[A de] fortalecer e tentar solidificar todos estes serviços e atividades, pôr um bocadinho o nosso cunho em todo o concelho, haver aqui sinergias e parcerias. Descobrimos imensos artesões, fabricantes de artesanato muito interessante, que queremos ter à venda na nossa loja. O nosso intuito é a dinamização da vila, e também dotar [o hotel de] um sítio para eventos, porque a propriedade é muito grande. [Queremos] realizar eventos em Santar, conseguir que seja um polo não de MICE propriamente dito, mas que use uma estrutura que está a ser desenvolvida junto ao hotel com grandes capacidades para congressos e reuniões, bem como desenvolver na propriedade a capacidade de oferta de gastronomia para fazer frente a essas reuniões e eventos.
A concessão do Palácio de Seteais
Numa entrevista dada ao Publituris em 2019 referiram que pensavam candidatar-se “a, pelo menos, dois ou três projetos do REVIVE”. Têm algum projeto em vista ou já procederam a alguma candidatura?
Neste momento o que podemos comunicar é que a partir de janeiro de 2024, daqui a três meses, teremos o Palácio de Seteais. É a unidade que vamos juntar ao grupo Valverde, e essa será a novidade.
Quais são os vossos planos para esta nova unidade?
Queremos dar continuidade a todo o trabalho que foi tão bem feito até hoje e se possível adicionar algo de valor, possivelmente desenvolver outras áreas de negócio que possam ter potencial lá. Temos muitas ideias, mas só depois de estarmos lá é que podemos falar.
Quando fala em outros negócios, refere-se à parte de casamentos, também, ou estamos a falar de outras vertentes?
Há um segmento muito forte de casamentos, que hoje já existe, e de eventos. Queremos dotar o palácio de mais infraestrutura para aquilo que ele é procurado, para eventos, portanto, queremos ter uma oferta muito qualitativa nesse segmento, tornar a própria infraestrutura mais ágil para esse mercado e para outros que possam vir.
Portanto aqui seria um investimento mais dirigido para o MICE?
Sim, para o MICE também, porque é um dos segmentos que nos parece muito importante naquele destino. A ideia é dotar o espaço ainda com mais conforto e mais capacidade de resposta a esse nível.
O que podemos esperar deste cunho do Valverde agora em Seteais?
[Vamos] torná-lo ainda mais especial, [sem] nunca tirar a traça dele. A sua personalidade está feita, por isso, é reforçá-lo e dar-lhe brilho. A nível de tecnologia, perceber o que é que lhe falta nos tempos que correm – como projeto hoteleiro o que é que pode estar a ser necessário, porque ele já atravessou várias eras. No fundo é modernizá-lo, sem perder nada do que é intocável em termos de história. No que toca à decoração, fazer alguma renovação que seja precisa. Esperamos ter um palácio ainda mais brilhante e com um conforto como o que costumamos oferecer em todas as unidades hoteleiras.
Têm ideia de quantos recursos humanos vão precisar para esta unidade?
Ainda é cedo para estar a dizer quantos postos de trabalho [vão ser necessários].
Têm mais aberturas hoteleiras em vista? Se sim, pretendem concentrar-se novamente na capital e no Porto ou expandir para outros locais?
A intenção é sempre analisar algum projeto que surja e que sentimos que conseguimos adicionar valor e que faça sentido pela sua história, que venha enaltecer a cadeia.