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“Enquanto cozinheiro tenho um papel didático e também social”

Alexandre Silva é chef-consultor no restaurante Emme, um cargo que acumula com a chefia dos seus dois restaurantes em Lisboa: o LOCO e o FOGO.

Carla Nunes
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“Enquanto cozinheiro tenho um papel didático e também social”

Alexandre Silva é chef-consultor no restaurante Emme, um cargo que acumula com a chefia dos seus dois restaurantes em Lisboa: o LOCO e o FOGO.

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Trabalhar junto com os produtores locais na criação de uma cozinha Atlântica lançou o mote para esta entrevista com o chef Alexandre Silva, que desde a abertura do hotel Immerso, na Ericeira, assume o cargo de chef-consultor do restaurante da unidade, o Emme – um trabalho que coordena com o chef residente deste espaço, Paulo Pedro.

Esta foi também a oportunidade para falar sobre os desafios dos chefs no futuro, a necessidade de dar a conhecer a gastronomia portuguesa ao mundo e ainda sobre a carreira do chef que detém uma estrela Michelin pelo trabalho desenvolvido no restaurante LOCO.

Texto: Carla Nunes | Fotografia: DR

Que conceito desenhou para o Emme?

Desenhei uma cozinha baseada em produtos da região. Posso dizer que 90% dos produtos que usamos são da região Oeste, tendo em conta a proximidade que temos com o Atlântico, daí eu chamar-lhe cozinha Atlântica. Infelizmente, é um nome que não se usa muito em Portugal – fala-se muito em cozinha Litoral, mas acho que o Atlântico tem um nome muito mais forte. “Litoral” pode ser muita coisa. [Aqui] trabalhamos uma cozinha jovem, leve, com bons produtos da região, que são fáceis de entender e são percetíveis – automaticamente consegue-se perceber que é um produto da região, com a envolvência do mar.

Não só aqui, como também noutros projetos, trabalha muito com o produto local, tem essa preferência…

Tenho. Enquanto cozinheiro tenho um papel didático e também social, que é colocar comida nas mesas dos nossos produtores e de quem trabalha para nós, indiretamente, e é por isso que escolho o produto local. Fala-se muito em sustentabilidade, que infelizmente é uma palavra que as pessoas não sabem muito bem o que quer dizer. Levam sempre para [a questão do] desperdício e a sustentabilidade não é só isso, é tudo: desde os recursos humanos, às pessoas que trabalham connosco indiretamente, que é o caso dos produtores, acabando na parte financeira, que tem de ser sustentável, caso contrário o restaurante deixa de fazer sentido. Felizmente já aprendi que tenho de andar à velocidade que a mãe natureza anda, tenho de criar com aquilo que me dá. Trabalho com aquilo que tenho, e isso para mim é consistência. Porque a consistência não é só fazer um prato bem todos os dias da mesma maneira: consistência é também criar todos os dias com o processo criativo que achamos que é melhor para nós. Os nossos clientes também vêm à procura disso, de criatividade, de encontrar uma cozinha limpa no sentido de ser jovem, bonita, leve e preocupada com a saúde das pessoas.

É mais difícil trabalhar segundo as regras da mãe natureza? Ou já é intuitivo?

Já é intuitivo, desde o momento em que aceitamos que deve ser mesmo assim. Não acho que seja uma coisa muito bizarra, que é difícil. No restaurante LOCO, em Lisboa, com uma estrela Michelin, já trabalhamos assim há sete anos, e no dia em que um cliente achar que tenho de ter aquele prato para o resto da minha vida é meio caminho andado para tirar esse prato do menu. Não quero ter de ficar fechado a um prato. Tanto este restaurante, o Emme, como o LOCO e o FOGO são restaurantes que procuram a novidade, no sentido de criar uma experiência que acrescenta ao cliente.

Muito se tem falado no setor sobre sustentabilidade, aproveitamentos e sazonalidade. Acredita que esta tendência não passa disso mesmo, uma moda? Ou veio para ficar?

Acho que já devia ser assim desde sempre, desde que se criou o primeiro restaurante no mundo. Eu trabalho com micro estações, porque há produtos que só aparecem durante duas semanas, mas temos a tendência de querer trabalhar com aquele produto durante o ano inteiro. Mesmo em termos financeiros, um produto na época é mais barato, melhor, conseguimos arranjar em maior quantidade, por isso para mim só faz sentido se for dessa maneira. Trabalhar fora da estação é um caminho completamente errado e que faz com que o mundo avance tão depressa que as coisas deixam de fazer sentido. Às tantas é só o negócio e os números que interessam e a qualidade fica esquecida numa parede qualquer da cozinha.

Falou do facto de trabalhar com cozinha Atlântica e não do Litoral. No seu entender, falta criar uma marca para a gastronomia portuguesa?

Falta. [No entanto], já há muito trabalho desenvolvido, há pessoas que se estão realmente a esforçar para levar isto numa direção que acho que é certa. Achamos que se fala muito [sobre a gastronomia portuguesa] mas não se fala nada. Viajo bastante e ninguém nos conhece, ninguém sabe quem somos. Não conhecem os nossos vinhos, não sabem que produtos temos, e é por isso que convido chefs mundialmente reconhecidos pelo trabalho que fazem no seu país para virem trabalhar connosco, conhecerem aquilo que temos, para depois levarem e espalharem essa mensagem. Temos um caminho enorme para fazer, principalmente dentro de nós, que [passa por] melhorarmos a nossa maneira de estar, de olharmos para isto de forma mais pragmática e não andarmos aqui a achar que somos os melhores quando não somos. Temos chavões muito importantes no nosso país que são ferramentas de marketing, ou pelo menos, deviam de ser.

Como conjuga o trabalho que desenvolve nos seus espaços em Lisboa, o LOCO e o FOGO, e a chefia do restaurante Emme, no Immerso?

Tenho a sorte de trabalhar com equipas boas nos locais. A ideia nasce da minha cabeça, mas depois é preciso passar a mensagem às equipas residentes. Tenho essa sorte, podia não ter. Podia ser um escravo do trabalho no sentido em que sofro de ansiedade a pensar que as coisas podem correr mal. Não é o caso.

No caso do Emme on Fire, que ainda não abriu, a ideia passa por trazer um pouco do FOGO para a Ericeira?

É trazer um pouco da essência do ADN português. Nós portugueses temos um grande papel respeitante à cozinha de fogo e ninguém fala disso. Nem nós portugueses falamos disso e achamos que é uma coisa banal. Quando falamos em cozinha de fogo achamos que os grelhados é que são importantes, e a cozinha de fogo não é só isso. A nossa cozinha nasce do fogo. A cozinha portuguesa de há 50 anos não é a cozinha portuguesa de agora. Até podemos achar que é igual, mas não é, porque cozinhar com uma panela de ferro ao lume é diferente de cozinhar com uma placa de indução num tacho de inox. É isso que quero recuperar, tenho esse dever, de trazer isso novamente para perto de nós, para que as pessoas possam sentir aquilo e para que os profissionais de cozinha também consigam entender que às vezes o mais fácil não é o melhor caminho.

Há sete anos consecutivos que tem renovado a estrela Michelin no LOCO. A pressão para manter a estrela ao longo dos anos vai-se tornando maior? Influencia o seu trabalho?

A estrela ajudou-me financeiramente a ter um restaurante mais estável, o que me permite ter uma criatividade maior. É muito difícil criar quando não se é financeiramente estável, por isso a estrela trouxe-se mais tranquilidade no sentido de criar aquilo que quero e da maneira que quero. Não me traz pressão. Quando abri o restaurante LOCO não foi a pensar na estrela. Fiquei muito contente quando ganhei a estrela no primeiro ano, porque foi um sinal de que o guia estava a mudar no sentido da oportunidade do fine dining poder ser diferente daquilo que era. O novo fine dining é mais informal, há mais storytelling, mais entrega da parte de quem trabalha naquela instituição e as coisas são mais tranquilas para o cliente.

Acredita que possa haver um destaque maior para Portugal com a recente criação de cerimónias diferentes para Espanha e Portugal da entrega de estrelas Michelin?

Estamos todos apreensivos. Espanha vai sempre ter um destaque maior, até porque é um país maior e já aprendeu a receita do que é o guia Michelin e do que procura. Têm algo que ainda não temos: eles defendem-se muito uns aos outros, aprendem muito uns com os outros, passam sabedoria uns aos outros e, infelizmente, alguns de nós ainda acham que não tem de ser assim.

Essa entreajuda ainda está em falta em Portugal?

Está. Nas relações entre cozinheiros e empresários de restauração ainda há um caminho longo a percorrer porque há muita inveja, há muito aquela coisa de “eu não consigo, então também quero que não consigas”. Parece que estamos todos a sofrer o mesmo e assim é que somos amigos. As coisas não devem ser assim. É preciso que as pessoas coloquem os dedos nas feridas e digam aquilo que é importante dizer, e não aquilo que é popular dizer. Defendo muito o que é nosso porque amo o meu país e faço tudo ao meu alcance para conseguir que Portugal chegue onde acho que deve chegar em termos gastronómicos e onde merece estar. Claro que é preciso um trabalho grande e não depende só de mim e 20 pessoas que conheço, depende de muito mais pessoas. Do Governo, principalmente.

De 2007 a 2012 começou a trabalhar pela primeira vez como chef-executivo no Bocca. Que importância tiveram esses quatro anos no seu percurso?

O Bocca está para a minha carreira como os Beatles estão para a música. Se os Beatles não tivessem existido, a música que ouvimos hoje não seria certamente a mesma. O Bocca aparece na minha vida como o marco mais importante na minha carreira, porque tive um patrão que acreditou naquilo que eu fazia e que me deixou fazer aquilo que eu acreditava. Foi aí que comecei a sentir que queria fazer alguma coisa em relação à gastronomia portuguesa.

Depois, em 2012, participou no concurso Top Chef, da RTP. Que importância teve a vitória neste concurso no seu percurso?

Deu-me mais credibilidade. Quando saí do Bocca tinha 32 anos. Fui para o Top Chef e as pessoas já me reconheciam, no sentido que conheciam o trabalho que fazia no Bocca, mas ter ganho aquela prova de profissionais foi quase como um carimbo para que as pessoas que se tornaram os clientes dos meus restaurantes percebessem que “o restaurante daquele miúdo é para visitar, vamos experimentar”. Na primeira abordagem, depois, não podemos falhar quando eles vêm aos restaurantes.

Na sua opinião, estes formatos televisivos contribuíram para a popularidade da profissão de chef? Ou esta está a tornar-se menos apelativa?

Acho que foi demasiado, no sentido de não existir um filtro. A televisão, nos concursos de cozinha, principalmente, veio fazer com que muita gente quisesse trocar a carreira que tinha, de sucesso, para ir estudar cozinha. Só que depois muitos percebem que não é aquilo que querem, porque uma coisa é a televisão, outra coisa é a vida real. Uma coisa é a ideia que temos de que os chefs de cozinha são rockstars, ganham muito bem e têm a vida de sonho, e isto depois não é assim. É uma vida difícil, as pessoas não ganham bem, os que ganham bem têm de trabalhar muito para conseguir ter essas regalias. É preciso sofrer bastante. Cheguei a trabalhar cinco meses sem folgar, 18 horas por dia. Cheguei a não ter férias durante quatro anos. Há aqui um percurso no qual não tenho orgulho, no sentido de não querer fazer isso a pessoas que trabalham comigo, porque não é justo, não faz sentido. Só que lá está, é um mundo onde há tanta concorrência, onde há tantas pessoas a querer um lugar a trabalhar num restaurante com aquela pessoa que depois, quer queiramos, quer não, acabamos por querer aquelas pessoas que são mais resilientes, mais dinâmicos, mais perspicazes, com uma energia diferente e que realmente trazem uma mais-valia a uma equipa.

Foi responsável pela abertura do Alentejo Marmóris Hotel & Spa como chef-executivo de 2012 a 2014. Foi aqui que consolidou o seu trabalho com o produto local, junto dos produtores?

Já vinha de trás, mas foi aí que coloquei um carimbo nisso, ou seja, tenho esta oportunidade agora de raiz. O conceito e os valores da cozinha estão definidos e nada vai abalar isso, custe o que custar.

Quais antecipa serem as principais preocupações dos chefs no futuro?

Recursos humanos e falta de ferramentas de liderança. A maior parte dos chefs de cozinha têm muita falta de ferramentas de liderança, de coisas que os ajudem realmente a liderar uma equipa, e para isso acontecer é preciso um trabalho grande, é preciso ajuda profissional. Olhando para trás vejo que a maior parte das pessoas com quem trabalhei passaram-me valores errados daquilo que deveria ser uma equipa, valores esses que não quero hoje dentro das minhas equipas. Neste momento, o meu papel principal é dizer aos chefs residentes dos espaços que devem ser pessoas diferentes, pessoas boas e que devem juntar bons seres humanos, com bons valores. A mim interessa-me mais um bom ser humano do que uma pessoa tecnicamente muito boa. Olho para as coisas de uma maneira diferente do que olhava há 15 anos.

Quando se fala que um dos desafios vai passar pelos recursos humanos – há quem diga que até já está a ser um desafio – o que é que tem de mudar?

Andámos durante 40 anos a fazer mal às equipas, não podemos achar agora que as coisas iam estar bem só porque de repente mudámos o chip. Quem acha isso está completamente errado e se calhar devia ter feito esse trabalho há 15, dez ou mesmo cinco anos, não é agora que não têm equipas porque pagam mal, porque não dão condições de trabalho, porque o que estão a fazer não traz nada de enriquecedor em termos técnicos. Claro que no final do dia um restaurante é um negócio e não vamos achar que podemos pagar o ordenado do chef a todos os colaboradores da cozinha, da sala ou do bar. As coisas não são assim, mas é preciso fazer alguma coisa. Vou dar um exemplo: comecei a fazer semanas de quatro dias de trabalho no FOGO e hoje não vejo aquele restaurante a trabalhar de forma diferente.

E tem resultado?

Tem. Claro que tem. Tenho uma equipa mais estável neste momento, consigo ter uma equipa mais feliz porque conseguem gerir a vida de maneira diferente – conseguem viajar, estar com a família, programar a vida com antecedência, e são três dias. Eu trabalhei metade da minha vida com um dia de folga por semana, às vezes sem isso.

Neste contexto de escassez de recursos humanos, como vê o surgimento de vários espaços de restauração em Portugal, principalmente em Lisboa?

Nota-se depois no serviço. Nada acontece por acaso e as coisas não se vão tornar em termos profissionais bem executadas só porque achamos que tem de ser assim. Acho que muitos de nós já chegámos à conclusão que temos de formar pessoas. Não podemos estar à espera que as pessoas venham formadas. Isso para mim já não é um problema. Neste momento prefiro uma boa pessoa que eu consiga formar, do que uma pessoa que vem formada cheia de vícios e que vai começar a ser um cancro na minha equipa.

Que conselhos deixa às gerações mais jovens que ambicionam chegar ao cargo de chef?

Que sejam resilientes. A vida não acontece num dia só. Independentemente de querermos que a vida passe mais depressa, porque fomos habituados a viver cada vez mais depressa, a vida tem um ritmo. E numa profissão é exatamente assim. Só depois de conseguirmos tecnicamente, e em termos humanos e relações interpessoais, atingir aquele nível, é que podemos passar para o próximo. Tentem trabalhar com as melhores pessoas que conhecem, os melhores espaços que conhecem – se bem que não é o nome dos espaços que ensina, são as pessoas que trabalham nesses espaços – e sejam muito íntegros, porque sem integridade não há nada. Podem roubar-nos tudo, menos os valores.

Que planos tem para o futuro?

Consolidar. Para mim é muito importante consolidar o que tenho para conseguir ter crescimento. O Emme, o LOCO e o FOGO são espaços que têm um potencial de crescimento enorme, mas para crescer é preciso consolidar primeiro, é preciso percebermos onde estamos a errar, riscar isso da nossa vida para depois conseguirmos andar para a frente, e é isso que quero fazer neste momento.

Sobre o autorCarla Nunes

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Hotelaria Exclusivo

Parque hoteleiro em Portugal contará com 186 aberturas nos próximos três anos

As aberturas previstas de 2024 a 2026 vão totalizar 18.446 unidades de alojamento.

Carla Nunes

Texto e dados: Carla Nunes | Fotografia: Depositphotos.com

O país vai assistir à abertura de 186 unidades hoteleiras nos próximos três anos, totalizando um conjunto de 18.446 unidades de alojamento, entre quartos, suites, villas, residências e apartamentos turísticos. Estes valores resultam de uma análise cruzada dos dados de quatro consultoras imobiliárias e das informações recolhidas junto dos vários grupos hoteleiros em Portugal, considerando os anos de 2024, 2025 e 2026.

Contudo, tendo em conta os dados de todas as unidades que a Publituris Hotelaria conseguiu recolher, incluindo alguns projetos de 2027, 2028 e os que ainda não têm data de abertura definida, estes apontam para 205 aberturas nos próximos anos, num total de 19.957 unidades de alojamento.

Para os próximos três anos, grande parte da oferta em território nacional situa-se na região Porto e Norte, com 68 aberturas, na Área Metropolitana de Lisboa, com 54 aberturas, e no Algarve, com 22 aberturas.

O segmento quatro estrelas parece dominar o cenário destas novas aberturas em Portugal, seguido pelo de cinco e três estrelas. Pelo que foi possível apurar, 69 das aberturas dos próximos três anos vão ser classificadas como quatro estrelas, enquanto 47 destas aberturas dizem respeito ao segmento cinco estrelas e sete ao de três estrelas.

Além da oferta nacional, os grupos hoteleiros portugueses vão continuar a investir lá fora. Só o grupo Vila Galé tem em vista três aberturas para 2024 no estrangeiro: duas no Brasil – com o Vila Galé Collection Ouro Preto – Historic Family Resort Hotel, Conference & Spa e o Vila Galé Collection Sunset Cumbuco Beach Resort Hotel Lagoon & SPA – e uma em Espanha, com o Vila Galé Isla Canela. Ainda sem data definida, destaque-se também os dois projetos hoteleiros em calha da Hoti Hotéis para Vigo (Espanha), e em Luanda (Angola), não se conhecendo ainda o número de unidades de alojamento destes futuros hotéis ou a classificação e investimento. Por fim, o futuro Pestana CR7 Paris já tem data de abertura marcada. Espera-se que este esteja concluído em 2027, fruto de um investimento de 60 milhões de euros.

Porto e Norte

Na região Porto e Norte, os próximos três anos vão trazer 68 aberturas hoteleiras, num total de 6.381 unidades de alojamento. Destas, 35 aberturas vão decorrer na cidade do Porto.

Da presente listagem, de destacar a estreia do grupo Altis na cidade Invicta, com a abertura do Altis Porto marcada para o primeiro semestre de 2024. Esta unidade hoteleira de cinco estrelas vai contar com 95 quartos, fruto de um investimento de 24 milhões de euros.

Refira-se ainda a aposta do grupo Tamar no Porto, que após a abertura de dois hotéis na cidade – o Laranjais e o Saboaria – prepara-se para abrir mais duas unidades na cidade portuense no verão de 2024, o Hotel Fábrica e o Hotel Arnaldo. Ambos os projetos serão classificados com cinco estrelas, sendo que o Hotel Fábrica será composto por 44 quartos e o Hotel Arnaldo por 45 quartos e cinco estúdios.

Ainda no Porto, vai nascer junto ao Jardim do Morro e da Serra do Pilar o próximo JAM Porto, um três estrelas de 130 quartos que tem data prevista de abertura para 2024. A unidade hoteleira de construção passiva, à semelhança do seu congénere em Lisboa, será alvo de um investimento de 18 milhões de euros e será composto por hotel e complexo residencial, como indicado no website do promotor deste projeto, o Nelson Group.

Na Boavista, destaque para os Smart Moov Apartments da Boavista, um projeto da Endutex de dois milhões de euros que vai acrescentar à cidade 28 apartamentos T0, T1 e T2 no segmento três estrelas no primeiro trimestre de 2024.

Este não é o único projeto da Endutex na cidade, já que tem planos para abrir o futuro Moov Hotel Campanhã em 2025. Esta unidade de 109 quartos no segmento de duas estrelas vai requerer um investimento de 8,5 milhões de euros, juntando-se a um outro projeto Moov na região planeado também para 2025, o Moov Hotel Matosinhos. Este hotel de três estrelas vai contar com 143 quartos e 45 apartamentos, fruto de um investimento de 16 milhões de euros.

Já em Vila Nova de Gaia, junto ao Rio Douro, a Mercan prepara-se para abrir o The Riverview, a Tribute Portfolio Hotel no primeiro trimestre de 2025. Este projeto de quatro estrelas vai contar com 75 quartos após um investimento de 26,25 milhões de euros.

Passando para São João da Madeira, o grupo Hoti Hotéis já deu início às obras do Meliá São João da Madeira, no Palacete dos Condes Dias Garcia – um projeto afetado pelo programa Revive. Este projeto de 4 estrelas será alvo de um investimento de 11 milhões de euros, com a preservação do antigo palacete do século XIX e a construção de uma edificação nova adjacente. Esta unidade vai contar com 100 quartos, restaurante, bar, salas de reuniões, spa e piscina exterior.

A aposta do Hoti Hotéis na região Norte estende-se a Braga, cidade onde pretende inaugurar a marca Innside no segundo trimestre de 2024, pela altura da Páscoa. O novo Innside Braga, de quatro estrelas, vai contar com 109 unidade de alojamento, após um investimento de 16 milhões de euros.

Também do grupo Hoti Hotéis, refira-se o Meliá Famalicão, um quatro estrelas de 130 quartos com abertura marcada para 2024. Já para 2025, o grupo pretende abrir o Meliá Viana do Castelo, um quatro estrelas de 130 quartos.

Centro

Viajando até à região Centro, os dados recolhidos pela Publituris Hotelaria dão conta de 12 novas aberturas, num total de 770 unidades de alojamento, para os próximos três anos.

Para o segundo trimestre de 2024 é esperada a abertura das portas do MS Collection Arouca, após um investimento de 9,5 milhões de euros. Localizado no Mosteiro de Arouca, este hotel de cinco estrelas vai oferecer 54 quartos, um restaurante com a chefia executiva do chef Rui Paula, um spa e piscinas exteriores e interior. Das valências deste hotel farão ainda parte um kids club, ginásio e campo de padel, como indicado pela MS Collection no seu website.

No capítulo dos mosteiros, também o Mosteiro de Lorvão em Penacova, abrangido pelo programa do Revive, tem data de abertura prevista para 2024, com um total de 90 quartos, resultado de um investimento de 7 milhões de euros.

No interior, Seia vai ganhar uma nova unidade hoteleira, o Hotel do Gelo, pelas mãos do Renasceia. Com 57 quartos, este quatro estrelas tem data de abertura marcada para 2024, não se conhecendo ainda o investimento realizado neste projeto. O Hotel de Turismo da Guarda também é apontado pelas consultoras como uma das aberturas para os próximos três anos, mais concretamente em 2025.

Nas Caldas da Rainha, a abertura do Montebelo Bordallo Pinheiro é apontada para 2025, um projeto de 5 estrelas com 124 quartos. Já em 2026 é esperada a abertura de um hotel de cinco estrelas com 65 quartos na Quinta das Janelas, em Óbidos.

Área Metropolitana de Lisboa

Na Área Metropolitana de Lisboa antecipa-se a abertura de 54 unidades hoteleiras nos próximos três anos, num total de 4.813 unidades de alojamento. Só na cidade de Lisboa está prevista a abertura de 43 hotéis.

Para o primeiro trimestre deste ano é prevista a abertura do Moon & Sun Lisboa, uma unidade de quatro estrelas do MS Hotels com 35 quartos, fruto de um investimento de 9 milhões de euros. Também neste primeiro trimestre é esperada a abertura do JNcQUOI House, na Avenida da Liberdade, um cinco estrelas de 21 quartos que envolveu um investimento de dez milhões de euros.

Já do grupo Inspira Hotels vão nascer dois hotéis na capital, o Inspira Santos Boutique Hotel e o Inspira Alfama. O primeiro tem abertura prevista para o segundo trimestre de 2024, após um investimento de 14 milhões de euros, apresentando 66 quartos no segmento de três estrelas. Por outro lado, a unidade hoteleira em Alfama terá 5 estrelas e 50 quartos, após um investimento de 18,5 milhões de euros.
Para o primeiro semestre de 2024 está marcada a abertura do primeiro hotel do grupo AP Hotels & Resorts na capital, o AP Lisboa, uma unidade de 4 estrelas que vai contar com 62 quartos com a assinatura de Nini Andrade Silva.

Nos próximos três anos a Amazing Evolution aposta na capital com dois projetos, o Lioz Lisbon Hotel, no Campo das Cebolas, e o Blue Palace, na Praça da Alegria. O Lioz Lisbon Hotel será composto por 13 apartamentos turísticos, esperando-se que abra portas no segundo semestre de 2024, após um investimento de dez milhões de euros. Já o Blue Palace, de 36 quartos, tem abertura prevista para 2025 no segmento de cinco estrelas, fruto de um investimento de 11,5 milhões de euros. Dentro das apostas da Amazing Evolution, destaque-se ainda o Hotel Praia do Sol, na Costa da Caparica, um projeto com 32 quartos no segmento de quatro estrelas.

Neste ano de 2024, as expetativas adensam-se para a abertura do ME Lisbon by Meliá, o primeiro hotel de luxo da marca em Lisboa. Com 213 quartos, este hotel desenhado pelo arquiteto João Paciência terá um restaurante à carta, um Radio Rooftop Bar, um ginásio, spa e health club. Às valências deste hotel acrescem mais de 600 metros quadrados de espaço para reuniões e eventos, com 11 salas de eventos flexíveis e adaptáveis.

Também para 2024 é esperada a abertura do The Standard Lisbon – Palácio Santa Clara, localizado no antigo Hospital da Marinha. Com uma oferta de 100 quartos, este hotel ficará ao lado de um complexo de apartamentos inseridos no conceito do The Standard.

Do outro lado do Rio Tejo, na Baía do Seixal, o grupo Stay Upon vai apostar na construção de mais uma unidade hoteleira, o Upon Bay, uma unidade de 4 estrelas com 102 quartos. Com abertura prevista para o primeiro trimestre de 2025, este projeto será alvo de um investimento de 24 milhões de euros.

Por fim, destaque para mais uma aposta do Memmo Hotels na capital, com a abertura do Memmo Corpo Santo no primeiro semestre de 2026. Este hotel de cinco estrelas vai ser alvo de um investimento de 3,5 milhões de euros.

Alentejo

Nos próximos três anos, e de acordo com os dados recolhidos pela Publituris Hotelaria, o Alentejo vai ganhar 16 novos hotéis, num total de 1.056 unidades de alojamento.

Para o segundo trimestre de 2024 é esperada a abertura de dois hotéis da Mercan: o Holiday Inn Express Évora, um três estrelas de 76 quartos, e o Holiday Inn Beja, um quatro estrelas com 95 quartos. Ambos os projetos foram alvo, cada um, de um investimento de 16,8 milhões de euros.

Também para este ano é esperada a abertura do Anantara Royal Vila Viçosa Resort, um cinco estrelas com 50 quartos, dez suites e 16 residências, localizado num convento do século XVI. Das valências deste hotel farão parte uma piscina exterior e interior, três restaurantes, um bar e uma adega.

Já em 2025, Évora terá um dos seus conventos transformado numa unidade hoteleira, o Convento do Carmo, através da promoção da Quantum Capital e da gestão hoteleira da Amazing Evolution. Este quatro estrelas será composto por 50 quartos e resulta de um investimento de 12,5 milhões de euros.
Em 2026, o Grand Vista Hotel Wellness & Winery promete acrescentar 36 quartos e 159 apartamentos turísticos em Borba, num empreendimento de cinco estrelas.

Destaque também para o Pestana Porto Covo Village, que apesar de ainda não ter data de abertura definida vai acrescentar 174 apartamentos turísticos à região de Porto Covo, após um investimento de 50 milhões de euros. Também ainda sem data definida está o Casas de Elvas, um projeto do grupo Vila Galé que vai resultar da recuperação da antiga fábrica da ameixa, em Elvas.

Algarve

Na região do Algarve, a expetativa para os próximos três anos passa pela abertura de 22 unidades hoteleiras, num total de 3.649 unidades de alojamento.

Para 2024 é esperada a abertura do Marriot Lagos, de 201 quartos, após um investimento de 98 milhões de euros junto à praia de Porto de Mós. Para este hotel a aposta vai recair nos segmentos de lazer e desporto, estando incluídos uma sala de cinema, spa e ginásio.

Já a 30 de março de 2025, Lagos vai ganhar um Editory by The Sea, um cinco estrelas de 204 quartos e 72 apartamentos turísticos. Ainda em 2025, neste caso no último trimestre de 2025, os Memmo Hotels preveem a abertura do Memmo Arade, um cinco estrelas de 42 quartos que será fruto de um investimento de 7,5 milhões de euros.

No segundo trimestre de 2026, destaque para a abertura do Hard Rock Beach Resort Algarve, em Portimão. O projeto para este resort de cinco estrelas com 452 quartos e suites será alvo de um investimento de mais de 100 milhões de euros. Das valências deste hotel vão fazer parte um Hard Rock Roxity Kids Club, três restaurantes, três bares, três piscinas exteriores, um Rock Spa, ginásio, uma Rock Shop, uma área de desporto e um clube de praia, bem como uma sala de conferências.

A este projeto da Mercan, com gestão da AHM – Ace Hospitality Management, vão juntar-se dois outros hotéis no verão de 2026 – o Lagos Marina Hotel, Curio Collection by Hilton e o Hilton Garden Inn Lagos, fruto de um investimento conjunto de 107,8 milhões de euros.

Passando para Castro Marim, em 2026 a The Prime Hotels vai investir 10 milhões de euros num boutique hotel de 50 quartos, o The Prime Hotel – Praia Verde. Paralelamente, a Westin pretende abrir no mesmo ano o Westin Verdelago Hotel, um hotel de cinco estrelas de 197 quartos inserido no Verdelago Resort.

Açores e Madeira

Na Região Autónoma dos Açores, nos próximos três anos são esperadas oito aberturas, num total de 748 unidades de alojamento. Por outro lado, a Região Autónoma da Madeira terá seis aberturas entre 2024 e 2026, resultando em 1.029 unidades de alojamento.

A marca Mercure, da Accor, vai abrir o Mercure Açores Ponta Delgada, localizado naquela que era a antiga Pensão Central. Com 76 quartos, espera-se que esta unidade de quatro estrelas abra portas no segundo semestre de 2024.

Também a Amazing Evolution espera abrir uma unidade hoteleira nos Açores em 2024, mais concretamente em São Miguel, com um quatro estrelas de 101 quartos. Ainda este ano, destaque também para a abertura do Quartel do Carmo Lux Mundi, na Horta. Após um investimento de oito milhões de euros, esta unidade de quatro estrelas vai acrescentar 98 quartos à região.

Na Madeira, em Porto Santo, a abertura do Dreams Madeira Resort Spa & Marina, do grupo Hyatt, é apontada para agosto de 2024. Com um total de 366 quartos, este hotel vai disponibilizar quatro piscinas, incluindo um parque infantil e uma piscina só para adultos, seis restaurantes, seis bares, uma geladaria e entretenimento ao vivo.

Já a abertura do Moon & Sun Funchal pela MS Hotels é apontada para o primeiro semestre de 2025, após um investimento de 7,5 mil euros.

Segue-se o Pestana Dunas, em Porto Santo, com data de abertura prevista para o segundo trimestre de 2025. Numa primeira fase, este quatro estrelas vai contar com 220 quartos, sendo que o total serão 390 unidades de alojamento.

Por fim, o Funchal vai contar com um The Editory By The Sea a 28 de fevereiro de 2025, num cinco estrelas com 98 quartos.

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Hoteleiros continuam aposta em remodelações

Nos próximos três anos os hoteleiros têm em vista remodelações para melhorar valências e criar novos hotéis.

Carla Nunes

Texto: Carla Nunes | Fotografia: DR

Para os próximos três anos, os hoteleiros têm previstas remodelações quer para melhorar as valências dos hotéis, quer para os transformar em novas unidades hoteleiras.

Na região Porto e Norte, a Casa da Calçada Relais & Châteaux, em Amarante, será alvo do maior valor de investimento de renovação, 12 milhões de euros, que vai abranger todas as áreas do hotel. Nesse sentido vão ser remodeladas as áreas comuns e os quartos, além de serem criadas novas salas de eventos e um novo spa com ginásio. A renovação estende-se aos percursos vínicos, prevendo-se que a obra fique completa no final de 2024.

Ainda no Norte, os Hoteis do Bom Jesus vão investir na requalificação do Hotel do Templo e do Hotel do Elevador, em Braga num valor conjunto de 3,5 milhões de euros, enquanto o Porto Palácio Hotel tem em vista a aplicação de 350 mil euros para a renovação das salas de reunião.

Também da Relais & Châteaux, desta vez na Área Metropolitana de Lisboa, o Fortaleza do Guincho – Relais & Châteaux será alvo de uma remodelação nas áreas do lobby, restaurante, casas de banho dos quartos e áreas de serviço, prevendo-se que a obra de 1,8 milhão de euros fique completa a 18 de março de 2024.

No âmbito das grandes remodelações, o Altis Grand Hotel vai ser alvo de uma renovação que inclui os dois pisos de quartos, as três “Suites Embaixador”, os apartamentos das Altis Suites e a instalação de bombas de calor.

Destaque também para as obras de manutenção e requalificação do Palácio de Seteais, cuja concessão foi recentemente atribuída ao grupo Valverde. Desta forma, o atual Valverde Sintra Palácio de Seteais será alvo de um investimento de 22,65 milhões de euros em remodelações “ao longo do tempo”, como o grupo já referiu em comunicado.

Ainda na área abrangida pela Área Metropolitana de Lisboa, o grupo Independente prepara-se para alargar a sua mais recente unidade na Comporta, com o acrescento de 30 villas. O Independente Comporta vai ganhar ainda um espaço de vinha, campo de paddle e ténis e uma horta biológica.
Também o Memmo Principe Real vai aumentar a sua capacidade de 41 para 61 quartos, para o qual prevê alocar 6,5 milhões de euros.

Passando para a região Centro, o grupo Natura IMB Hotels tem em vista a remodelação de duas das suas unidades, num valor conjunto de 2,5 milhões de euros. No caso do H2otel Congress & Medical Spa, os quartos e zonas comuns vão ser requalificados, além de se transformarem dez unidades standard em cinco suites premium. Será também criado um espaço de leitura, numa renovação que se prevê estar concluída no primeiro semestre de 2024. Já no Hotel Lusitânia Congress & Spa será feita uma “conceptualização da oferta, associada à sustentabilidade”.

No Alentejo, destaque para a renovação das zonas comuns e quartos do Moov Hotel Évora, um projeto que deverá estar terminado a 31 de janeiro de 2024 após um investimento de 387.000 euros. Já no Algarve, o AP Adriana Beach Resort prevê abrir novas valências em fevereiro de 2024, com a construção de dois novos jogos de água e um parque infantil, a reconversão de um campo de ténis para campo multiusos/futebol e a renovação de áreas comuns.

Remodelações que dão vida a novos hotéis

Além da melhoria de valências, a recolha de dados junto dos vários grupos hoteleiros em Portugal demonstrou situações em que as remodelações são aproveitadas para criar novos conceitos ou até mesmo novos hotéis.

É o caso do Vila Galé Collection Figueira da Foz, localizado no antigo Grande Hotel da Figueira, que após um investimento de 2 milhões de euros prevê renovar 102 quartos, bar, restaurante, lobby e receção, além de acrescentar uma pizzaria Massa Fina, piscina exterior e uma área de spa.

Da mesma forma, o Wilde Aparthotels by Staycity vai nascer na Rua Castilho, em Lisboa, onde se situava o antigo Hotel Diplomático. Um investimento de 11 milhões de euros será utilizado para renovar 95 quartos, restaurante, bar no rooftop e estacionamentos, prevendo-se que a obra fique concluída ainda em 2024.

No Algarve, o Pestana Delfim vai ser renovado para dar lugar ao Pestana Blue Alvor Beach, que se antecipa que abra portas a maio de 2024 com quartos renovados, novos restaurantes e novas áreas comuns.

Por fim, na Região Autónoma da Madeira, o antigo Paul do Mar Sea View Hotel vai dar lugar ao Memmo Paúl do Mar, um hotel de cinco estrelas com 61 quartos que deverá abrir no último trimestre de 2025, após um investimento de 9,5 milhões de euros.

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“A participação de empresas do canal Horeca é fundamental para a Lisbon Food Affair”

As empresas do setor Horeca representam cerca de 30% do espaço expositivo da 2ª edição.

Carla Nunes

Texto: Carla Nunes | Fotografia: DR

A Lisbon Food Affair (LFA) regressa este ano à Feira Internacional de Lisboa (FIL) para uma segunda edição. Após a estreia do evento no ano passado, no qual participaram cerca de 200 empresas, Marina Calheiros, gestora coordenadora da Lisbon Food Affair, dá conta dos números deste ano e das perspetivas para a feira que decorre de 4 a 6 de fevereiro.

A primeira edição da Lisbon Food Affair teve lugar o ano passado. Que balanço fazem deste evento?

A Lisbon Food Affair realizou a sua primeira edição em fevereiro de 2023 com um balanço positivo. A participação das cerca de 200 empresas, nacionais e internacionais, traduziu-se numa taxa de concretização de negócios acima dos 80% e uma intenção de retorno de participação para a 2ª edição acima dos 75%.

Já por parte dos visitantes profissionais, 73,3% deslocou-se à feira com intenção de fazer negócio e 92% tenciona repetir a visita nesta edição de 2024.

O objetivo proposto para a internacionalização, um dos eixos estratégicos do evento, realizou-se igualmente com sucesso, através do programa de Hosted Buyers, que permitiu a realização de mais de 200 reuniões entre compradores internacionais e empresas participantes, que resultaram em negócios efectivos, realizáveis a curto prazo, para a maioria dos participantes.

Quantos expositores vão ter este ano? O número aumentou em relação ao ano passado?

O evento está ainda em fase de comercialização, pelo que não é possível avançar já com o número total de empresas participantes, mas podemos afirmar que a resposta que estamos a registar por parte de empresas e entidades ligadas ao setor nos tem deixado satisfeitos.

De salientar que, sendo a inovação um dos principais pilares da LFA, é com satisfação que verificamos que neste momento 48% das empresas inscritas participam pela primeira vez nos vários setores.

Quais os principais segmentos do setor presentes nesta edição?

A Lisbon Food Affair tem como objetivo representar toda a fileira do agroalimentar, pelo que se apresenta em três salões: Food & Beverage, Horeca e Technology.

O Food & Beverage reúne a oferta alimentar e bebidas onde vão estar presentes produtos regionais, a indústria e distribuição de alimentos e bebidas, investigação e polos académicos, entidades oficiais, setoriais e regionais, implantados em áreas de exposição como o Multi Food, o LFA Food Lab, o Regiões.pt, o Deli Foods, o Vini.pt, Tendências e a Área Internacional, onde se reúnem as participações oficiais de países, regiões e entidades estrangeiras que participem de forma direta ou agrupada em representação de empresas e produtos internacionais.

O salão Horeca, agrega a oferta para os setores da hotelaria e restauração, com a participação de fabricantes e distribuidores de máquinas e equipamentos para hotéis, restaurantes, cafés, pastelarias e bares.

No Technology encontramos a oferta de tecnologia máquinas e equipamentos para a indústria e distribuição alimentar. De caráter transversal, esta área cobre todas as necessidades tecnológicas presentes na cadeia alimentar, desde os ingredientes até à embalagem, passando pela manipulação, transformação, logística e distribuição comercial.

Assim, teremos a participação de várias tipologias de empresas e entidades na Lisbon Food Affair, desde start-ups a empresas de grande, média e pequena dimensão, escolas profissionais e tecnológicas e empresas com projetos I&D.

E quanto ao número de visitantes, quantos esperam este ano?

Se na parte da exposição o objetivo é ter uma representação de toda a fileira, também na vertente dos visitantes esse objectivo se mantém, esperando o interesse e intenção de visita de profissionais ligados a cada área e sectores que compõem a LFA.

Sendo um evento exclusivo a profissionais do sector, nacionais e internacionais, ambicionamos acolher cerca de 10.000 visitantes.

Quantas empresas internacionais estarão presentes neste evento?

A participação de empresas internacionais representa neste momento cerca 23% do total de empresas inscritas, quer participando de forma direta, quer através de participação agrupada ou como participação de determinado país. Neste momento já podemos confirmar a participação de empresas provenientes do Brasil, Eslováquia, Espanha, França, Itália, Peru, Tunísia, Uruguai, Letónia e Índia.

A edição deste ano vai contar com buyers internacionais?

Neste momento já são mais de 30 os mercados emissores internacionais inscritos para a edição de 2024, com compradores de países como Alemanha, Angola, Arábia Saudita, Argentina, Bahrain, Bélgica, Brasil, Canadá, China, Chipre, Colômbia, Espanha, Emirados Árabes Unidos, Equador, França, Grécia, Hong Kong, Índia, Irlanda, Itália, Lituânia, Marrocos, México, Omã, Países Baixos, Polónia, Reino Unido, Roménia, Tunísia, Turquia, USA, Uruguai.

De salientar que o programa de hosted buyers desenvolvido pela LFA é destinado a todas as empresas e compradores das várias áreas do evento.

Que percentagem assume o canal Horeca na Lisbon Food Affair de 2024?

O canal Horeca assume uma área com uma representação na ordem dos 30%, com uma mostra transversal aos vários produtos e serviços para este setor. A participação de empresas do canal Horeca é fundamental para um evento como a LFA, sendo Portugal um país onde a forte componente turística é relevante para a economia.

O evento vai ter programação paralela além dos expositores? Que atividades têm confirmadas?

Sim. A Lisbon Food Affair é uma feira de experienciação e por isso as atividades paralelas ocupam um lugar fundamental, como os workshops, talks, espaços e ações temáticas. Vão também ser realizadas ações específicas de apresentações de produtos, dinamizadas pelas próprias empresas e showcookings.
Haverá um lugar destacado – LFA Innovation – para a montra da inovação com exposição permanente de produtos inovadores lançados no mercado em 2023/24. A abordagem aos temas da sustentabilidade, fatores ESG, gestão de desperdício no setor alimentar têm-se tornado cada vez mais relevante devido à crescente conscientização global sobre questões ambientais e sociais, [razão pela qual serão debatidos] assuntos como a redução do desperdício alimentar, a gestão da cadeia de abastecimento, a sustentabilidade e o uso de novas tecnologias na produção, certificações sustentáveis, redução do uso de materiais nocivos e sua substituição por embalagens sustentáveis e recicláveis.

Nos últimos tempos, o setor parece ser unânime ao apontar que as principais tendências prendem-se com a preocupação pela saúde, bem-estar e sustentabilidade. Acredita que estas tendências vão transitar para 2024, ou vamos assistir ao surgimento de outras tendências nesta área?

Acredito que essas tendências se vão manter. São tendências ou áreas de negócio que vão ao encontro da exigência do mercado e necessidades crescentes dos diferentes negócios. Estamos perante uma nova realidade de consumo, desde logo pelas alterações nos hábitos, pela maior consciência ambiental ou pelo maior grau de exigência dos consumidores nos aspetos da saúde e bem-estar. Todos estes fatores trazem mudanças significativas ao mercado, o que exige que as empresas pensem de forma diferente, ajam e se adaptem a este novo paradigma.

A questão do aumento de preços na alimentação agudizou-se em relação aos anos anteriores, fruto da crescente inflação. Neste contexto, que futuro traça para o setor?

O setor agroalimentar português é o maior setor industrial do país, tanto ao nível da criação de riqueza, como de emprego, e conta com uma elevada notoriedade nos mercados externos, sendo reconhecido internacionalmente pela qualidade e inovação dos seus produtos. É um setor que tem feito um percurso de desenvolvimento notável ao longo dos últimos anos, tornando-se mais organizado, profissional, inovador e orientado para o mercado. As empresas têm conseguido adaptar-se aos novos padrões de consumo, às novas tendências e apostado no desenvolvimento de produtos que são cada vez mais valorizados nos mercados externos. É, assim, um setor muito competitivo em todo o mundo.
A Lisbon Food Affair será um instrumento para potenciar, ainda mais, a relevância deste sector e, assim, contribuir para o robustecimento da economia e competitividade do nosso país.

Quais são as perspetivas para a edição deste ano?

Positivas, dado que o evento está a ter uma boa recetividade do mercado, nomeadamente junto de novas empresas que ainda não exploraram este marketplace para a realização dos seus negócios. Também pela importância que a Lisbon Food Affair tem na dinamização transversal do setor, mas sobretudo pela estratégia adotada, mais focada na realidade do mercado e mais orientada para a concretização de negócios.

Esta segunda edição da Lisbon Food Affair ocorre num momento muito desafiante para toda a fileira do agroalimentar, marcada pelas alterações nos hábitos de consumo registados no pós-pandemia, pela guerra na Europa, pelas dificuldades relacionadas com a logística e com o preço dos transportes, bem como pelo aumento da procura de produtos diferenciados, por oposição a uma oferta massificada.

Como sabemos, onde há mudança, há oportunidades. Por isso, temos como expectativas que o evento se afirme como o palco onde as empresas se podem posicionar proactivamente e mostrar aos mercados as suas soluções, a sua inovação, estratégia, as suas marcas. Ser um espaço de experienciação, onde em tempo real, é possível perceber a reação e aceitação do mercado nacional e internacional à oferta apresentada.

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“Quando ingressamos no mundo do trabalho é que damos realmente valor àquilo que é a hotelaria”

Arnaldo Azevedo assume a chefia do restaurante Vila Foz, do Vila Foz Hotel & SPA.

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Texto: Carla Nunes | Fotografia: DR

A introdução à restauração começou cedo, no restaurante dos pais em Ermesinde. Já o gosto pela área veio depois, com as primeiras experiências na cozinha e o curso na Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira. Hoje, o chef Arnaldo Azevedo está à frente da cozinha do restaurante Vila Foz, inserido no hotel Vila Foz Hotel & SPA, para o qual trouxe uma estrela Michelin. O percurso pela hotelaria algarvia e no Hotel Teatro, bem como a obtenção da estrela Michelin, marcam a entrevista com o chef que não esconde que esta “é uma profissão que nos absorve bastante e que exige muito de nós”.

Cresceu no seio de uma família que já trabalhava na restauração, neste caso com um restaurante próprio, o Toca da Formiga, em Ermesinde. Sente que esse contexto o “empurrou” para esta profissão?

Inicialmente não me passava de todo pela cabeça seguir hotelaria. Mais tarde, quando deixei de estudar e disse ao meu pai que queria ir trabalhar, e ele me disse que ia trabalhar no restaurante, aí já despertou algo. Comecei por ajudar a minha mãe na sala. Depois, comecei a achar piada à cozinha. À noite já era eu que preparava o jantar para nós, gostava de dar uma vista de olhos nas revistas e nos livros de culinária que o meu pai comprava. Foi aí que despertou o interesse em querer mais e posterior a isso, seguir a formação.

Seguiu-se o curso na Escola de Hotelaria de Santa Maria da Feira. Que importância teve esta formação no seu percurso?

A escola é sempre muito importante para podermos dar os primeiros passos para podermos ter uma base mais sólida. No entanto, quando ingressamos no mundo real do trabalho é que damos realmente valor àquilo que é a hotelaria, porque na escola temos uma abordagem superficial. No meu tempo havia bastante exigência, coisa que hoje já está mais ténue. Na altura só estava na escola quem realmente queria esta profissão. Hoje, não. Como o curso é mais brando, toda a gente acaba por se formar, mas depois tem o reverso da medalha: quando entram no mundo do trabalho e começam a ver que a realidade não é aquela que presenciaram no curso, então aí começam a dar os passos para trás e muitos deles desistem.

A que exigência se refere?

Essencialmente com a disciplina, humildade, rigor naquilo que se faz. A disciplina abrange a maneira como se apresentam, o rigor nos horários, e não estarmos constantemente a olhar para o relógio para ver quando é o horário de saída.

São essas as bases para singrar neste mundo?

Não são só essas, mas essas serão sem dúvida das mais importantes para se aguentar a pressão que é a hotelaria. É um regime muito pesado, acabamos por quase não ter tempo para nós, muito menos para a família, e daí das duas uma: ou temos uma preparação prévia, ou quando batemos de frente com o mundo real é um choque muito grande.

Fez depois os estágios do curso no Algarve. Foi uma mudança grande, de Norte para Sul?

Não foi uma mudança muito grande porque sempre gostei bastante do Algarve. Conseguia juntar o útil ao agradável: conseguíamos trabalhar, ter a diversão, a praia e o bom tempo. Claro que quando temos 20 anos é uma maravilha. No meu caso não seria para permanecer muitos anos. Fiz uma passagem de quatro anos e chegou.

Foi passando sempre por restaurantes de hotel?

Os primeiros anos, sim. No último ano estive num restaurante de rua, não tinha o hotel associado.

Notou muitas diferenças no serviço de um para o outro?

Bastantes. No hotel estive numa cadeia grande, no Sheraton Pine Cliffs, que no meu tempo tinha uma diversidade enorme de restaurantes abertos. Tive a oportunidade de passar por quase todos eles, o que foi bom, porque conheci vários tipos de cozinha, várias nacionalidades de chefs. Numa fase inicial, acho que foi bastante importante. Claro que um restaurante de rua tem outras condicionantes que, a meu ver, acabam por ser tanto ou mais importantes do que os restaurantes de hotel, porque temos uma realidade diferente. Não temos o suporte de um hotel por trás para pagar contas, então é importante que o que estamos a fazer seja rigoroso, porque o restaurante depende do restaurante.

A cozinha de hotel sempre foi o objetivo de carreira na restauração, ou passava por outro percurso?

Não havia um objetivo vincado. Na altura estava familiarizado com as duas situações, tanto de restaurantes de rua como de hotel. Quando cheguei ao Porto aquilo que surgiu foi um restaurante inserido dentro de um hotel. Sempre tive bastante presente que o que queria fazer e transmitir era quebrar um bocadinho aquele feitiço que existia dos restaurantes de hotel, e criar um restaurante que fosse visto como um restaurante perfeitamente normal, de rua, inserido num hotel. Tudo o resto funcionava de igual forma. Tive sorte de conseguir isso logo no primeiro projeto que abracei, que foi o Hotel Teatro. Permaneci lá oito anos e agora fiz a passagem para o Vila Foz, sendo que a administração é a mesma.

A que se refere quando fala de “quebrar o feitiço dos restaurantes de hotel”? Tem a ver com a ideia de que o restaurante é só para os hóspedes do hotel?

Há um conjunto de fatores que há uns anos inibia bastante as pessoas de frequentar os restaurantes de hotel. Primeiro, porque achavam que era demasiado caro para aquilo que serviam. O tipo de serviço não era, de todo, um serviço tranquilo, as pessoas achavam que era sempre um serviço demasiado elaborado. Na maioria dos hotéis trabalhavam sempre com buffets e nós já há 13 anos trabalhávamos com menus de degustação, coisa que não era muito normal ver-se na altura num restaurante de hotel – era mais normal ver-se num restaurante de rua, gastronómico. A ideia foi precisamente demonstrar que se podia fazer tudo isso num restaurante de hotel.

O rigor e disciplina para chegar à estrela Michelin

Chegou ao Vila Foz em 2019 e em 2021 receberam a notícia de que ganhariam a estrela Michelin para este espaço. Já tinha a estrela como objetivo quando veio para esta cozinha?

Inicialmente não, até porque quando abrimos o hotel a ideia era fazer um clássico com pratos da cozinha tradicional, puxando cada vez mais pelo serviço de mesa, devido à beleza da sala. Claro que toda a bagagem que trazíamos, e os vários clientes que fomos fazendo ao longo destes anos, quando nos vieram visitar acharam estranho, porque tivemos durante oito anos a fazer uma cozinha de autor, e de repente fazemos uma mudança radical e queríamos abrir um restaurante que nem menus de degustação tinha. Era uma culinária mais portuguesa, mas com uma mise en scène e um serviço acima da média. As pessoas gostavam, mas estavam à espera de ser surpreendidas com o facto que poder usufruir dos menus de degustação, o que nos levou a puxar a cassete novamente atrás e a refazermos aquilo que era a ideia inicial. A partir daí começamos a ter as duas coisas: à carta, alguns clássicos da cozinha tradicional, e menu de degustação. Com a pandemia o restaurante esteve fechado e quando abrimos decidi trabalhar somente com menus de degustação. Foi quando caiu o prémio, em boa altura.

O que é preciso para alcançar a estrela? Ou melhor, o que é que diria que fez a diferença, ou que passos foram fundamentais no seu percurso para chegar até à estrela Michelin?

Não há nada escrito que diga quais são os passos para se alcançar uma estrela. Acho que acima de tudo é haver bastante rigor, disciplina e trabalhar sempre com o melhor produto que nos chega. Devemos seguir o nosso caminho, mostrar aquilo que gostamos de fazer. É um trabalho diário que tem de ser feito, bastante consistente.

À medida que os anos passam, a pressão para manter a estrela é maior? Ou o nervosismo acresce mais quando se está a trabalhar para ganhar mais uma estrela?

O nervosismo é sempre constante, porque queremos sempre fazer cada vez mais e melhor. Vem de querermos ter uma consistência diária que muitas das vezes pode ser posta em causa devido à instabilidade de recursos humanos. De resto, a partir do momento em que trabalhamos com uma matéria de excelência e fazemos um trabalho extraordinário diariamente, é confiar naquilo que fazemos e ter a certeza de que aquele é o caminho correto.

Manter uma equipa estável na cozinha tem sido um desafio?

É sempre um desafio. Para já porque existem milhentos restaurantes e as pessoas muitas das vezes não estão para estar nos sítios muito tempo. Antigamente, quando se entrava para a hotelaria, estava-se quase uma vida inteira nos mesmos espaços. Hoje as camadas mais jovens já não pensam assim, já são mais saltaricos – querem estar um ano aqui, um ano ali. Claro que cabe a nós também dar boas condições para que as pessoas permaneçam o máximo de tempo possível quando assim valem a pena.

Atualmente, em Portugal, só existem restaurantes com duas estrelas Michelin. Na sua opinião, o que falta para a restauração nacional conseguir alcançar as três estrelas?

Isso é um tema bastante delicado e muito complicado. Vim da gala da Michelin em Espanha, em Barcelona, e realmente em Portugal, que é um país vizinho, não se entende porque é que ainda não há um três estrelas. Mas se calhar, quem sabe, este ano até poderá haver surpresas, visto que o guia foi separado. Claro que é sempre um guia com bastante mistério e não há ninguém que possa explicar o porquê. Só mesmo internamente no guia é que eles devem ter alguma razão para ainda não o terem feito ou por estarem à espera da altura certa para o fazerem.

O desafio de continuar a surpreender

Que cozinha trabalha no Vila Foz e no Flor de Lis?

No Vila Foz trabalhamos uma cozinha de autor, sempre com um vinco bem presente em alguns pratos das bases da cozinha tradicional. Podemos perfeitamente fazer uma cozinha elaborada sem esquecer a base de que somos feitos, que é a cozinha portuguesa. Quando trabalhamos com o público estrangeiro, é sempre muito importante as pessoas que nos visitam levarem alguma coisa da nossa história.

E no caso do cliente nacional, é possível continuar a surpreender, mesmo que a cozinha seja a tradicional portuguesa?

Sim, porque mesmo o cliente nacional acha sempre imensa piada ao facto de conseguirmos transformar um prato da cozinha tradicional em alta cozinha.

Que ingredientes não podem faltar na sua cozinha?

Azeite, ervas aromáticas fresas, peixes e mariscos estão sempre presentes, até porque a nossa carta é 90% peixes e mariscos e temos apenas um prato de carne.

Houve algum chef, ou chefs, que o tenham marcado a nível profissional?

Antes de abraçar o projeto Hotel Teatro trabalhei com um chef austríaco, o Siegfried Danler-Heinemann. Já na altura era braço direito do chef e tínhamos uma estrela Michelin. Foi uma pessoa que me marcou pela sua personalidade, pela maneira de trabalhar, pela maneira como apesar de ser estrangeiro estava em Portugal e como via o nosso produto – foi isso que o cativou e que o fez permanecer em Portugal. Ainda hoje há coisas que faço na cozinha que lhe devo a ele.

Qual diria ser o principal desafio dos chefs atualmente?

Com a quantidade de restaurantes que existem atualmente e que continuam a abrir, o principal desafio é a parte criativa, de conseguirmos sempre surpreender. Hoje a escolha é tanta em termos de restaurantes que o desafio maior é conseguirmos que o cliente que nos visita saia sempre surpreendido e que volte, acima de tudo. Quando as pessoas vêm é porque há alguma coisa que realmente marca a diferença, porque caso contrário optam por ir a outro sítio.

Que conselho deixa às gerações mais jovens que ambicionam chegar a chefs?

Acho que a ambição de chegar a chef é uma coisa que vem com o tempo, não deve ser uma ambição. A ambição deve ser: ter a certeza daquilo que se quer. Se é realmente esta a profissão que quer, tem de se dedicar, mas dedicar a sério. O problema é que hoje em dia é tão raro que realmente é quase como encontrar uma agulha no palheiro, encontrar alguém que queira dedicar-se a isto e fazer disto vida. Somos pessoas normais e como é lógico também temos de ter família, mas isto é uma profissão que nos absorve bastante. Temos de estar preparados para assumir. Ou se assume ou não se assume. Quando se assume, não podemos virar as costas e achar que os fins-de-semana ou a vida social são mais importantes. Há espaço também para essas coisas, mas é uma profissão que nos absorve bastante e que exige muito de nós. Ou queremos, ou não queremos. Se estamos na dúvida, o melhor é não arriscar.

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“As marcas hoteleiras dominam o setor de branded residences”

A Savills estima que as marcas não hoteleiras representarão 20% da oferta total até 2030. Já em Portugal, o segmento é dominado por marcas hoteleiras, destacando-se a Marriott, Hyatt e Hilton.

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Texto: Carla Nunes | Fotografia: Frame It

No estudo Branded Residences Report, a Savills deu conta de que o mercado internacional de branded residences aumentou mais 160% na última década, prevendo-se que sejam entregues até 2030 mais 600 projetos.

Em território nacional, se os primeiros projetos de branded residences surgiram na região do Algarve, destinados a compradores e utilizadores internacionais, “este segmento tem vindo a expandir-se para outras regiões do país, conquistando mercados mais rurais”. A afirmação parte de Paula Sequeira, Consultancy & Valuation Director da Savills Portugal, que em entrevista à Publituris Hotelaria explica como é que este segmento tem crescido em Portugal e a sua interligação ao ramo hoteleiro.

Como descreve a evolução do mercado de branded residences a nível internacional na última década? Este mercado tem crescido ou diminuindo desde então?

De acordo com o mais recente estudo publicado pela equipa internacional de consultoria da Savills, o Branded Residences Report, o número de projetos desta tipologia aumentou mais de 160% na última década, com novas marcas, localizações e uma mudança nas comodidades destinadas a impulsionar o setor. Com mais de 690 projetos concluídos em todo o mundo, espera-se que mais 600 sejam entregues até 2030. Verificamos, portanto, uma evolução notável deste segmento do imobiliário.

Quais os segmentos hoteleiros que dominam este mercado?

As branded residences surgem no âmbito de uma atmosfera de “luxo” e destinam-se, sobretudo, à população com maior poder de compra. No entanto, estes produtos residenciais, nomeadamente os dos segmentos de luxo e de luxo superior, são cada vez mais comercializados e direcionados para um público mais abrangente.

Em nota de imprensa referiam que “assistimos à entrada de marcas não hoteleiras de uma vasta gama de setores”. Dentro deste segmento, que marcas não hoteleiras têm liderado nas branded residences e quais os setores que mais têm participado neste mercado?

Nos últimos anos, assistimos à entrada de diversas marcas dos setores de moda, automóvel e design neste segmento de mercado. A YOO continua a figurar no topo da lista, mas marcas como a Pininfarina, a Elie Saab e a Versace deverão subir na classificação nos próximos anos.

Quem domina o mercado atualmente, as marcas hoteleiras ou não hoteleiras? Preveem alguma alteração nesta liderança?

As marcas hoteleiras dominam o setor de branded residences. No entanto, a Savills estima que as marcas não hoteleiras representarão 20% da oferta total até 2030, um aumento de aproximadamente 40% em relação aos níveis atuais.

Como tem estado a procura por branded residences internacionalmente? A tendência será para crescer ou diminuir?

Se olharmos para os números que nos são apresentados a uma escala global, percebemos que a procura pelo segmento de branded residences é um fenómeno que não irá desaparecer tão cedo, pelo contrário.

Qual o perfil e motivação dos compradores de branded residences a nível mundial?

O perfil e a motivação dos compradores são fatores que registam uma variação ao longo do tempo, mas, por norma, incluem sempre a confiança na marca, assim como a privacidade e segurança que a vida num empreendimento desta tipologia poderá oferecer sendo que, para alguns compradores, a motivação se prende com o seu lado mais emocional ou de status. As alterações nos padrões de utilização continuam também a influenciar as preferências dos compradores. Por exemplo, com este novo paradigma de trabalho flexível e híbrido, as pessoas estão a utilizar as suas segundas residências durante períodos mais longos.

Que perspetiva traça para 2030 a nível mundial nas branded residences?

À medida que a economia global continua a integrar um número crescente de indivíduos com elevado património líquido e com um estilo de vida internacional, existirá sempre uma procura crescente de branded residences a uma escala global. Esperamos que esta procura continue a registar níveis elevados nas cidades a nível mundial, que são centros de negócios e de educação e que oferecem estilo de vida, atrações culturais e experiências únicas enquanto fatores importantes para os potenciais compradores e as suas famílias. Entretanto, novas marcas entrarão também neste mercado e as marcas já existentes reforçarão as suas ofertas residenciais. Por sua vez, as marcas de luxo e de ultra luxo no segmento hoteleiro vão provavelmente contemplar uma abordagem mais agressiva e, potencialmente, de produto de investimento, que se destina a clientes cujo foco é o investimento.

Segmento cresceu mais 230% em Portugal

Passando para o espetro nacional, como descreve a evolução das branded residences nos últimos dez anos?

Os primeiros projetos de branded residences em Portugal surgiram na região do Algarve, localização que ainda hoje regista o maior número de esquemas de branded residences a nível nacional. Para esta situação contribuiu o facto de que os mesmos, quando surgiram, terem sido essencialmente destinados a compradores e utilizadores internacionais. Atualmente, esta situação experimentou uma ligeira alteração, sendo já possível identificar a existência e/ou intenção de promoção deste tipo de esquemas na zona da Comporta, Tróia, Melides, cidade de Lisboa, cidade do Porto e Costa de Prata (região costeira entre a Barrinha de Esmoriz, no distrito de Aveiro, e o concelho de Torres Vedras). Esta expansão acompanhou o crescente interesse do público internacional nestas mesmas localizações.

No estudo apontam para sinais de crescimento. Conseguem indicar uma percentagem destes últimos dez anos em Portugal?

Olhando para os últimos dez anos, desde 2013, os esquemas de branded residences refletidos nos nossos estudos de mercado apresentavam um volume unitário de cerca de 520 branded units registando, até ao presente ano, um crescimento aproximado do volume global de mercado de +230%.

Segmento expande para outras regiões do país

Qual o cenário atual das branded residences em Portugal? Quantas existem no total?

Atualmente, tendo em conta os projetos de branded residences que incluímos nas nossas anteriores análises de mercado, verificamos que foram concluídas, no total, 1.730 unidades. Este valor reflete um crescimento de aproximadamente 1.061% entre as primeiras branded residences do Pine Cliffs, em 2000, e o volume de mercado atual em 2023.

E como descreve a procura por branded residences em Portugal? Prevê que esta vá crescer ou diminuir nos próximos anos?

A procura por branded residences tem vindo a crescer, tanto a nível de compradores e utilizadores internacionais como nacionais. Prevê-se que assim continue, com a crescente globalização das regiões e das cidades e com o incremento do poder de compra dos indivíduos e famílias com património líquido elevado.

Em comunicado apontaram que este segmento tem vindo a conquistar “mercados mais urbanos, como Lisboa e Cascais, ou mais rurais, como a região do Douro ou do Alqueva. No total, em que regiões se encontram as branded residences em Portugal e quais concentram mais este tipo de alojamento?

As regiões nacionais mais fortes em termos de projetos de branded residences concluídos são, sem dúvida, Lisboa e Algarve, com destaque para o Martinhal e a United Investments Portugal (UIP) enquanto promotores/marcas mais ativos. Em Portugal, este mercado esteve sempre muito presente na região mais a sul do país, principalmente associado a produtos de lazer em contexto balnear e de resort. No entanto, nos últimos anos, este segmento tem vindo a expandir-se para outras regiões do país, conquistando mercados mais rurais.

No caso português, quais são as principais marcas hoteleiras e não hoteleiras nas branded residences?

Temos apenas marcas hoteleiras a destacar em Portugal: Marriott, Hyatt e Hilton.

Quem são os principais compradores em território nacional em termos de idades e nacionalidades?

O perfil geral dos compradores, em termos de nacionalidades, poderá ser definido maioritariamente por compradores oriundos do Reino Unido e Irlanda, bem como por investidores franceses, belgas, holandeses, alemães, americanos e asiáticos, para além de investimentos provenientes de compradores nacionais. Temos, por exemplo, o Martinhal Residences localizado no Parque das Nações, que conta com compradores de mais de 20 nacionalidades de todo o mundo.

Qual o perfil destes compradores e o que motiva o investimento nesta categoria?

Temos vindo a assistir a uma diversificação do perfil de comprador, cada vez menos focado na componente de investimento/retorno e valorizando a utilização desta categoria enquanto produto lifestyle. Neste sentido, a Savills tem assistido a um crescente interesse neste tipo de produto por parte de diferentes players como investidores, promotores e utilizadores finais. O cenário de crescimento que Portugal tem registado ao longo dos últimos dez anos demonstra também a elevada dinâmica e atratividade do mercado nacional de branded residences para os potenciais compradores nacionais e internacionais.

Diria que os portugueses investem mais em branded residences em Portugal ou no estrangeiro?

Os compradores nacionais de unidades de branded residences representam um número ainda reduzido comparativamente com outras nacionalidades. Por outro lado, o mercado das branded residences em Portugal é considerado pouco maduro, quando comparado com outras geografias. Deste modo, os portugueses começaram a ter contacto com este produto mais recentemente, investindo maioritariamente a nível nacional.

O futuro das branded residences em Portugal

Quantos projetos de branded residences estão previstos para Portugal nos próximos três anos?

Com projetos como o Viceroy Residences at Ombria Resort, no Algarve, e o Ando Club Liberdade e o The Standard Residences at Palácio Santa Clara, ambos em Lisboa, em desenvolvimento e a serem concluídos nos próximos dois anos, haverá cerca de mais 140 unidades no mercado e muitas mais, como o potencial empreendimento residencial JNcQUOI na Comporta.

Os próximos projetos concentram mais marcas hoteleiras ou não hoteleiras? Quais são as insígnias que estão em causa?

As marcas hoteleiras estarão em destaque no pipeline de projetos a desenvolver em Portugal.

A que categorias hoteleiras pertencem estes novos projetos?

Sobretudo luxo e ultra luxo.

Estes próximos projetos situam-se em que regiões? Há alguma novidade em termos de localização, ou concentram-se mais nas grandes cidades?

Os projetos em pipeline terão uma maior preponderância em zonas menos consolidadas como a Área Metropolitana de Lisboa, Porto, Algarve, Costa de Prata, Comporta, Alentejo e algumas regiões do interior. Os Açores começam também a figurar no mapa de destinos para receber estes novos projetos de branded residences.

Como antecipa o desempenho das branded residences em Portugal nos próximos anos?

A crescente globalização das regiões e das cidades, aliada ao incremento do poder de compra dos indivíduos e famílias com património líquido elevado, representa uma oportunidade de crescimento do mercado de branded residences em Portugal. O nosso país está atualmente no radar internacional em termos de procura por parte de empresas de serviços partilhados para abertura dos seus escritórios centrais, de instituições de ensino universitário – com Portugal a ser cada vez mais reconhecido a nível da comunidade estudantil internacional –, e também da comunidade sénior ativa, representando um acréscimo de potenciais compradores e utilizadores de branded residences. Por outro lado, o crescimento do turismo e a maior mobilidade dos High-Net-Worth Individual (HNWI) tem alavancado este desenvolvimento, pois permite aliar investimento ao lifestyle. Adicionalmente, para os investidores/promotores, este torna-se um modelo de negócio muito atrativo, pois permite gerar uma maior diversidade de fontes de financiamento (vendas imobiliárias), reduzir a exposição e necessidade de capital próprio, assim como antecipar o retorno.

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“A busca da identidade de um cozinheiro é algo que pode nunca terminar”

“Donos” dos destinos da cozinha do Hotel Casa Palmela, Mauro Álison faz questão de utilizar os produtos que provêm da horta local. As criações, essas, diz o chef, podem levar tempo, até porque as experiências fazem parte do dia-a-dia do restaurante Zimbral.

Victor Jorge

Texto: Victor Jorge | Fotogarfia: DR

Entrou no universo da cozinha “tarde”, mas reconhece que uma vez descoberto o gosto, “sabia o que queria”. Da Polícia Judiciária, enquanto investigador criminal, até à cozinha do restaurante Zimbral, do Hotel Casa Palmela, o chef Mauro Álison diz-se “cozinheiro”. O ser chef “é a consequência do meu trabalho”.

Como surge a ligação do chef Mauro Álison ao Hotel Casa Palmela e ao restaurante Zimbral?

A minha ligação a esta casa começa com o Ivo Garra, que saiu há pouco tempo e que me trouxe de Montargil onde era subchefe de cozinha. Entretanto, na altura da pandemia, havia uns problemas na Casa Palmela e vim para cá fazer extras. Trouxe o meu colega, que hoje é meu subchefe, que já foi meu chefe e que considero meu professor. Entretanto, saí, e vim depois substituir o chef Sérgio Morais e assumi a chefia e comecei a dar mais expressão àquilo que são as minhas criações.
Além disso, tudo o que se vê aqui, esta paz, esta natureza fascina-me, apesar de lá dentro, na cozinha a calma não ser a mesma. Mas poder olhar pela janela e ver esta paisagem é, sem dúvida, um privilégio.
Quando cheguei tínhamos uma horta que não estava a ser explorada e fiz questão de a desenvolver. Penso que é muito importante e tendo possibilidade de ter produto, de plantar, semear, colher, faz toda a diferença. E temos aqui muitos produtos, desde tomate, pimentos, alho francês, hortelã, hortelã da ribeira, poejo, enfim, tudo o que faz falta numa cozinha existe aqui.

E todos esses produtos são utilizados na sua cozinha?

Sim, todos. Infelizmente não consigo só utilizar os produtos que produzimos, mas tudo aquilo que produzimos, faço questão de utilizar. E a ideia é que se possa expandir esta produção própria.

E há quantos anos é que trabalha na cozinha?

Há nove.

E como é que a sua cozinha evoluiu?

Acho que evoluiu bastante. Sempre gostei de cozinhar.

De onde vem esse gosto?

Vem de casa, da minha mãe, tias, avós. Tenho um tio que foi chef durante 30 anos, e quando era mais novo andava pela cozinha. A primeira vez que lá entrei fiquei assim um bocado “wow”. Só anos mais tarde, depois de começar a cozinhar, é que percebi que aquilo teve algum impacto em mim.
Mais tarde fui tirar o curso de cozinha na Associação de Cozinheiros Profissionais de Portugal para me dar outra amplitude e outras bases. Fui crescendo naturalmente dentro da cozinha, porque acredito que só trabalhando e querendo muito é que conseguimos. Eu entro na cozinha relativamente tarde, com 20 e muitos anos.

Isso é tarde?

Não é tarde, já que se pode entrar a qualquer altura, mas quanto mais tarde, mais difícil as coisas se tornam.
Mas o meu grande objetivo, não era ser chef, mas sim cozinheiro e ser todos os dias melhor que no dia anterior. Costumo dizer que sou cozinheiro. O ser chef é a consequência do meu trabalho.

Ser chef é, basicamente, mandar na cozinha?

Sim, mas felizmente faço questão de cozinhar.

Mas consegue definir o seu estilo ou conceito?

É simples. Boa comida. Acredito que se temos capacidade de nos expressar, devemos aproveitar essa capacidade, não desrespeitando aquilo que foi feito.
Essa expressão vem muito de experiências, de combinações, de vários sabores e odores do mundo.
Faço experiências e tenho uma coisa boa que me ajudou bastante a conseguir melhorar todos os dias, que é viver as coisas com intensidade. Isso não significa que se tenha de trabalhar 16 ou 20 horas, mas sim, no tempo que lá estamos, estarmos focados e concentrados e tentarmos perceber o que estamos a fazer e tudo aquilo que se passa à nossa volta. Aí percebemos os cheiros, os sabores, as texturas. Tudo isso torna mais fácil combinar tudo.
Costumo dizer que tenho memória daquilo que provei e aquilo que vai resultar.

Mas é esse experimentalismo que procura?

Sim, bastante. Eu gosto desse desafio, porque acredito que devemos explorar tudo aquilo que está à nossa volta. Para além da horta, temos uma biodiversidade incrível neste local. Nós temos amoras, loureiro, funcho selvagem. As ervas aromáticas que apanho aqui nascem naturalmente. E então, claro, isso acaba por me “obrigar” a usá-las e fazer experiências. Há pessoas que gostam, eventualmente, seguir uma linha mais tradicional e conservadora, mais certa, mais segura.

Evolução e transformação

Mas a cozinha nestes nove anos que tem de experiência evoluiu muito?

Evoluiu e transformou-se. Acredito que, quando comecei, havia demasiadas balizas. Hoje em dia já não há tantas. Há mais pessoas a fazerem coisas diferentes e a não terem medo de arriscar. Isso tem a ver com respeito e conhecimento, não podemos andar todos a fazer as mesmas coisas e não temos todos de gostar do mesmo.
Acho que o facto de haver cada vez mais mulheres na cozinha, é uma evolução e melhora muito as criações. Além disso, haver gente jovem na cozinha, com conhecimento, também é uma evolução.

E que resposta tem tido dos que provam as suas criações?

O feedback tem sido extremamente positivo e isso deixa-me super satisfeito. Porque, afinal, é para isso que trabalhamos, não é? Há coisas na carta para as quais as pessoas olham e são diferentes ou são estranhas e, talvez, até têm receio. E depois ao provarem ficam surpreendidas. Isso para mim é que tem valor, porque apesar de não ter essas balizas, não ter medo de arriscar e fazer combinações que não são, talvez, muito habituais, é preciso que as pessoas provem. Se as pessoas não provarem, nunca irão saber se é bom.
Muitas vezes as pessoas precisam também de ser incentivadas a provar coisas diferentes. Inúmeras vezes vou à sala e as pessoas falam comigo sobre o efeito surpresa que tiveram com algum dos meus pratos. É isso que pretendo criar a cada garfada ou cada prato que é criado, que consiga impactar as pessoas.

De quanto em quanto tempo renova a carta?

Neste momento estamos a fazê-lo de seis em seis meses. Trabalho muito consoante aquilo que que tenho disponível na horta. Então há um certo tipo de legumes que altero, ou seja, o prato mantém-se o mesmo, mas vai ter um legume diferente.

Portanto, é uma evolução, uma adaptação. Não é algo novo?

Sim, exatamente. Mas, claro, que há sempre novidades.

E quanto tempo precisa para estruturar essa carta?

Pergunta difícil. Há coisas que surgem num ápice. É aquela ideia que sei que vai dar certo, outras podem levar meses. Há vezes que estou a lançar uma carta e a pensar já na próxima, porque percebi que ao fazer testes para aquilo que vai entrar agora, descobri alguma coisa que é espetacular para o próximo verão.
E aí vêm as experiências, vamos fazendo os testes que temos de fazer para que depois, quando a carta é lançada, a coisa esteja perfeita.

E por que caminhos é que o Mauro acha que irá enveredar no futuro? A cozinha é sempre uma evolução, uma experiência, adaptações, evoluções.

Não sei se será muito diferente do caminho que estou a traçar agora. Porque lá está, aquilo que faço é uma miscelânea ou engloba muita coisa. Uso produtos asiáticos, produtos africanos, as especiarias do Médio Oriente, os produtos portugueses. Acho que a busca da identidade de um cozinheiro é algo que pode nunca terminar.

Qual foi o produto português que o mais surpreendeu até agora?

Tenho alguns. Até há bem pouco tempo não gostava de nabo.

Não gostava ou não utilizava?

Não gostava. Não gostava de favas, por exemplo. Esses desafios que abraço é que me dão gozo. Acho que, enquanto cozinheiros, temos de perceber o que não gostamos, mas mesmo assim se é bom temos de usar. Acho que isso é fundamental.

E algo que não entra na sua cozinha?

Caldos artificiais. Percebo e respeito, mas não uso. A realidade é aquilo foi feito para ser bom, não podemos negar. Mas não entram.

E aventuras no exterior? Já houve ou poderão vir a existir?

Enquanto cozinheiro nunca estive lá fora. Já trabalhei fora de Portugal, mas não a exercer a cozinha. Andei na faculdade, a estudar psicologia criminal, porque queria ir para a Polícia Judiciária e houve uma altura em que só tive cadeiras teóricas para fazer. Então decidi ir para França. Vivi lá durante seis meses. Foi uma experiência, mas nunca a trabalhar em cozinha. Só mesmo em Portugal.

É uma grande mudança. Houve mais alguns sonhos?

O primeiro sonho era ser jogador de basquete da NBA. Ok, pronto, caiu por terra. Depois vem a Polícia Judiciária. Depois percebi que era a cozinha.
Eu cozinho desde muito novo. Lembro-me de pedir à minha mãe para me deixar cozinhar e ela dizer que não, porque não tinha idade. Mas fui insistindo. Com sete anos lembro-me de pedir à minha avó para mexer na cozinha quando ela estava a fazer as coisas. Na família sempre foi difícil, porque são excelentes cozinheiros, algumas cozinheiras, até profissionais.
Até que começaram a dizer-me para fazer o lanche e a família provar e dizer que devia de ir para cozinheiro. Mas eu achava que não. Até que houve uma altura em que disse, é isto. Não vale a pena estar a negar, porque eu tenho jeito para a coisa.

Alguma vez ambicionou ter o seu próprio restaurante?

Sim, sem dúvida. Não sei quando, mas acredito que vá acontecer mais cedo ou mais tarde. É preciso uma grande estrutura, porque já tive alguns convites para fazer sociedade.
Também já tive convite para ir trabalhar para fora, não para fazer sociedade, mas para ir trabalhar para fora. Mas vou tentar traçar o meu caminho por aqui. Muitos dos grandes chefs portugueses estiveram fora, trabalharam com grandes chefs de internacional. Eu não tenho esse know-how. Então estou a fazer o meu caminho. Rodei-me de pessoas que gostam e que pensam da mesma forma que eu, partilham a mesma filosofia.

As estrelas da cozinha

Mas a cozinha portuguesa tem dado grandes passos em direção ao reconhecimento internacional?

Sim, sem dúvida. E não faz sentido que seja de outra forma, porque temos uma gastronomia formidável. Há bocado perguntou-me sobre o impacto que a minha cozinha tem nos clientes. Tenho clientes que, quando vou à sala, me perguntam porque o restaurante não tem uma estrela Michelin. E eu fico a pensar, já que alguns estão habituados a frequentar este tipo de sítios.
Agora, em termos de reconhecimento, acho que não há volta a dar, porque temos muito talento em Portugal, temos uma gastronomia riquíssima.

E tem-se afirmado pelos valores portugueses com produtos portugueses ou tem sido uma mescla cada vez mais internacional?

Tem-se afirmado por contar história e isso é muito importante.

Sobre o autorVictor Jorge

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O descanso da aldeia vive-se no Independente Comporta

A mais recente unidade hoteleira do grupo Independente abriu portas a 1 de agosto deste ano.

Carla Nunes

Texto: Carla Nunes | Fotografias: Kerry Murray (DR)

Depois de vários projetos de hostel e restaurantes, o grupo Independente aventurou-se na hotelaria com a abertura de duas unidades: uma no bulício da capital, junto à Bica, e outra na calma do campo, junto à Comporta.

Após uma viagem de 1h23 desde o Independente Bica até à Rua das Bicas, em Grândola, uma entrada sem portões dá as boas-vindas aos visitantes do Independente Comporta, num pormenor que não é por acaso: o diretor desta unidade, Paulo Matos, explica que aqui pretende-se receber quer os hóspedes, quer a população local, para usufruírem da unidade hoteleira que replica o ambiente de uma aldeia portuguesa (e alentejana, com certeza).

A chegada ao lobby do hotel, que partilha o mesmo espaço do restaurante da unidade, o “Maroto”, abre desde logo o apetite para as várias iguarias de inspiração alentejana que se servem neste lugar. Aqui há espaço migas e azeite, muito azeite, que rega não só os pratos principais, como também algumas das sobremesas. Uma oportunidade para comer sopa de bacalhau, porco grelhado com migas e tarte de alfarroba com base de figo. Estando no Alentejo, não podia faltar a sericaia, que aqui é regada com azeite.

Finda a refeição, os hóspedes podem continuar o convívio no Casão ou no fire pit junto ao restaurante. No Casão reina o conforto, num espaço amplo que pode ser utilizado como “sala de estar” ou como local para eventos privados, estando disponíveis vários jogos de tabuleiro e locais de descanso. Destaque também para a piscina de água salgada da unidade servida pelo bar “Bóia”. Com fundo em dois tons, terra e azul, consoante a profundidade, a piscina garante um local tranquilo com vista para os pinheiros da unidade.


Tratamentos de spa inspirados na região

Tranquilidade parece ser, de facto, a palavra de ordem no Independente Comporta, não só pela natureza envolvente, como pelas valências de spa que os hóspedes podem encontrar no Aura Spa. O menu de spa exclusivo desenhado por Filipa Santos, da Spas We Love, oferece tratamentos com produtos naturais e locais, como o arroz, o sal ou o alecrim. Por exemplo, o tratamento facial “Pó de Arroz” (185 euros) utiliza pó de arroz e aveia, com aromas de Ylang Ylang, para fazer uma esfoliação, completada com uma massagem com manteiga de karité e óleos essenciais. Já a esfoliação corporal “Flor de Sal” (150 euros) utiliza sal marinho de Alcácer do Sal e azeite biológico, seguindo-se uma massagem energizante.

Chegada a hora do descanso, os hóspedes podem escolher entre 40 quartos da unidade, todos com terraço e cama alentejana. No interior, os quartos são dominados pelos tons terracota, com o objetivo de trazer para dentro a ruralidade do exterior. Por essa razão não faltam o mobiliário de vime artesanal e as madeiras escuras, sem esquecer os tapetes de arraiolos brancos e as olarias de Melides, sendo que nas casas de banho ganham destaque os azulejos de barro negro local.

A oferta de alojamento fica completa com 34 villas com tipologias do T0 ao T5, servidas por piscinas privadas.

Sobre o autorCarla Nunes

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“A Madeira é um destino ideal para desenvolver o nosso modelo de negócio”

A partir de agosto de 2024, a Madeira terá mais 366 quartos, com a abertura do Dreams Madeira Resort, Spa & Marina, pertencente à Inclusive Collection, integrada no World of Hyatt.

Victor Jorge

Com abertura marcada para agosto de 2024, o Dreams Madeira Resort, Spa & Marina, pertencente à Inclusive Collection, integrada no World of Hyatt, promete “conceitos exclusivos baseados na hospitalidade sem limites e num serviço único de atenção durante toda a experiência do hóspede”. Carlos Paredes, director of Hotel Development in EMEA for Inclusive Collection, admite que, “ao visar um segmento de mercado mais exclusivo, podemos contribuir para a elevação da qualidade global do turismo em Portugal”.

Texto: Victor Jorge // Fotos: DR

A partir de agosto de 2024, a Madeira terá mais 366 quartos, com a abertura do Dreams Madeira Resort, Spa & Marina, pertencente à Inclusive Collection, integrada no World of Hyatt, na região do Caniçal, Madeira. Carlos Paredes, director of Hotel Development in EMEA for Inclusive Collection, falou com a PUBLITURIS HOTELARIA, admitindo que “a filosofia faz com que adaptemos os nossos ativos aos locais onde se encontram. Por isso, procuramos adaptar as nossas instalações às características culturais da zona, neste caso a Madeira”.
Para o responsável do grupo hoteleiro, a Madeira “é um destino em contínuo crescimento onde o turista encontra um local paradisíaco para se desligar e desfrutar de uma experiência única”.

A Inclusive Collection, integrada no World of Hyatt, vai abrir em 2024 o seu primeiro resort em Portugal, na Madeira. A minha pergunta é: porquê Portugal e porquê especificamente a Madeira?

A bela ilha da Madeira, e Portugal em geral, são destinos turísticos admirados em todo o mundo. Possuem características geográficas e climáticas únicas, além de serem acompanhadas por uma cultura em que o lazer se posiciona como pedra angular. Neste sentido, seguindo a estratégia de crescimento da Inclusive Collection, procuramos ganhar escala nos principais mercados emissores apostando no luxo, lifestyle e lazer.
A Madeira é um destino ideal para desenvolver o nosso modelo de negócio.

Nesse sentido, o que é que a Madeira oferece para abrir o Dreams Madeira Resort & Spa Marina em 2024?

Nos últimos anos, a ilha portuguesa tem registado um forte crescimento na receção de turistas estrangeiros que procuram um destino exótico e idílico onde possam desfrutar de experiências de luxo, algo em que a Inclusive Collection tem um sólido historial em Espanha e nas Caraíbas, tornando a Madeira um destino chave para o crescimento do segmento de luxo com tudo incluído na EMEA.

Já possuem 110 resorts de luxo com tudo incluído em 40 países. A unidade Madeira é uma cópia de alguma que já existe ou adaptam este novo hotel à realidade madeirense? Já agora, como reconhece ser a realidade madeirense em termos de turismo para ajustar a sua oferta?

A nossa filosofia faz com que adaptemos os nossos ativos aos locais onde se encontram. Por isso, procuramos adaptar as nossas instalações às características culturais da zona, neste caso a Madeira. De certa forma, poderíamos dizer que dentro da Inclusive Collection não existem dois ativos iguais. Cada um é único e os habitantes locais poderão senti-lo como seu.

A realidade da Madeira é que se trata de um destino em contínuo crescimento onde o turista encontra um local paradisíaco para se desligar e desfrutar de uma experiência única. Isso tem chamado a atenção de turistas estrangeiros que buscam uma experiência de luxo e conforto ilimitado no destino, algo em que a Inclusive Collection é especialista.

Quando exatamente abrirão o resort?

O Dreams Madeira Resort, Spa & Marina tem inauguração prevista para agosto de 2024.

Como caracterizaria a atual oferta hoteleira na Madeira?

A oferta hoteleira na Madeira é excecional e tem registado um crescimento significativo nos últimos anos. A ilha tornou-se um destino de renome internacional, e isso reflete-se na diversidade e qualidade dos hotéis disponíveis. Além disso, a localização da ilha no meio do Atlântico proporciona um ambiente natural deslumbrante.

O Dreams Madeira Resort, Spa & Marina é um resort familiar localizado na região do Caniçal, no extremo Leste da Madeira, perto de um cais para navios e perto das mais belas praias da ilha. Com a sua construção e arquitetura tradicional madeirense e vistas deslumbrantes sobre o Oceano Atlântico, este resort oferece 366 alojamentos modernos, quatro piscinas, incluindo um parque infantil e uma piscina só para adultos, seis restaurantes, seis bares, uma geladaria, e entretenimento ao vivo.

Este novo resort fará parte da Inclusive Collection do Hyatt. O que é que esta marca traz de diferença ao panorama da hotelaria na Madeira e porque opta por estar no segmento de luxo com tudo incluído?

A Inclusive Collection é constituída por uma coleção global integrada de dez marcas que oferecem experiências personalizadas sempre adaptadas às necessidades de cada hóspede e em constante evolução para se adaptarem às tendências da hotelaria, das quais o Dreams Madeira Resort Spa & Marina faz parte.

A Inclusive Collection permite aos hóspedes vivenciar o significado do luxo all inclusive através dos seus programas exclusivos Endless Privileges, Unlimited-Luxury e Unlimited-Fun presentes nos diferentes resorts de acordo com as características e possibilidades individuais de cada ativo.

A oferta turística da Madeira não dispõe de nenhum ativo que reúna estas características, nem de uma oferta de luxo com tudo incluído tão completa como a que oferecemos no Dreams Madeira Resort Spa & Marina. Ou seja, conceitos exclusivos baseados na hospitalidade sem limites e num serviço único de atenção durante toda a experiência do hóspede. Assim, o Inclusive Collection oferece o mais alto nível de qualidade de serviço aliado a benefícios exclusivos que variam de acordo com a marca, oferecendo aos hóspedes refeições e bebidas ilimitadas, o melhor serviço da categoria, Wi-Fi gratuito, serviço de quarto 24 horas e entretenimento sem fim, dia e noite.

Na Europa, estão presentes em quatro países. Quais as principais diferenças e semelhanças que encontra entre esses países e Portugal?

O crescimento do portfólio de resorts no continente destaca a consolidação e o sucesso do modelo Unlimited-Luxury entre os turistas europeus. Esta consolidação de marcas em quatro destinos reflete o sucesso da importação para a Europa do modelo Unlimited-Luxury, pioneiro do Apple Leisure Group nas Caraíbas e que é excecionalmente bem recebido pelos turistas europeus, especialmente turistas britânicos e alemães.

Quem será cliente-alvo desta nova unidade?

Cada uma das diferentes marcas foi cuidadosamente pensada e adaptada para todos os tipos de viajantes, desde escapadelas apenas para adultos com um ambiente romântico e vibrante, até resorts familiares que oferecem atividades e serviços para todas as idades. No caso da marca Dreams Resorts & Spas, oferece aos hóspedes quartos elegantemente decorados e o melhor cenário para receber um atendimento incomparável e lembranças duradouras.

Os últimos dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) português dizem-nos que o principal turista da Madeira é estrangeiro. Assim, terão como alvo, por exemplo, os mercados dos EUA e do Reino Unido?

Além desses mercados, a Madeira atrai também turistas europeus, canadianos e sul-americanos. A Inclusive Collection, graças à sua experiência nos mais de 40 países onde opera, conhece os seus hóspedes e por isso oferecerá um produto que se adapta aos gostos e necessidades de todos estes mercados, que partilham um ponto comum: exigem cada vez mais experiências relacionadas para o segmento de luxo com tudo incluído.

O facto do novo hotel fazer parte da marca Hyatt traz alguma vantagem na hora de promovê-lo internacionalmente?

A inclusão das marcas Dreams Resort Spa & Marina e Inclusive Collection na família World of Hyatt é uma marca de compromisso e qualidade tanto para os hóspedes quanto para a indústria hoteleira. Isto representa uma nova arquitetura de marca e uma estratégia de marketing aprimorada para a Hyatt que consolida sua liderança global na categoria de luxo com tudo incluído.

E o facto de a Madeira ter cada vez mais ligações aos EUA dá um impulso ao modelo de negócio deste novo resort?

Sem dúvida que o crescente número de ligações entre a Madeira e os Estados Unidos é um fator positivo. Esta melhoria na conectividade aérea significa uma expansão do mercado potencial de turistas norte-americanos que possam estar interessados em descobrir a Madeira. Este mercado expandido pode traduzir-se em taxas de ocupação mais elevadas e num maior potencial de receitas. Além disso, a melhoria da conectividade também abre oportunidades no segmento de viagens de negócios e eventos, que podem ser uma fonte lucrativa de receitas para a Madeira.

Este hotel resort fará parte do programa de fidelidade World of Hyatt?

Claro que o nosso novo resort na Madeira fará parte do programa de fidelização World of Hyatt. Isso oferece diversas vantagens significativas, pois o programa possui uma ampla base de recompensas. Estes membros beneficiam de benefícios exclusivos, como a possibilidade de upgrade nas suas reservas de quartos, check-out tardio ou comida e bebidas gratuitas nas nossas unidades, o que irá melhorar a sua experiência no nosso resort. Além disso, o programa fornece dados valiosos sobre as preferências dos hóspedes, permitindo-nos adaptar os nossos serviços para melhor atender às suas necessidades e experiências em futuros ativos da Hyatt.

Quantos quartos e que tipo de instalações irá oferecer no Dreams Madeira Resort & Spa Marina?

O Dreams Madeira Resort & Spa Marina terá um total de 366 quartos, além de moradias de luxo, praia privada e marina própria. Além disso, o resort oferecerá acesso a mais de dez restaurantes à la carte, sete bares, bebidas ilimitadas, serviço de quarto 24 horas, atividades diárias e entretenimento noturno. O resort apresenta arquitetura e design tradicional madeirense e está localizado num ambiente tranquilo na região do Caniçal, a poucos passos de um cais e perto das melhores praias da ilha.

Um dos desafios do mercado hoteleiro em Portugal reside nas pessoas. Como irão desenvolver os recursos humanos e contratar pessoas para este novo resort?

O resort continua a desenvolver o plano de recursos humanos para o pessoal da unidade, que inclui atrair, contratar e formar pessoal adequado que apoie todos os aspetos das operações.

O facto de quem ingressa no Dreams Madeira Resort & Spa Marina poder esperar uma carreira internacional é uma vantagem para o seu programa de recrutamento?

O Dreams Madeira Resort, Spa & Marina pretende atrair colegas que melhor representem a missão do Hyatt de cuidar das pessoas para que possam dar o seu melhor, o que inclui também colegas internacionais. À medida que o resort continua a implementar a política de recursos humanos adequado na unidade, candidatos de todas as regiões, tanto nacionais como internacionais, são bem-vindos a candidatar-se caso encontrem uma função adequada.

O desafio enfrentado está também nas alterações climáticas e na sustentabilidade. Como se posicionará o Dreams Madeira Resort & Spa Marina nesta matéria?

Tal como acontece com os restantes ativos da marca, no Dreams Madeira Resort & Spa Marina continuaremos o nosso compromisso com a sustentabilidade, implementando medidas ambientalmente responsáveis para que a nossa atividade tenha o menor impacto possível na Madeira e atraia cada vez maior procura por parte dos viajantes ecológicos.

A abertura do Dreams Madeira Resort & Spa Marina enquadra-se na estratégia de expansão europeia da Hyatt para o segmento de luxo all inclusive. Isto poderá significar mais hotéis e resorts em Portugal?

Como salienta, o portfólio da Inclusive Collection continua a crescer na Europa graças, entre outros motivos, à consolidação e ao sucesso do modelo Unlimited-Luxury entre os turistas europeus. A nossa estratégia de crescimento procura ganhar escala nos principais mercados emissores, concentrando-nos no luxo, estilo de vida e lazer, e em operações que nos permitirão expandir a nossa representação nos principais mercados e servir como plataformas de crescimento.
Além da estreia do portefólio da Inclusive Collection em Portugal, continuamos a procurar ativamente oportunidades para crescer cuidadosamente em todo o portefólio, e Portugal continua a ser uma prioridade para qualquer potencial expansão no futuro.

Portugal é um país amigo do investimento estrangeiro?

Portugal é geralmente considerado um país amigo do investimento estrangeiro. A sua localização estratégica na Europa, a estabilidade política e a adesão à União Europeia atraem investidores de todo o mundo. Além disso, Portugal implementou incentivos e benefícios fiscais para incentivar o investimento estrangeiro em setores-chave como o turismo, as energias renováveis e a tecnologia. A presença de uma mão de obra qualificada e uma elevada qualidade de vida também contribuem para a sua atratividade como destino de investimento.

Depois de uma pandemia, o mundo, nomeadamente a Europa, está a ser devastado por uma guerra, a que se soma, agora, o conflito no Médio Oriente. Isso faz-vos olhar para a estratégia de abertura futura? A incerteza é o maior desafio da atualidade?

Hoje, o Continente e o mundo em geral vivem num contexto macroeconómico e geopolítico incerto e complexo, marcado pela guerra, pela inflação e pela escassez de talentos.

Na Europa, a devastação contínua na Ucrânia está a causar imensa preocupação, e a Hyatt está a concentrar-se em garantir a segurança e o bem-estar dos refugiados ucranianos, apoiando-os na sua empregabilidade nos hotéis do grupo em França, República Checa, Malta, Polónia, Alemanha e o Reino Unido. Além disso, suspendemos a prestação de serviços a terceiros proprietários de todos os hotéis Hyatt na Rússia, na esperança de que as circunstâncias num futuro muito próximo nos permitam retomar os negócios.

A inflação elevada também determina o ambiente económico na Europa. A base de hóspedes do Inclusive Collection é rica e os gastos com lazer e entretenimento dos nossos clientes continuam a ser uma das categorias principais. O nosso objetivo é comunicar o valor holístico da viagem, que supera o custo da transação.

A escassez de talentos no sector do turismo é uma desvantagem crescente devido à fraca reputação do segmento hoteleiro em termos de condições de trabalho. A indústria deve adaptar-se às novas tendências de empregabilidade, apostando na formação, na promoção interna e reforçando o orgulho de pertencer a um setor que tem um peso económico importante no continente.

Na Inclusive Collection levamos estes fatores em consideração na tomada de decisões sobre o nosso crescimento e, por isso, desenvolvemos estratégias baseadas na realidade destes tempos.

Esta incerteza também trouxe dificuldades para muitas famílias, com menos rendimentos. Como encarar esta realidade e como pode uma empresa definir uma estratégia quando as pessoas têm menos dinheiro para pensar em viagens e férias?

Compreendemos as dificuldades trazidas pela economia em todo o mundo e reconhecemos que muitos hóspedes procuram férias dentro do orçamento. Sendo um resort com tudo incluído, o Dreams Madeira Resort, Spa & Marina tem o prazer de oferecer todos os aspetos da estadia incluídos, desde refeições gourmet a atividades e entretenimento para todas as idades. Além disso, são oferecidas promoções que permitem poupanças nas estadias no Dreams Madeira Resort, Spa & Marina.

Para que região de Portugal poderá a lnclusive Collection olhar no futuro?

Continuamos a procurar ativamente oportunidades para aumentar o portfólio da lnclusive Collection, mantendo Portugal na mente para quaisquer potenciais oportunidades de expansão em todo o país.

Em Portugal existe agora um grande debate sobre a necessidade de coesão territorial e o foco crescente no interior do país. Seriam estas regiões a considerar em vez das habituais, como o Algarve? Ou o modelo de negócio e tipo de resort está focado no Sol & Praia?

Embora a Inclusive Collection ofereça a maioria dos destinos à beira-mar em todo o portfólio, também há resorts em todo o portfólio que estão situados em destinos longe das praias. À medida que continuamos a procurar e a explorar oportunidades de expansão, continuaremos a procurar destinos e locais em países que melhor se adaptem aos planos futuros.

Olhando para o panorama do turismo em Portugal, o que esperam do país?

A indústria tem grandes expectativas para Portugal. O país provou ser um destino popular e atraente para viajantes de todo o mundo. As variadas ofertas de Portugal, incluindo a sua deslumbrante costa, o rico património cultural e as cidades vibrantes, tornam-no numa opção atraente tanto para quem viaja em lazer como em negócios.

Com a estratégia e o investimento certos, prevejo um crescimento contínuo no setor do turismo, especialmente em regiões como a Madeira, que possui uma beleza e um encanto naturais únicos. A estabilidade, a acessibilidade de Portugal na Europa e a atmosfera acolhedora tornam-no bem posicionado para capitalizar a procura global de experiências de viagem.

Podemos trazer a reconhecida excelência de serviço e o compromisso da Inclusive Collection com a satisfação dos hóspedes para melhorar a experiência do visitante na Madeira, consolidando ainda mais a posição de Portugal como um destino turístico de primeira linha.

A estratégia em Portugal é ter menos turistas, mas melhores turistas. Poderemos dizer que o vosso resort pode fazer parte desta estratégia de trazer turistas com maior valor acrescentado?

É claro que focar em atrair “melhores turistas” que valorizam mais a qualidade das experiências do que o número de visitantes se enquadra perfeitamente na nossa abordagem. Estamos empenhados em fornecer hospitalidade excecional e atender os viajantes mais exigentes.

O nosso resort na Madeira pode fazer parte dessa estratégia ao oferecer uma experiência premium que agrada aos viajantes que procuram um nível superior de serviço, conforto e comodidades exclusivas. Oferecemos pacotes e experiências que atendem aos interesses desses turistas exigentes, sejam eles de bem-estar e relaxamento, experiências culinárias ou imersão cultural.

Ao visar um segmento de mercado mais exclusivo, podemos contribuir para a elevação da qualidade global do turismo em Portugal e, ao mesmo tempo, beneficiar do maior poder de compra e das estadias mais longas frequentemente associadas a este tipo de viajante. Esta abordagem não só se alinha com a estratégia de Portugal, mas também reforça a reputação da Madeira como destino para quem procura experiências excecionais e memoráveis.

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“A missão da marca é tornarmo-nos sustentáveis em pouco tempo”

O grupo Valverde apostou recentemente na vila de Santar com um hotel de cinco estrelas, que espera vir a “ajudar” a atingir objetivos de sustentabilidade “a médio prazo”.

Carla Nunes

O grupo Valverde apostou recentemente na vila de Santar com um hotel de cinco estrelas, que espera vir a “ajudar” a atingir objetivos de sustentabilidade “a médio prazo”.

Texto: Carla Nunes | Fotografia: Frame It

O Valverde Santar Hotel & Spa abriu portas a 11 de agosto deste ano num antigo palacete do século XVII. Volvidos três meses desde esta abertura, a Publituris Hotelaria conversou com Adélia Carvalho, diretora-geral do Valverde Hotel, sobre este recente projeto do grupo que, recentemente, também ganhou a concessão do Palácio de Seteais, em Sintra.

O que motivou a aposta do grupo numa outra unidade hoteleira, particularmente fora de Lisboa, em Santar?

Há aqui algumas origens de património históricas e a sensibilidade de um grupo de amigos. Surgiu a hipótese pela família de Bragança, que eram donos da Casa da Fidalga, de disponibilizarem e criarem uma sociedade em que a casa pudesse servir para um hotel de luxo à imagem do Valverde Lisboa. Com o projeto de Santar veio o jardim, que é reconhecido internacionalmente, com fortes capacidades de atração para quem adora jardins. É uma atração por si só na vila, e com esse projeto, que estava já a andar muito bem, sentiu-se que era a altura certa para uma forte aposta numa hotelaria de luxo. Quando a casa surgiu – porque isto foi um grupo de sinergias que se juntou, o projeto Santar Vila Jardim, nós como grupo Valverde e a existência da Casa das Fidalgas, que hoje é o Valverde Santar – conseguimos fazer um projeto de luxo cinco estrelas que abriu recentemente este ano.

No início de 2022 previam a abertura do Valverde Santar Hotel & Spa no segundo semestre de 2022, no entanto, a abertura oficial acontece a 11 de agosto de 2023. O que levou à demora da conclusão do projeto?

Toda esta conjuntura internacional, de tudo o que passámos nestes últimos anos. No fundo é um projeto em que foi tudo recuperado, todos os livros, todo o património, todo o mobiliário. Tentámos não tirar a traça original da casa, e foi tudo utilizado nesta recuperação. Com estes projetos, tudo o que são telas, pinturas, objetos de arte, são uma obra de recuperação muito mais exigente em termos de decoração. Obviamente que os sete hectares da propriedade, que são quatro hectares de vinha e três hectares de jardim, requerem também um processo paisagístico muito exigente, e no fundo foi tudo feito como costumamos fazer, com muito carinho, cuidado, com muita história, dedicação, pesquisa também. Estamos muito contentes e fizemos bem em ter esperado, porque o resultado final ficou realmente como queríamos.

Esta é a primeira unidade que têm fora das grandes cidades de Lisboa e do Porto. Nesse sentido, que conceito podemos esperar do Valverde Santar Hotel & Spa?

Faz todo o sentido também nesta conjetura internacional. Este projeto da Santar Vila Jardim inclui a existência de hortas comunitárias, portanto o nosso propósito é ter uma cozinha muito virada da terra para a mesa. O próprio chef do nosso restaurante Memórias, o Luís Almeida, tem uma carta baseada em produtos da região, muito frescos, e inclusivamente das nossas hortas. Portanto, o conceito não é só de uma hotelaria, envolve muito a região, a vila, as pessoas, e esse foi sempre o sentido: colocar a Vila de Santar num destino, em que os jardins já fazem a sua quota-parte. Na hotelaria, o conceito foi de, no fundo, tentar fixar as pessoas que vinham para essas visitas [ao Santar Vila Jardim], tentar fixar as pessoas na região que tem um património fantástico.

Mas os hotéis que tinham são de cidade…. Conseguem adaptar-se ao campo?

É só vestir a personalidade do hotel de outra maneira. Há pontos comuns, como o conforto, o serviço, a atenção ao cliente, aqueles mimos todos que tanto fazemos na cidade como fazemos no campo. Para nós também é uma novidade, mas temos sido surpreendidos porque o campo dá-nos tudo: a paisagem que temos, o facto de termos o vinho, ter tantas coisas da horta, conseguimos surpreender o cliente tal como na cidade, com outros artigos. Ali é uma aprendizagem tanto para o cliente como para nós, para o grupo, mas que desde que abrimos tem tido muito sucesso. Também temos a boa notícia de que o Valverde Santar, à semelhança do Valverde Lisboa, vai ter a chancela da Relais & Chateaux, portanto, conseguimos a proeza de ter dois hotéis na cadeia desta chancela. A missão da marca é tornarmo-nos sustentáveis em pouco tempo, portanto, toda a fisionomia em que o hotel se desenvolve vem-nos ajudar a atingir esse objetivo a médio prazo, porque há muita coisa que vem da terra. Não conseguimos ser 100% sustentáveis na abertura, mas é um caminho que queremos fazer.

Abriram a 26 de julho deste ano. Como tem corrido a operação desde então?

Tem corrido com alguma sazonalidade, que saberíamos que ia acontecer. Os fins-de-semana são muito mais requisitados do que os dias de semana. Como produto em si, é muito bem conseguido. Temos uma piscina exterior com água aquecida, num sítio em que as pessoas permanecem em caso de bom tempo. Quando não está bom tempo temos um spa, que tem uma piscina interior também, duche sensorial e quatro gabinetes de massagem. Tivemos o cuidado de escolher a Vinoble, que é uma marca de spa constituída de grainha de uva, que faz a ligação com as vinhas da propriedade. O conceito tem sido muito bem aceite por quem nos visita e vai pernoitar lá porque é todo muito autêntico.

Esta sazonalidade ao longo da semana pode vir a ser um problema na operação?

Já estávamos a contar. Pelo estudo e pesquisa que fizemos sabíamos que podia ser uma tendência e conseguimos combatê-la. Temos alguns programas de yoga, de detox e estamos a desenvolver outras atividades, como passeios de bicicleta e a pé, [além de] atividades [relacionadas] com o fabrico do queijo na zona. Estamos perto da Serra da Estrela e da Serra do Caramulo, que na altura de inverno pode ser uma atração. Estamos a desenvolver alguns pacotes que já estão a ser muito bem aceites pelo mercado, para no fundo fazer uma proposta nesses momentos em que a atração não é tão evidente.

Unidade empregou 32 pessoas até à data

Quais diria terem sido os principais desafios deste projeto?

A dimensão do projeto em si, porque não é só um edifício, conjuga aqui várias sinergias. O querer fazer bem é sempre um desafio, porque rouba-nos sempre mais tempo. Hoje passamos [também] por um problema em relação à contratação de pessoas para a área da hotelaria. Houve aqui um cuidado de ir buscar ao mercado pessoas com talento, mas ao mesmo tempo também queríamos dinamizar a vila e fizemos questão de contratar as pessoas da região, porque no fundo contam a história da casa. Há pessoas que conseguem contar quem é que lá vivia, a história da casa, essas memórias todas, portanto, centralizámos o nosso recrutamento em pessoas da vila, que têm muito orgulho que o projeto tenha sido reabilitado, imenso orgulho que visitem a terra deles. O recrutamento foi mais demorado, mas queríamos que fosse mais efetivo, que as pessoas ficassem no hotel, que vissem no hotel uma carreira e no fundo, como grupo, têm também possibilidade de crescimento nesse sentido.

Quantos postos de trabalho criaram até agora nesta unidade hoteleira?

Estamos com 32 pessoas de momento. Claro que depois temos equipas de outsourcing para cuidar de jardinagem, de alguns espaços exteriores, e de outros serviços que são complementares.

Ainda estão a contratar?

Para o verão teremos outras atividades. Estamos a desenvolver circuitos culturais ao museu de Anadia, que é muito perto, com guias turísticos a acompanhar estas atividades, e queremos que o projeto seja todo ele autossuficiente e que dinamize não só a vila de Santar, mas toda a região à volta. Quem viaja para aquele destino quer descansar e ter experiências diferentes, de contacto com a natureza. Vamos [também] desenvolver aulas de jardinagem, [por exemplo], e queremos adaptar a toda essa riqueza que aquele sítio nos confere, que nos dá.

As áreas que temos ao dispor são áreas de receção, área de gastronomia – empregados de mesa, cozinha – área de spa, com terapeutas, relações-públicas, temos uma área de atividades, pessoas com história, museus, portanto há ali uma componente muito variada destes nossos relações-públicas internos. Temos 21 quartos e suites, não é um hotel de dimensões muito grandes, [por isso] há muito acompanhamento personalizado ao cliente. O nosso propósito no grupo Valverde é sempre dar o melhor serviço, a melhor atenção, um programa tailor-made muito customizado e, portanto, haverá sempre assistentes pessoais.

Houve alguma área para a qual tenha sido mais difícil contratar?

A área de comidas e bebidas, de Food and Beverage (F&B), exige sempre um talento mais específico. Essa é talvez uma área mais difícil de recrutamento, pela especificidade que tem.
EUA serão um mercado prioritário

Que públicos-alvo e mercados pretendem captar para o Valverde Santar Hotel & Spa?

À semelhança do histórico que temos nas nossas unidades, os Estados Unidos da América (EUA) são um mercado quase prioritário, Brasil, Canadá, México, Austrália. Temos descoberto algumas novas nacionalidades que são realmente mercados que respondem muito bem aos jardins de Santar. Diria, pela proximidade, Espanha. Portugal é sempre um país que aderiu muito bem, gosta muito de visitar estas regiões mais interiores do país. Depois são os mercados habituais: França, Inglaterra são sempre uma base muito boa para estas unidades de hotelaria.

A nível de públicos estamos a falar de que idades?

O que temos assistido é um público com médias de idades entre os 30 e os 60 a 65 anos. Temos tido algumas famílias, mas como também é um espaço um bocadinho romântico, para relaxar, tem havido muito uma permanência em casais. É ainda um bocadinho cedo para definirmos um perfil, mas diria que para quem quer descansar, ir com amigos, no fundo, viver momentos de relaxamento, é um sítio ótimo para isso.

Também no início de 2022 foi referido que a unidade tinha sido fruto de um investimento de 10 milhões de euros. Qual foi o valor final deste projeto?

Ele não se afastou muito desse valor. O valor que saiu foi exatamente o oficial que temos comunicado, manteve-se.

Que perspetivas têm para o Valverde Santar Hotel & Spa daqui a três anos?

[A de] fortalecer e tentar solidificar todos estes serviços e atividades, pôr um bocadinho o nosso cunho em todo o concelho, haver aqui sinergias e parcerias. Descobrimos imensos artesões, fabricantes de artesanato muito interessante, que queremos ter à venda na nossa loja. O nosso intuito é a dinamização da vila, e também dotar [o hotel de] um sítio para eventos, porque a propriedade é muito grande. [Queremos] realizar eventos em Santar, conseguir que seja um polo não de MICE propriamente dito, mas que use uma estrutura que está a ser desenvolvida junto ao hotel com grandes capacidades para congressos e reuniões, bem como desenvolver na propriedade a capacidade de oferta de gastronomia para fazer frente a essas reuniões e eventos.

A concessão do Palácio de Seteais

Numa entrevista dada ao Publituris em 2019 referiram que pensavam candidatar-se “a, pelo menos, dois ou três projetos do REVIVE”. Têm algum projeto em vista ou já procederam a alguma candidatura?

Neste momento o que podemos comunicar é que a partir de janeiro de 2024, daqui a três meses, teremos o Palácio de Seteais. É a unidade que vamos juntar ao grupo Valverde, e essa será a novidade.

Quais são os vossos planos para esta nova unidade?

Queremos dar continuidade a todo o trabalho que foi tão bem feito até hoje e se possível adicionar algo de valor, possivelmente desenvolver outras áreas de negócio que possam ter potencial lá. Temos muitas ideias, mas só depois de estarmos lá é que podemos falar.

Quando fala em outros negócios, refere-se à parte de casamentos, também, ou estamos a falar de outras vertentes?

Há um segmento muito forte de casamentos, que hoje já existe, e de eventos. Queremos dotar o palácio de mais infraestrutura para aquilo que ele é procurado, para eventos, portanto, queremos ter uma oferta muito qualitativa nesse segmento, tornar a própria infraestrutura mais ágil para esse mercado e para outros que possam vir.

Portanto aqui seria um investimento mais dirigido para o MICE?

Sim, para o MICE também, porque é um dos segmentos que nos parece muito importante naquele destino. A ideia é dotar o espaço ainda com mais conforto e mais capacidade de resposta a esse nível.

O que podemos esperar deste cunho do Valverde agora em Seteais?

[Vamos] torná-lo ainda mais especial, [sem] nunca tirar a traça dele. A sua personalidade está feita, por isso, é reforçá-lo e dar-lhe brilho. A nível de tecnologia, perceber o que é que lhe falta nos tempos que correm – como projeto hoteleiro o que é que pode estar a ser necessário, porque ele já atravessou várias eras. No fundo é modernizá-lo, sem perder nada do que é intocável em termos de história. No que toca à decoração, fazer alguma renovação que seja precisa. Esperamos ter um palácio ainda mais brilhante e com um conforto como o que costumamos oferecer em todas as unidades hoteleiras.

Têm ideia de quantos recursos humanos vão precisar para esta unidade?

Ainda é cedo para estar a dizer quantos postos de trabalho [vão ser necessários].

Têm mais aberturas hoteleiras em vista? Se sim, pretendem concentrar-se novamente na capital e no Porto ou expandir para outros locais?

A intenção é sempre analisar algum projeto que surja e que sentimos que conseguimos adicionar valor e que faça sentido pela sua história, que venha enaltecer a cadeia.

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“Os clientes são mais informados e exigentes quanto à qualidade do café”

A Lavazza introduziu no mercado português um novo lote de café para o canal Horeca, o La Reserva de ¡Tierra! Cuba.

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A Lavazza introduziu no mercado português um novo lote de café para o canal Horeca, o La Reserva de ¡Tierra! Cuba.

Texto: Carla Nunes | Fotografia: DR

Em outubro, a Lavazza introduziu uma nova referência de café no mercado português, o La Reserva de ¡Tierra! Cuba, pensado especificamente para o canal Horeca. Nesse sentido, a Publituris Hotelaria entrevistou Toni Salort, Marketing Manager da Lavazza para a Iberia, e Pedro Oliveira, CEO da NewCoffee, distribuidora da Lavazza em Portugal para o canal Horeca, que explicam a fundo as especificidades deste lote e os planos da Lavazza para o mercado português.

Referem que “o blend Cuba surge do compromisso da Lavazza com a sustentabilidade”. Como asseguram a sustentabilidade deste lote?

Toni Salort (TS): La Reserva de ¡Tierra! Cuba contém grãos cultivados por 170 agricultores nas províncias de Santiago e Granma, que a Fundação Lavazza envolveu no programa de desenvolvimento sustentável que lançou em 2018 em Cuba, em colaboração com diversas instituições e autoridades locais, com dois objetivos principais: revitalizar o cultivo do café no país, que foi drasticamente reduzido pelo surto de ferrugem da folha de café (Roya), e restabelecer a qualidade do café verde cubano, elevando-o novamente aos níveis de excelência que o tornaram famoso em todo o mundo.

Desde 2022 o foco deste programa está na recuperação da qualidade do café cubano, atuando em cinco vertentes: preservação da floresta; melhoria das práticas agrícolas; melhoria da qualidade do café; empoderamento das mulheres e dos jovens e simplificação da cadeia de abastecimento, reduzindo o número de intermediários.

Que garantias podem dar ao consumidor de que este produto é, de facto, sustentável?

TS: Este lote é totalmente rastreável, com suporte em tecnologia blockchain, o que permite ao consumidor ter acesso a informação completa sobre a cadeia de abastecimento e sobre o produto, desde a plantação até ao momento do consumo.

É possível através do número de lote de produção do café, constante no packaging, obter informação sobre a origem, o cultivo e colheita, o processamento e a seleção do café verde, as condições de transporte e a forma como é produzido.

O consumidor acede à informação através de uma plataforma digital, lendo o QR Code disponível nos pires das chávenas La Reserva de ¡Tierra!.

O que motivou a aposta nesta gama dedicada ao canal Horeca?

TS: A gama La Reserva de ¡Tierra! responde às novas tendências e preferências do consumidor que valoriza um café mais suave e aromático e que procura uma experiência diferenciada. O seu gosto é cada vez mais sofisticado, com as gerações mais novas a mostrar maior apetência por cafés com maior proporção de arábica e um perfil de torra mais suave.

La Reserva de ¡Tierra! Cuba é um lote orgânico e premium, composto por 65% de Arábica Turquino Especial lavada, 25% de Robusta lavada e 10 % de Robusta fermentada, que torna o produto final mais doce e elegante. Um expresso equilibrado, com um corpo aveludado e notas de amêndoa, chocolate de leite e um doce retrogosto a vinho.

Por outro lado, hoje os clientes são mais informados e exigentes quanto à qualidade do café que consomem e querem ter a certeza de que o café que bebem é produzido de forma segura, justa e responsável. A tecnologia blockchain integrada no La Reserva de ¡Tierra! Cuba permite que o consumidor tenha acesso a informação completa sobre a cadeia produtiva e o produto, desde o cultivo até o momento do consumo.

Que áreas do canal Horeca antecipam que vão requisitar mais este novo lote?

Pedro Oliveira (PO): O cliente tipo do La Reserva de ¡Tierra! Cuba é tendencialmente um espaço premium, com um posicionamento sustentável e/ou orgânico, que procura diferenciar-se da concorrência na oferta e experiência que proporciona. Restaurantes de alta gastronomia, hotelaria premium, novos formatos do tipo Brunch & Coffee e padarias artesanais, estão entre os segmentos-alvo deste lote.

Enquanto distribuidores exclusivos da Lavazza em Portugal, no canal Horeca estamos muito satisfeitos por termos como primeiro cliente deste lote um espaço com estrela Michelin, o restaurante Vistas, do Chef Rui Silvestre, o que nos faz acreditar ainda mais que as características inovadoras e distintivas do La Reserva de ¡Tierra! Cuba o tornam num lote incontornável para espaços que primam pela excelência do produto que servem e da experiência que entregam.

Qual a percentagem do mercado português no negócio da Lavazza?

TS: Podemos afirmar que é um marcado em crescimento.

E quanto ao canal Horeca, que percentagem representa a nível nacional para a empresa?

TS: Apesar da operação da Lavazza em Portugal constituir, ainda, um mercado pequeno para a empresa, a mesma pretende consolidar-se no mercado nacional no segmento premium e projeta uma grande evolução em todos os canais de vendas e em particular no canal HoReCa, o canal com maior peso na operação portuguesa.

Porque centram a consolidação no segmento premium em Portugal?

TS: Não há em Portugal uma oferta para Horeca semelhante à da Lavazza no que respeita a produtos premium sustentáveis, sendo esta uma vantagem competitiva e o principal eixo de crescimento da marca. La Reserva de ¡Tierra! é uma gama de cafés sustentáveis composta por sete lotes de diferentes origens. Cada lote desta gama contém cafés de comunidades envolvidas em projetos de responsabilidade social, promovidos e geridos pela Fondazione Giuseppe e Pericle Lavazza Onlus. Atualmente, existem 33 projetos, que impactam mais de 180 mil cafeicultores, em 20 países e em três continentes.

Quais as previsões de crescimento neste canal em Portugal?

PO: A NewCoffee é desde há 15 anos distribuidor exclusivo da Lavazza no canal Horeca em Portugal. Em 2023 foi o primeiro ano completo em que os pontos de venda operaram dentro da normalidade, após o COVID e será, portanto, o ano em que voltaremos aos níveis normais de faturação da NewCoffee, perspetivando-se assim que fechemos o exercício com uma faturação acima dos níveis pré pandemia e resultados 3 vezes superiores aos obtidos em 2022. Em particular no caso da Lavazza estamos a crescer este ano 17%.

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