Desempenho do setor hoteleiro em 2024: um balanço positivo com desafios pela frente
“Olhando para o futuro, a expectativa é de um desempenho semelhante ao de 2024, com a hotelaria a consolidar-se como a segunda maior classe de ativos imobiliários, responsável por 20% a 25% do volume de investimento total. A crescente procura por destinos alternativos fora dos grandes centros urbanos e a entrada de novos investidores prometem sustentar o dinamismo do setor nos próximos anos”.

No que ao investimento diz respeito, o ano de 2024 foi marcado por uma performance robusta no setor hoteleiro em Portugal, apesar de ligeiramente abaixo do ímpeto registado em 2023. Com um volume de investimento imobiliário na hotelaria a ultrapassar os 500 milhões de euros em 2024, estamos perante uma demonstração de resiliência, mas sobretudo, da atratividade deste setor.
Esta atratividade tinha ficado bem patente num estudo realizado pela CBRE – “2024 European Hotel Investor Intentions Survey” – onde Portugal tinha reforçado a sua posição como um dos mercados mais atrativos para investimento no setor hoteleiro, tendo sido considerado o 7.º país da Europa mais atrativo para investir em hotelaria. Nesse mesmo estudo, 90% dos investidores referiram que planeavam manter ou aumentar o volume de investimento em turismo nos 12 meses seguintes. Foi ainda realçado que os investidores value-add eram os mais ativos, algo que se verificou quando olhamos às transações específicas de 2024 no nosso país.
Adicionalmente, ao contrário de 2023, que foi amplamente marcado pela transação do Grupo D. Pedro, o ano de 2024 concentrou-se na aquisição de ativos individuais de dimensão importante. Entre os destaques estão o Conrad Algarve, The Oitavos, Sofitel Lisboa, Marriott Praia D’el Rey e o Hotel do Caracol. Estes negócios evidenciam o interesse crescente por ativos hoteleiros espalhados por todo o território nacional, incluindo zonas menos tradicionais como os Açores. Ainda assim, os destinos consolidados de Lisboa, Porto, Algarve e Madeira, mantém-se no topo das prioridades dos investidores.
O ponto alto de 2024 foi, sem dúvida, a venda do resort Conrad Algarve à Quinta do Lago. Este negócio é considerado a maior transação de um ativo único na história do setor hoteleiro português. Localizado no prestigiado “Triângulo Dourado” do Algarve, o resort é gerido pela Hilton e conta com 154 quartos, 80 apartamentos, duas villas e seis restaurantes, incluindo um premiado com estrela Michelin. Esta aquisição representa mais um passo transformador do setor e reforça o dinamismo da região como um polo de investimento internacional.
Também em termos operacionais o ano foi muito interessante. Os preços médios diários (ADR) mantiveram uma evolução positiva, crescendo 6,5% nos primeiros dez meses do ano em relação ao mesmo período de 2023. Este aumento foi acompanhado por uma taxa de ocupação estável de 60%, semelhante aos níveis do ano anterior, o que demonstra a capacidade do setor de equilibrar preços elevados sem comprometer a procura. Este crescimento de preço e ocupação resultou num crescimento de 10,6% dos proveitos totais, que se encontram já mais de 50% acima dos números de 2019.
Contudo, os desafios persistem. Os custos de construção e a falta de recursos humanos continuam a ser os principais entraves para o crescimento sustentável do setor. De um ponto de vista macroeconómico, economias relevantes como Alemanha e França apresentaram abrandamentos importantes em 2023, o que poderá colocar alguns desafios em destinos específicos. Finalmente, a instabilidade geopolítica continua a configurar uma importante ameaça nos próximos meses.
Ainda assim, olhando para o futuro, a expectativa é de um desempenho semelhante ao de 2024, com a hotelaria a consolidar-se como a segunda maior classe de ativos imobiliários, responsável por 20% a 25% do volume de investimento total. A crescente procura por destinos alternativos fora dos grandes centros urbanos e a entrada de novos investidores prometem sustentar o dinamismo do setor nos próximos anos.
De uma forma geral, 2024 reafirmou o apelo do mercado hoteleiro português, com uma distribuição geográfica mais diversificada e um foco crescente em ativos individuais de alto valor. Com uma evolução consistente dos preços e uma ocupação estável, o mercado está bem posicionado para continuar a atrair investimento em 2025, desde que consiga superar os desafios estruturais que persistem.
*Artigo de opinião publicado originalmente na edição 223 da revista Publituris Hotelaria