Coworking e hotelaria: quando o quarto se cruza com o escritório
“O coworking representa uma oportunidade estratégica para os hotéis nacionais. Ao integrar esta oferta no seu conceito, podem rentabilizar espaços menos utilizados, atrair novos segmentos de clientes e reforçar a ligação à comunidade local”.

Uma mesa de trabalho bem iluminada, Wi-Fi rápido, café acabado de fazer e, ao fundo, uma piscina azul: esta poderia ser a descrição de um espaço de coworking num bairro criativo de uma grande capital europeia, mas é, na verdade, o cenário que cada vez mais hotéis – inclusivamente em Portugal – estão a oferecer. Estou convicta de que o fenómeno do coworking na hotelaria não é uma moda passageira: é uma resposta concreta às novas dinâmicas de trabalho e mobilidade, e os hotéis têm uma oportunidade de ouro para capitalizar estas mudanças.
À medida que o mundo se tornou mais flexível e os profissionais adquiriram mais mobilidade, trabalhar a partir de um hotel deixou de ser uma solução improvisada para se tornar uma escolha consciente. E Portugal, com o seu clima ameno, boas infraestruturas e excelente qualidade de vida, posiciona-se de forma privilegiada para acolher esta transformação, à boleia do crescimento dos profissionais remotos e nómadas digitais.
No contexto da hotelaria, apostar no coworking exige mais do que a simples disponibilização de uma mesa e uma boa ligação à internet. É essencial garantir uma infraestrutura robusta e recursos técnicos adequados, desde espaços ergonómicos e bem iluminados a salas de reunião equipadas, cabines para chamadas, rede Wi-Fi de alta velocidade e zonas de trabalho confortáveis e funcionais. Estas condições são fundamentais para atrair profissionais que valorizam a produtividade, a fiabilidade tecnológica e a qualidade do ambiente de trabalho. A experiência de coworking em contexto hoteleiro só se torna relevante quando estes requisitos são cumpridos de forma consistente e integrada no serviço global da unidade.
Mas o verdadeiro valor vai para além da infraestrutura. O que diferencia um coworking num hotel de um espaço tradicional é a hospitalidade. Uma equipa que sabe o nome dos seus clientes, que antecipa as necessidades e cria momentos de ligação informal faz toda a diferença. Tal como nos melhores serviços de hotelaria, a experiência de quem nos escolhe começa no detalhe – na forma como o cliente é recebido, no ambiente cuidadosamente desenhado, no café partilhado entre profissionais à volta de uma ideia.
Enquanto diretora-geral do Outsite Mouco, tenho procurado fomentar uma cultura de autonomia e empatia nas equipas, capacitando-as para agir de forma rápida e flexível, sem depender de cadeias hierárquicas rígidas. Seja para encontrar uma solução de última hora ou para ajustar o horário de permanência de um cliente que precisa de prolongar o seu período de trabalho, a resposta deve ser imediata e orientada pelas necessidades reais de quem nos procura. Esta agilidade só é possível num contexto de operação contínua – como é o caso de um hotel – e num modelo de serviço onde a hospitalidade é, verdadeiramente, o eixo central. O resultado é uma perceção clara, por parte do cliente, do valor acrescentado de trabalhar num espaço que combina funcionalidade, cuidado e atenção constante, como uma unidade hoteleira.
O coworking representa também uma oportunidade estratégica para os hotéis nacionais. Ao integrar esta oferta no seu conceito, podem rentabilizar espaços menos utilizados, atrair novos segmentos de clientes – como nómadas digitais, freelancers ou empresas com cultura de teletrabalho – e reforçar a ligação à comunidade local. É um modelo que responde à procura crescente por ambientes mais inspiradores, funcionais e humanos onde as pessoas possam trabalhar.
A era dos escritórios fixos e das reuniões em salas impessoais está a dar lugar a espaços com alma, onde o trabalho se faz com mais liberdade e mais envolvimento. Os hotéis que souberem criar essa experiência completa – onde se vive, trabalha e descansa – terão certamente um lugar de destaque neste novo ecossistema.