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Opinião

Como tornar o turismo atraente para trabalhar?

À medida que nos aventuramos na reconfiguração do turismo para torná-lo mais atrativo, inovador e sustentável, somos desafiados a reimaginar não apenas estratégias de recrutamento, mas a própria essência do que significa trabalhar nesta área. É hora de transformar a narrativa, de fazer do turismo um campo não apenas de oportunidades, mas de inspiração e propósito.

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Como tornar o turismo atraente para trabalhar?

À medida que nos aventuramos na reconfiguração do turismo para torná-lo mais atrativo, inovador e sustentável, somos desafiados a reimaginar não apenas estratégias de recrutamento, mas a própria essência do que significa trabalhar nesta área. É hora de transformar a narrativa, de fazer do turismo um campo não apenas de oportunidades, mas de inspiração e propósito.

Sobre o autor
Alexandra Ventura

Um ecossistema turístico resiliente depende da sustentabilidade e vitalidade dos seus recursos. Ainda que em fase de recuperação contínua pós-pandemia, o setor apresenta números animadores: de acordo com o Barómetro Mundial do Turismo 2024 da Organização Mundial do Turismo, o setor registou em 2023 um forte crescimento, com as chegadas internacionais a atingir 88% dos níveis de 2019, o que se traduziu em 1,3 mil milhões de turistas em todo o mundo. Paralelamente, é também evidente o crescimento do lado da oferta nos vários domínios, desde o alojamento ao entretenimento, passando pelo transporte.

Contudo, a escassez de recursos humanos qualificados assume um papel crítico que, não sendo novo, se tornou num dos importantes desafios do setor. Em 2022, na Europa, existiam mais de 1 milhão de postos de trabalho no Turismo por preencher (dados do World Travel and Tourism Council). Em Portugal, os números atingiram as dezenas de milhares, sendo a hotelaria e restauração as áreas tradicionalmente mais afetadas.

As razões desta falta de mão-de-obra são conhecidas e por isso os stakeholders anseiam por medidas inovadoras e transformadoras para mitigarem o problema, contribuindo para fomentar a atração, a retenção e o desenvolvimento de talentos no turismo.

Além das tradicionais características de vulnerabilidade do setor, novas tendências surgiram. Uma delas é a concorrência forte e crescente de outros setores em busca do talento, valorizando o skill set diversificado e facilmente transferível do capital humano do turismo, que, para além das competências técnicas e especializadas, apresenta aptidões sociais e interpessoais ao nível da inteligência emocional, comunicação e trabalho de equipa. Esta tem sido uma das variáveis que mais impacta e explica a elevada taxa de rotatividade e dificuldade de retenção de recursos no turismo.

As atuais motivações e necessidades da nova geração de recursos humanos (os gen Z’s) diferem das anteriores: são mais exigentes e impõem novos desafios à atratividade do setor – além da remuneração, procuram flexibilidade, equilíbrio entre vida profissional e pessoal, diversidade de opções de carreira, entre outros benefícios que contribuam para o seu bem-estar.

Neste contexto competitivo e de mudança para a transição verde e digital do turismo, torna-se urgente responder à questão “Como tornar o turismo atraente para trabalhar?”. A Estratégia Turismo 2035 para o turismo português será com certeza construída com base neste novo referencial e a Agenda Profissões do Turismo 2023-2026 já contemplava um conjunto de medidas e projetos que procuravam responder a esta questão.

É sem dúvida necessário abrir novas pools de recursos e captar os new-comers. Para que tal seja bem sucedido, é fundamental alterar a imagem, a percepção e a reputação do setor, agregando valor à carreira no turismo e tornando-a aspiracional.

A inovação é essencial, mas não se pode limitar à tecnologia: envolve processos, modelos de negócio, de trabalho, de colaboração, e políticas – que, por exemplo, flexibilizem modelos de contratação laboral e permitam rever as designações e categorias profissionais do setor, mas que também promovam programas de estágios remunerados mais atrativos.

Hoje temos evidências de que Portugal é um dos melhores destinos para estudar. Importa alavancar este excecional atributo para atrair mais alunos estrangeiros, da UE e fora dela, que pretendam estudar turismo em Portugal e também iniciar o seu percurso no mercado de trabalho no nosso país.

Para que isso seja possível, é necessário quebrar algumas barreiras que continuam a existir, começando por facilitar a mobilidade de estudantes, estagiários e candidatos qualificados a primeiro emprego entre países europeus e países terceiros – desde a simplificação da burocracia dos processos administrativos ao acesso a vistos e autorização de residência. O trabalho colaborativo contínuo entre o setor e a academia é outro aspeto determinante para que os processos de reskilling (aquisição de novas competências) e o upskilling (melhoria das competências existentes) respondam aos desafios não só da atração, mas também da retenção e desenvolvimento dos talentos no setor. Por fim, incentivar a diversidade e a inclusão no recrutamento pode também expandir a pool de candidatos, trazendo ao setor novas perspectivas e ideias, enriquecendo a cultura organizacional e o ambiente de trabalho.

À medida que nos aventuramos na reconfiguração do turismo para torná-lo mais atrativo, inovador e sustentável, somos desafiados a reimaginar não apenas estratégias de recrutamento, mas a própria essência do que significa trabalhar nesta área. É hora de transformar a narrativa, de fazer do turismo um campo não apenas de oportunidades, mas de inspiração e propósito. Ao abraçarmos a diversidade, a inovação e a flexibilidade, podemos não apenas atrair novos talentos, mas também cultivar uma nova geração de profissionais que veem o turismo como uma vocação, uma forma de vida que respeita o meio ambiente e enriquece a sociedade. Que possamos, de forma colaborativa, construir um futuro onde cada colaborador não apenas contribui para o setor, mas se sente parte integrante de uma história maior — a de um turismo que, mais do que um destino, é uma jornada de crescimento e transformação coletiva e que a ambição de tornar Portugal o melhor destino para estudar e trabalhar em Turismo seja uma realidade.

*Artigo de opinião publicado originalmente na edição 221 da revista Publituris Hotelaria

Sobre o autorAlexandra Ventura

Alexandra Ventura

Executive Director Nova SBE Westmont Institute of Tourism & Hospitality
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