Opinião

A Sustentabilidade: estratégia isolada ou cultura cooperativa?

A responsabilidade social corporativa (RSC) ressoa particularmente na hotelaria, onde as interações com as comunidades locais são significativas. Iniciativas que promovem o desenvolvimento económico das comunidades locais, mas também a qualidade de vida, podem ser um diferencial competitivo.

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A Sustentabilidade: estratégia isolada ou cultura cooperativa?

A responsabilidade social corporativa (RSC) ressoa particularmente na hotelaria, onde as interações com as comunidades locais são significativas. Iniciativas que promovem o desenvolvimento económico das comunidades locais, mas também a qualidade de vida, podem ser um diferencial competitivo.

Sobre o autor
Alexandra Ventura

Há muito que a sustentabilidade deixou de ser uma tendência para se tornar num imperativo no setor do turismo – e em particular na hoteleira.

A crescente consciencialização – ambiental e social – de todos os que viajam, aliada à pressão regulatória, impulsiona os estabelecimentos hoteleiros a adotar práticas mais responsáveis. Mas será que a sustentabilidade é só mais um adjetivo a ser adicionado ao portfólio dos hotéis ou representa uma verdadeira transformação do setor?

De acordo com um relatório recente da Deloitte, apenas 39% dos operadores hoteleiros acreditam que o incumprimento das questões de sustentabilidade representa um risco para o seu negócio nos próximos três anos.

Embora alguns operadores hoteleiros ainda possam considerar as iniciativas de sustentabilidade como um custo adicional (não só na fase de construção/reabilitação, como na operação), vários estudos mostram que a adoção de práticas sustentáveis tem um impacto positivo nos resultados financeiros. A implementação de práticas sustentáveis requer investimento inicial, mas os benefícios económicos a longo prazo são notáveis. Relatórios internacionais, como os da organização Sustainable Hospitality Alliance (2020), mostram que os hotéis que priorizam a sustentabilidade podem verificar uma redução de até 30% nos seus custos operacionais. Além disso, práticas como a gestão eficiente da água e a redução de desperdícios alimentares podem gerar economias substanciais.

A estratégia de sustentabilidade também abre novas linhas de receita. O mercado hoteleiro regista um aumento na procura por experiências autênticas, onde os viajantes estão dispostos a pagar mais por alojamentos que cumpram práticas sustentáveis e responsáveis. Este comportamento é evidenciado pelo “Global Sustainable Tourism Report 2023” (elaborado pela Organização Mundial do Turismo), que indica que os hotéis que implementaram práticas sustentáveis registaram um aumento de 12% nas receitas globais em comparação com os seus homólogos. Por outro lado, o “Sustainable Travel Report 2023”, realizado pela Booking.com, indica que 65% dos viajantes mencionou que se iria sentir melhor ao ficar num determinado alojamento caso este tivesse uma certificação de terceiros.

As certificações – como a ISO 14001 e 5001, Green Key, LEED, Travelife, EU Ecolable, Biosphere Sustainable, entre outras – tornaram-se verdadeiros selos de qualidade não apenas enquanto diferencial competititvo, mas como fonte de maior credibilidade e atratividade aos estabelecimentos.

Contudo, a interpretação e implementação da sustentabilidade não são uniformes: diferem entre países, regiões e até entre empresas, deixando no ar algumas questões sobre até que ponto alguns projetos podem ser considerados sustentáveis. Esta ambiguidade faz com que alguns hoteleiros acreditem ser suficiente cumprir os requisitos da vertente ambiental, enquanto outros vão muito além disso.

É aqui que surge a discussão sobre a vertente da sustentabilidade e onde provavelmente se concentram os maiores desafios – o terceiro pilar da sustentabilidade, focado no imperativo do respeito pelos direitos humanos, promoção da inclusão social e de igualdade de oportunidades, ou seja, na responsabilidade social.

A responsabilidade social corporativa (RSC) ressoa particularmente na hotelaria, onde as interações com as comunidades locais são significativas. Iniciativas que promovem o desenvolvimento económico das comunidades locais, mas também a qualidade de vida, podem ser um diferencial competitivo. O modelo de “turismo regenerativo” está a ganhar popularidade — onde o objetivo não é apenas minimizar os impactos negativos, mas também restaurar e fortalecer as comunidades locais.

Assim, levantam-se outras questões: como podem os hotéis em Portugal implementar este modelo e garantir que as suas práticas sustentáveis efetivamente beneficiam as comunidades locais? Como podem ser desenvolvidas ações de mitigação dos impactos negativos sobre os residentes? Estão os residentes a ser ouvidos e integrados nas estratégias e planos dos stakeholders do setor?

As pessoas são o ativo central – abrangem os profissionais que trabalham no setor, os clientes, mas também as populações residentes.

Um exemplo de boas práticas foi lançado em 2021 pelo Hyatt, denominado “World of Care”, baseado num sistema integrado que inclui programas de desenvolvimento pessoal e profissional dos colaboradores, promoção do seu bem-estar, programas de diversidade, equidade e inclusão, programas orientados para fornecedores locais e que representem minorias, programas de cooperação e desenvolvimento da comunidade, voluntariado, e iniciativas que envolvam os hóspedes diretamente com as comunidades locais.

Neste contexto, importa refletir sobre uma questão: será que a sustentabilidade se tornará numa cultura cooperativa ancorada numa verdadeira transformação do modelo de negócio dos hotéis ou apenas uma estratégia isolada? A resposta virá da forma como os futuros líderes da indústria enfrentarem estes desafios e abraçarem as oportunidades.

*Artigo de opinião publicado originalmente na edição 222 da revista Publituris Hotelaria

Sobre o autorAlexandra Ventura

Alexandra Ventura

Executive Director Nova SBE Westmont Institute of Tourism & Hospitality
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