Opinião: Não se fazem omeletes sem ovos
A opinião de José Varela Gomes, docente do ISAG – European Business School e co-coordenador da Licenciatura de Gestão Hoteleira
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Escrevo este artigo como ex-aluno da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto e como professor de diversas Escolas do Turismo de Portugal há mais de 20 anos e antigo colaborador do Instituto Nacional de Formação Turística.
As Escolas de Hotelaria e Turismo, hoje ditas do Turismo de Portugal, foram, até há uns anos, símbolo de ensino de excelência, como comprovam os excelentes profissionais lá formados.
As razões para tal sucesso deveram-se a vários fatores, a saber:
O modelo de formação adoptado e seguido, fortemente inspirado no modelo suíço, assente em critérios e vetores como o rigor profissional, uma forte componente técnica, a valorização de uma visão alargada das profissões treinadas e ensinadas. A este juntava-se um grau de exigência relativo a aspectos – hoje menos valorizados por alguns ao abrigo de uma “politicamente correcta” igualdade – como a apresentação pessoal dos alunos, a sua atitude profissional, compromisso para com o projecto de formação, entre outros.
O próprio modelo de funcionamento das escolas garantia um grau de autonomia e diversidade interessantes e adaptados a condicionantes regionais e locais, sem nunca se perder o objectivo mais alargado, que era a imagem do sector através dos seus profissionais.
No que tocava aos conteúdos ministrados nos diferentes cursos, dava-se prioridade as unidades curriculares que tinham como objetivos a aquisição de competências profissionais, através de aulas práticas e estágios, competências linguísticas, com aulas de inglês, francês e espanhol, e ainda de tecnologias de informação e organização, gestão e controlo das secções, claramente orientadas para um exercício profissional fortemente operacional.
Hoje tudo mudou.
A uniformização dos cursos ministrados pelas Escolas de Hotelaria, seguindo os mesmos referenciais da ANQEP (Agência Nacional para a Qualificação e o Ensino Profissional) – os mesmos que as Escolas Secundárias e Profissionais utilizam nos seus cursos – levou a que a diferenciação e complementaridade que existia entre as Escolas deixa-se de existir, nivelando todos por baixo.
Se a tudo isto se acrescentar os condicionalismos funcionais e orçamentais inerentes à gestão (possível) num organismo público (por exemplo, o Código de Contratação Pública, as sucessivas Leis do Orçamento e as famosas cativações do Ministério das Finanças) facilmente se conseguem perceber as enormes dificuldades experienciadas na operacionalização e gestão de uma Escola.
Sabemos que a atividade promocional do Turismo de Portugal continua a dar frutos na entrada de cada vez mais turistas em Portugal, mas é essencial que se garanta que esses turistas mantenham o alto grau de satisfação relativamente aos serviços turísticos que lhe serão prestados.
Para isso é fundamental que as Escolas de Hotelaria e Turismo de Portugal continuem a formar profissionais de excelência como já foram capazes, e para tal é justo e merecido que tenham ao seu alcance ferramentas e soluções de gestão adequadas ao seu propósito e necessidades específicas e diferenciadoras.
Tal como ainda não se fazem omeletas sem ovos, também as empresas do setor do turismo de qualidade não conseguem prestar serviços sem profissionais de qualidade.
José Varela Gomes
Docente do ISAG – European Business School e co-coordenador da Licenciatura de Gestão Hoteleira
*Publicado no formato imprenso da edição 205 da Publituris Hotelaria (maio de 2023)