“A nossa grande ambição é ser uma multinacional da hotelaria mundial”
osé Theotónio, CEO do Pestana Hotel Group, e José Roquette, administrador responsável pelo desenvolvimento, falam sobre a estratégia do grupo, que quer chegar a 2020 com presença em 20 países.
Patricia Afonso
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O Pestana Hotel Group é o maior grupo hoteleiro português e em franca expansão a nível internacional. Entre as várias marcas do grupo, são 11 as unidades em pipeline, das quais sete no estrangeiro [ler página 49]. José Theotónio, CEO, e José Roquette, administrador responsável pelo desenvolvimento, falam sobre o negócio do grupo, performance e expectativas.
Quanto é que vale o PHG?
José Theotónio [JT]: Duas coisas: Primeiro, não está à venda, pelo que não tem preço. A segunda é que a empresa não está cotada e, portanto, não tem valor de referência. Mas há alguns bancos que de vez em quando querem que nos cotemos e fazem umas avaliações, mas não são profundas, e os valores que nos apontam andam à volta dos mil milhões.
Agora, esta é uma avaliação empírica. Se alguém aparecer e oferecer esse valor, duvido que seja vendido.
Qual é a valorização desde que se associaram à marca CR7?
José Roquette [JR]: Sem querer desvalorizar esta associação, que está a dar os primeiros passos, tem um ano, não vou dizer que é zero, mas o Pestana começou há quase 50 anos, esta parceria é de quatro hotéis, o grupo tem quase 100. Dos quatro, só dois é que ainda estão em funcionamento. A parceria, hoje, ainda não tem significado algum sobre a valorização, digamos assim, do grupo. É uma marca nova, em lançamento. Se me perguntar se acredito que vai agregar muito valor no futuro, claro que sim, isso foi o que esteve na origem da decisão. Mas é completamente prematuro estar a medir isso hoje.
O que comentei há pouco tempo, e que tem a ver com o valor, é que acreditamos que no segmento específico destes hotéis, mais lifestyle, a marca agrega um valor aos hotéis que desenvolvemos que é difícil estimar, mas será entre 15 a 20%.
Achamos que a valorização ainda vai demorar uns anos, o maior hotel de todos, que é o de Nova Iorque, ainda está nas fundações.
Qual é a quota de mercado do Grupo Pestana?
JT: Saiu agora o Atlas da Deloitte e é de 5%, em Portugal. Nos outros mercados é mais pequena.
Este é um dos problemas na indústria em Portugal. Sendo o Grupo Pestana o líder e o segundo ter cerca de metade da nossa quota, mostra que este é um sector muito fragmentado. E neste sector é preciso a tal massa crítica para fazer alguns dos investimentos e a fragmentação da indústria é um dos problemas.
E qual é o objectivo num curto espaço de tempo. O que é que o vosso plano de negócios pressupõe?
JT: Em Portugal podemos estar a crescer, mas até mais através de joint-ventures e contratos de arrendamento, etc. Onde estamos a investir o nosso dinheiro para crescer e desenvolver a estratégia futura é internacionalmente.
Então vão continuar com o modelo de gestão em Portugal e de investimento em propriedade lá fora?
JT: É isso que estamos a fazer. Os investimentos lá fora é que estão a ser feitos com o nosso EBITDA, libertado pelas operações.
Qual é a mais valia neste modelo?
JR: É muito difícil competir com contratos de gestão lá fora. Se calhar é fácil se formos a mercados de 3ª importância, onde as grandes cadeias não vão porque não são muito interessantes. Mas nos que nos interessam, e o grupo tem presença em Londres, Berlim, vai ter em Madrid, entre outros, é muito difícil chegar e dizer ‘vou só fazer gestão aqui’ e ficar na fila. Ainda não é realista para a nossa marca.
Performance
Tem sido registada uma melhoria dos indicadores hoteleiros em Portugal. Como está o Pestana no que respeita ao preço médio, taxas de ocupação e demais indicadores?
JT: Em Portugal, todos os indicadores apontam para que realmente há uma procura em crescendo.
A estratégia do grupo tem sido de, nas alturas de época média, subir ocupações. E nas épocas altas, onde as ocupações já eram muito elevadas, temos conseguido fazer a subida de preço. Esta é, do nosso ponto de vista, muito positiva.
Quando comparamos os preços médios dos destinos portugueses com os preços médios dos destinos concorrentes – e o mais fácil e comparar Madeira com Canárias, o Algarve com o Sul de Espanha e Lisboa e Porto com Barcelona e Madrid – vemos que havia um ‘gap’ de preços muito grande e, nestes últimos dois anos, tem se conseguido vir a diminuir. Ou seja, Barcelona e Madrid continuam a ser mais caros que Lisboa e Porto e Canárias mais caras que a Madeira, mas a diferença que havia, que chegou aos 50% entre Lisboa e Barcelona, hoje já não é assim. Isto é uma valorização do produto que é nosso e é esta valorização que deve deixar mais valor acrescentado em Portugal e nas unidades portuguesas. É um caminho que é possível.
Tanto mais que esta subida de preço, algumasdelas substanciais em termos de preço médio, não se reflecte para todo o tipo de clientes. Ou seja, por exemplo, quando se diz que o preço médio subiu 20% de um ano para o outro, não foi para o cliente português, que já comprava directo, através de OTAs, site ou call center. Como a procura é maior, permitiu-nos que na gestão de canais eliminássemos aqueles segmentos que pagavam muito pouco. Assim, consegue-se ir buscar outros operadores ou canais que pagam mais caro. E isso é que faz subir o preço médio. Subir 20 ou 25% como se está a conseguir, não quer dizer que todas as pessoas estejam a pagar essa diferença, eliminaram-se foram as faixas mais low cost que havia na procura em Portugal.
E os preços nos segmentos em que a marca está dividida?
JT: Um fenómeno engraçado hoje, que é importante para Portugal também, tem sido que o sector mais de luxo, no nosso caso o Pestana Collection, que tem quatro unidades – Lisboa, Cidadela e duas no Porto –, tem sido exactamente onde se tem conseguido aumentar mais o preço. Na Pousada de Lisboa é exactamente a mesma coisa. É onde existem segmentos da procura disponíveis para pagar um preço mais elevado.
A nossa hotelaria já se faz pagar a um preço justo ou ainda estamos aquém do que devíamos?
JT: Quando comparamos o produto que temos com os nossos concorrentes e quando comparamos preços médios – mesmo na Madeira que tem vindo a subir à volta de 10/12% por ano, o que é bom -, acho que temos um caminho para percorrer, não somos um País que se esteja a vender caro.
JR: Comparando, por exemplo, as capitais europeias, às vezes não temos muito a noção disto, mas Lisboa, hoje, ainda está na terceira divisão. A primeira divisão é inatingível, estamos a falar de Paris, Londres e as duas cidades na Suíça que estão no topo do mercado.
A seguir, há uma segunda divisão de cidades muito fortes no turismo na Europa, que é Roma, Amesterdão, grandes cidades. Lisboa está, talvez, a passar para a segunda divisão, é mais ou menos o ‘camisola amarela’ da terceira. Dizemos isto e as pessoas dizem que é uma visão pessimista e para vermos o produto que temos. Ninguém está a falar na qualidade do produto, não estamos a dar a nossa opinião pessoal, estamos a dizer como é que o mercado avalia: taxa de ocupação e preço médio. É assim, não há outra forma, tudo o resto é muito subjectivo.
Hoje, estamos para aí em 13º ou 15.ºlugar no RevPar na Europa. Os primeiros lugares são inatingíveis, Paris e Londres.
Num cenário realista, onde é que Portugal pode ambicionar chegar?
JR: Se Lisboa estiver e conseguir manter-se no Top10 do RevPar é muito bom. Depois, começa a competir com cidades maiores. Neste momento, Lisboa tem uma posição superior a Madrid, mas julgo que é circunstancial e que Madrid vai recuperar. Mas depois, há Madrid, Barcelona, Roma, Milão, tantas cidades na Alemanha tão fortes, em Inglaterra a mesma coisa. Já nem estou a falar de Londres e Paris, mas cidades secundárias nesses países.
A concorrência na Europa é muito forte, Lisboa tem feito um progresso notável, mas é bom termos a noção desta realidade, estamos talvez a competir para entrar na segunda divisão.
Lá fora
E lá fora, como é que está a correr o negócio dos Pestana?
JT: Em termos operacionais, Londres está estabilizado. Tivemos uns primeiros anos que foram muitíssimo positivos, atingimos e superámos o que eram as nossas previsões muito rapidamente. Hoje está estabilizado, muito porque a cidade está a sofrer bastante, como outras capitais, mas na Europa talvez Londres e Paris sejam as que sofrem mais, com a concorrência dos apartamentos. Entraram muitos apartamentos no mercado, não só com operadores especializados como a Airbnb, mas com OTAs, nomeadamente a Booking, a comercializar muito este tipo de alojamento.
JR: Para se ter uma ideia, Paris já tem tantos apartamentos quantos quartos de hotel e Londres caminha para isso.
JT: Com isto, os hotéis em geral têm estado estabilizados. O desempenho é bom, mas estabilizado.
E em Berlim e Barcelona, e mesmo Miami, nos EUA, o que temos conseguido é fazer subidas graduais. Berlim já está a entrar em velocidade cruzeiro; Barcelona, este ano, está a ter uma evolução muito positiva. Estamos a entrar dentro daquilo que eram as previsões feitas para esta altura de vida destes hotéis. Na Europa e EUA, estamos bem.
Em África, estamos muito bem em São Tomé, que é um destino que tem crescido e se tem conseguido afirmar. Estamos mal em Moçambique, porque o hotel que temos é corporativo e com o arrefecimento da economia sofreu. Está agora a recuperar.
Mas planeiam sair de lá?
JT: Não.
JR: Vão sempre haver ciclos. O Brasil, por exemplo, esteve muito bem, agora está mal, depois vai recuperar.
JT: E na América do Sul é mesmo isso. A Argentina está a recuperar, veio de um ciclo mau, mas este ano está a melhorar muito. E o Brasil está a ver se consegue manter-se à tona, está num ciclo difícil.
E a Venezuela?
JT: Os nossos colaboradores, nomeadamente o nosso director-geral e a equipa, são uns verdadeiros heróis. Têm mantido o hotel sempre aberto e a funcionar, com uma colaboração fantástica. Para ter uma ideia, hoje [início de Agosto] temos dois pisos que já não são quartos, são dormitório para os colaboradores que não conseguem ir a casa e ficam a viver na unidade. Isto são as dificuldades inerentes a um clima muito difícil que existe na Venezuela.
Mas o hotel tem-se mantido, está a operar, não tem dívida, tem as contas pagas.
Vai haver desinvestimento em algum país?
JT: No Brasil vendemos dois hotéis, há dois anos, quando a economia arrefeceu. Com essa venda pagámos a dívida toda no país e agora estamos à espera de um novo ciclo.
JR: O segredo é sempre, creio eu, entrar no ciclo certo. Penso que tivemos, não sei se é essa sorte ou arte, se uma mistura com a coragem do nosso accionista, de entrar no Brasil num ciclo muito parecido com o que estamos a viver agora do ponto de vista económico, não político. Entrámos no fim de um ciclo em que o Brasil acreditou durante muitos anos na indexação do Real ao Dólar e, de um dia para o outro, desvalorizou a moeda para 1/3. Houve empresas portuguesas, como a PT, que entraram quando o Dólar era 1 Real e isto pode ser uma violência para o negócio. Nós tivemos a sorte de entrar num bom momento do ciclo, após este momento, e tivemos muito anos bons. Agora estamos a ter menos bons, mas certamente vai recuperar, ser uma grande economia e ter um futuro, ainda que turbulento, já faz parte.
Negócio
Com quantas camas e com que volume de negócios vão terminar 2017?
JT: A perspectiva era com 15 mil camas.
O Dr Theotónio disse há pouco tempo em entrevista que só após o mês de Agosto estar recebido é que se podem fazer as contas.
JT: As contas de Agosto são para resultados. Mas vamos terminar 2017 com cerca de 400M€ em volume de negócios e 15 mil camas.
Estamos a falar de crescimentos de…
JT: Estamos a falar em crescer à volta de 12%, o ano passado foram 360M€ de volume de negócios; e mais duas mil camas.
O vosso plano de negócios tem em vista 2020. Qual é a meta?
JR: Esta é uma meta evolutiva, vou falar nos mínimos que é o que já temos garantido e com o que estamos comprometidos. Digamos que a capacidade e a vontade de crescimento do nosso accionista são grandes. Se, por um lado, ele tem esta obsessão pelo rigor e estabilidade, por outro, tem esta vontade de crescimento.
Até 2020, temos no pipeline entre três mil e quatro mil quartos novos, este é o tal plano de negócios que significa, mais ao menos, 200 milhões de euros de investimento. Em termos muito indicativos e provisionais, vamos dizer que vai ter um impacto, na receita, entre 100 e 130 M€ a mais, e, depois, converterá, em resultados, entre 30 a 40M€ a mais. Estamos a falar que se todos estes projectos estiverem em funcionamento, teremos este impacto.
O grande objectivo continua a ser esta ideia da diversificação. Não podemos fugir aos ciclos, é inevitável, Londres foi o hotel mais rentável do grupo durante muitos anos, mas vem aí um Brexit, não sabemos o que vai acontecer. Pode ser terrível, pode não acontecer. É absolutamente imprevisível. O segredo, para um grupo que tem esta dimensão, é diversificar. Este plano de investimento, como dizia o José Theotónio, pretende distribuir a presença do grupo em geografias muito diferentes e fazer com que estejamos sempre preparados para atravessar os ciclos.
O Dr. Dionísio Pestana referiu que quer ter presença em 20 países até 2020. Em que fase é que estão?
JR: Vamos chegar lá. Vamos inaugurar a nossa presença na Holanda até ao final do ano. Há coisas que ainda não podemos revelar, mas acreditamos que também até ao final do ano teremos um projecto em mais uma capital europeia, num novo país.
As nossas duas grandes prioridades de desenvolvimento, agora, são as grandes cidades europeias e o plano de expansão nos EUA. Aqui, até que os hotéis de Nova Iorque e Newark estejam abertos, não vamos abrir mais nenhuma frente, porque temos ali um foco de investimento muito grande e muito trabalho.
Está a haver um pouco mais de dinâmica é na Europa, onde estamos sistematicamente a analisar projectos e, além desta capital europeia que ainda não podemos desvendar e de Amesterdão, estamos a analisar mais três ou quatro cidades de grande significado, que, depois, são projectos que podem acontecer num horizonte de dois a quatro anos. O crescimento na Europa vai continuar, mas vai ser lento.
Isto para dizer que 20 países é uma certeza até 2020.
Quando procuram financiamento vão à banca, investidores privados, estrangeiros? Qual é a percentagem de capitais próprios que investem?
JT: Em termos de capitais próprios, andamos sempre entre os 30 a 40% em cada projecto, é esta a alocação que fazemos e que tem sido positiva porque dá logo algum conforto, nomeadamente no início, quando alguns projectos, às vezes, têm mais dificuldade em atingir a velocidade cruzeiro.
Em termos de financiamento, temos utilizado várias fontes. Hoje em dia, conseguimos financiamento bancário, mesmo nos países onde investimos, que era uma coisa que ao princípio da internacionalização o grupo tinha menor dimensão e não conseguia.
JR: Amesterdão, por exemplo, é um projecto na Holanda, com parceiros holandeses, financiado por um banco holandês. Isto é uma novidade. Durante o período da troika, Portugal foi um bocado afectado, e o Grupo Pestana também, a nossa relação fundamental era com bancos portugueses e espanhóis, os países tiveram momentos muito difíceis e foi preciso diversificar também as relações com a banca.
JT: E cá em Portugal temos conseguido fazer outra coisa: em vez de fazer um financiamento directo no sistema financeiro, vamos ao mercado de dívida e temos conseguido fazer operações de emissão de obrigações que têm corrido bastante bem.
Tendo em conta a conjuntura económica e social que se vive, hoje em dia investem com a mesma segurança que há 20 anos?
JT: Em termos de empresa, está mais consolidada, quer pela experiência do accionista, que há 20 anos era mais pequena. Por outro lado, a forma como estruturou as equipas e a empresa, nos dias de hoje quando partimos para um projecto vamos com mais segurança e temos até outra capacidade de analisar os projectos. Nesse sentido, há mais segurança.
Por outro lado, não há dúvida que, hoje, o clima económico é muito mais incerto. E se o mundo é mais incerto, as empresas que querem continuar a crescer têm de viver com essa incerteza e esse nível de risco económico. Isso passa, depois, por contrabalançar isso com uma maior preparação.
É mais seguro investir em Portugal ou lá fora?
JT: Para nós, dentro desta lógica que é a diversificação, e como costumamos dizer internamente ‘não pôr os ovos todos no mesmo cesto’, é mais prudente fazer investimentos lá fora e ter esta estratégia de internacionalização, do que estar a concentrar mais em Portugal, que é um País que tem quatro destinos turísticos – o Algarve, a Madeira, Lisboa e o Porto –, pode ter outros emergentes, mas sempre pequenos.
Agora, quando analisamos projectos em Portugal, nos destinos que conhecemos e sabemos quem são os operadores e a concorrência, é muito mais fácil. À partida quase que conseguimos dizer se aquilo vai correr bem ou mal.
JR: Há aqui uma coisa interessante, é que estamos a fazer este raciocínio num excelente momento do nosso Turismo. Tenho a certeza que há cinco anos não faria esta pergunta, seria lógico investir lá fora. Isto tem, mais uma vez, a ver com o prazo, lembro-me de que já tivemos três intervenções do FMI em Portugal, tudo indica que há uma certa indisciplina crónica. Isto não tem nada a ver com política, é a nossa cultura, e, como tal, é provável que daqui a dez anos haja outra intervenção. Temos que saber como é o nosso País. As coisas podem melhorar e têm melhorado, mas não temos uma tendência natural para a disciplina e até nessa perspectiva, para um grupo que tem uma visão a longo prazo, há uma responsabilidade enorme. É um grupo português, a base é em Portugal, continuamos a ter a maioria da nossa facturação e dos colaborares aqui, mas a nossa grande ambição é talvez ser realmente uma multinacional da hotelaria mundial.
Já se falou aqui na Bolsa e a empresa não ser cotada. Qual é o futuro do grupo, ter mais accionistas, ir para bolsa?
JT: Essa pergunta tem de ser feita ao accionista, a perspectiva que tenho é de que, neste momento, o accionista, como está, com a evolução e as previsões da empresa, está a seguir o caminho que quer e idealizou e, por isso, não o estou a ver a ir para o mercado de capitais. Através de dívida, sim, temos ido, mas não através de cotação.
Nalguns mercado e produtos, fazemos joint-ventures, como fizemos para a nova marca e em alguns projectos no estrangeiro, mas são coisas muito específicas. Em termos daquilo que é o centro corporativo do Grupo Pestana não estou a ver que nos próximos três a cinco anos aconteça algo diferente.
JR: Para isso era preciso termos projectos tão grandes que não fossemos capazes de os gerir aqui, mas não é o caso. Temos o plano mais ambicioso de sempre, como disse o Dr. Pestana, e isso significa dois anos de resultados do grupo.
Como é que actualmente se divide a facturação do grupo?
JT: Mais ao menos 2/3 em Portugal e 1/3 lá fora. Portugal já teve menos, mas como está num ciclo positivo, com o mesmo número de unidades está a facturar mais. Lá fora tem havido alguma diminuição por causa da crise do Brasil, que, como país único, é o mais importante. Agora com Amesterdão, a Europa, num todo, é capaz de ultrapassar o Brasil.
JR: Não será o plano actual, mesmo sendo muito ambicioso, que vai inverter as coisas. Vai, obviamente, reforçar a parte internacional, mas Portugal vai continuar a ter a maioria das receitas.
Mas querem equilibrar isto?
JT: Sim, 50/50.
JR: A longo prazo, acho que era uma boa evolução.
Desafios
Qual é a região nacional e estrangeira mais atractiva para investir neste momento?
JR: Há o mais atractivo em geral para o mercado e o mais atractivo para o Grupo Pestana. Do ponto de vista da facilidade em encaixar na nossa equipa operacional mais unidades, obviamente que quer o Algarve, quer a Madeira, são áreas que estão quase em piloto automático, no sentido em que têm equipas optimizadas e em que é muito fácil ter mais um hotel, sobretudo com esta procura externa tão forte.
Penso que a região que, talvez, tenha levantado mais interesse são as cidades de Lisboa e do Porto. Julgo que Lisboa, esperamos nós, talvez se esteja a afirmar como uma capital europeia de referência para o investimento hoteleiro. Temos grandes cadeias internacionais que já olham para os números em Lisboa com um respeito, consideração e interesse que não acontecia. Talvez tenha sido a maior surpresa do nosso Turismo em termos de progressão, ultrapassou Madrid.
E é sustentável?
JR: A nossa resposta vai ser sempre um pouco enviesada na medida em que fazemos uma avaliação do ponto de vista de quem o conhece. Lisboa está exposta a mercados novos, nunca tínhamos tido franceses em Lisboa de uma forma tão significativa, o desafio é fidelizá-los. Acreditamos, quando compararmos com outras capitais europeias, que temos produto, não há razão para Lisboa não conseguir fidelizar esta nova procura internacional.
Mas é bom ter aqui alguma humildade, porque as outras cidades também estão a trabalhar.
Mas estamos a fazer o trabalho necessário?
JR: É uma muito boa pergunta. É sempre difícil nos momentos de maré alta fazermos o trabalho de casa. Penso que é muito do ser humano, e da nossa cultura em particular. Esse é um desafio para nós, como empresa, mas obviamente que os governantes e quem tem essa responsabilidade têm de se questionar o que está a ser feito e é preciso fazer.
Acho que um dos maiores desafios que vamos ter é a qualificação, que passa desde o táxi no aeroporto até ao empregado de mesa no hotel.
Mas temos uns mais imediatos, como é o caso do Aeroporto de Lisboa…
JR: Se for a Nova Iorque, quando for levantar voo, o seu avião vai ser o número 10 ou 15. Aqui é o número três, tem três aviões à sua frente. Isso é teórico. Se for ao aeroporto de Berlim, é muito pior que o de Lisboa e a Alemanha é só o país mais rico da Europa. Às vezes não somos capazes de fazer essa comparação, Lisboa não envergonha em relação aos principais aeroportos.
Não estou a dizer que está tudo bem, é preciso pensar e melhorar, mas há um lobby grande que quer dar como facto consumado que este aeroporto já não serve. E isso talvez não seja completamente real. O ideal é, talvez, fazer duas coisas: comparar com outros e perceber que há muito fluxo que passa por Lisboa e não fica cá. A pergunta a fazer é: vai-se investir uma loucura numa infra-estrutura para um volume de passageiros que passa pela cidade e não fica cá? O que é que se ganha com isso?
Julgo que o que está previsto, a Portela+1, vai resolver boa parte do problema. E depois, estamos em maré alta, não é a melhor altura para começar a pensar em investimentos megalómanos. Um dia vai haver um ciclo menos positivo, é inevitável.
Marcas
A segmentação das marcas está a cumprir aquilo a que se propuseram?
JT: Está. O nosso problema da segmentação é sempre que quando se tem sub-marcas é preciso investir em mais do que uma e, portanto, ter escala. Por isso é que o grupo resistiu tanto em fazer essa evolução. Acho que hoje, o que fizemos, foi positivo e o mercado entendeu bem. A evolução que está a ter, quer a nossa marca Collection, quer da nova que foi criada, que são hotéis claramente distintos, tem justificado que demos o passo na altura certa.
Qual é a mais rentável e a que tem mais potencial de desenvolvimento?
JT: O nosso core é o Pestana Hotels & Resorts. Em termos rentáveis, o grupo é muito heterogéneo, tem unidades muito pequenas, outras médias, até aos 90, 100 quartos, e, depois, tem hotéis muito grandes, de 500 e 600 quartos.
Se formos ver por quarto, é na marca Collection que estamos a fazer evoluções mais positivas, é onde temos os nossos produtos mais clássicos, como o Carlton, na Madeira; ou o Alvor Praia e o D. João, no Algarve. São produtos há muito no Pestana e a ter desempenhos fantásticos para os hotéis que são, obviamente que sofreram remodelações recentemente, mas têm continuado a provar o seu valor.
E em termos de desenvolvimentos de novos projectos?
JT: Estamos muito mais virados para os projectos das capitais europeias, é onde está o nosso maior esforço. Em Portugal estamos atentos e se houver oportunidades aproveitamos
JR: Cruzando isto com as marcas, a Collection, que cá está bastante forte e a brilhar, vai ter uma fatia importante do nosso plano de expansão, porque vamos ter um hotel em Amesterdão e outro em Madrid. Porventura, noutros sítios. A marca Pestana CR7 vai ajudar-nos a crescer fora, é mais para uso externo. É por isso que, a par deste crescimento, esta segmentação também veio ajudar a ordenar um pouco o crescimento internacional.
Pestana CR7
Falando na marca Pestana CR7, que balanço é que fazem desta associação, que fez recentemente um ano?
JR: É um balanço muito positivo. Há duas formas de olhar para isto: de uma forma mais fria, pelos números e os dois hotéis que existem vão fazer resultados muito próximos dos 2,5/3 milhões de euros este ano, o que já é muito bom. Talvez o indicador mais importante para nós, porque a marca também foi uma experiência e uma necessidade de o grupo sair da zona de conforto e tentar novos formatos, temos um índice de satisfação dos clientes que anda nos 90/91%. “Inventámos” um produto novo, um formato novo, com uma forma diferente de fazer e, para obter estes valores, devemos estar a fazer alguma coisa certa. É certo que também já fizemos erros e tivemos surpresas de coisas que nem imaginávamos. Há aqui também um lado associado de aprendizagem.
Isto obrigou-nos a repensar um pouco, o que, por si só, já é positivo. Depois, está a ajudar-nos a crescer fora com uma facilidade um pouco maior. E em termos de resultados financeiros concretos e da avaliação do cliente, também aparentemente está bem. Penso que tem sido uma aposta ganha, mas, usando a linguagem do futebol, ainda nem acabámos a primeira parte! (risos)
Quando é que abrem as unidades Pestana CR7 de Nova Iorque e de Madrid?
JR: Vão abrir entre o fim do ano que vem e o primeiro trimestre de 2019.
Na inauguração de Lisboa [há cerca de um ano], foi referido que estavam à procura de mais duas capitais europeias. Já encontraram?
JR: Estamos muito perto de concretizar mais uma capital europeia e continuamos em busca de outras, quer com esta marca, quer com outra.
Este é um trabalho com uma taxa de mortalidade muito grande. Para fazer um projecto numa capital europeia, temos que estudar uns 20 ou 30. Só há uma certeza: é que é só com este trabalho de fundo é que se chega lá e se fazem investimentos seguros.
Além dos EUA e Europa, planeiam levar a marca até mais algum mercado?
JR: Já se falou muito nisso. Não temos nenhuma presença na Ásia e existe sempre uma curiosidade muito grande, já fomos contactados por vários developers que querem fazer projectos em que talvez a marca se encaixasse, mas não passam de ideias. Eventualmente, um dia pode chegar essa possibilidade, mas neste momento temos aqui trabalho suficiente.
E novas marcas no grupo?
JR: Acho que nesta fase, não se pensa nisso. Tem a ver com a escala, as marcas só surgem com a escala.
JT: Só se quiséssemos entrar num segmento mais económico, das duas e três estrelas mais baixo, mas não há planos para isso. Para ser rentável neste segmento era preciso ganhar escala logo de início, há concorrentes muito fortes.
O programa Revive tem interesse para vocês?
JT: Estamos atentos. Dentro dos projetos que foram lançados, não fomos a nenhum. Mas alguns têm interesse dependendo do modo em que forem a concurso. Dos 20 e tal anunciados, há uma meia dúzia a que estamos atentos.